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Braz e Dionisio discutem o teatro
DANIELA ROCHA
enviada especial a Curitiba
Marco Antônio Braz, 30, e
Dionisio Neto,
25, dois novos
diretores teatrais presentes
no Festival de
Teatro de Curitiba, aceitaram fazer um encontro
para discutir suas opiniões sobre
teatro, a velha e a nova forma, suas
prioridades e discordâncias.
Os dois têm planos de fazer um
musical juntos. ``Falta aprofundar
esse gênero no Brasil'', diz Braz. O
tema pode ser futebol. Leia a seguir
trechos da conversa.
Marco Antônio Braz - Vamos começar falando das diferenças?
Dionisio Neto - Você acha que
tem a ver com a idade?
Braz - Acho que tem. Apesar de
eu ter 30 anos, sou um velho e dei
graças a Deus de sair da adolescência, uma fase doentia.
Dionisio - Acho que eu saí da
adolescência e só agora posso escrever sobre ela. Acho os adolescentes ricos, eles têm o que dizer.
Braz - Para mim, é como Nelson
Rodrigues dizia: ``Envelheçam''.
Fiquei imbuído de Nelson Rodrigues. Sem isso não poderia ter uma
relação autêntica com a obra.
Dionisio - Isso é muito claro no
que você faz. Você não monta simplesmente Nelson Rodrigues. Sua
obra tem uma leitura do Braz.
Folha - Dá para traçar o paralelo
neste momento: Nelson Rodrigues
é para Braz o que Gerald Thomas é
para Dionisio?
Dionisio - Sim.
Braz - Para mim, Nelson é genial.
Não o encaro apenas como dramaturgo. Ele foi um cara que pensou
esteticamente a realidade e conseguiu traduzir muitas verdades.
Dionisio - Eu com certeza compro as idéias do Gerald. A primeira
peça que vi na vida foi ``Electra
com Creta''. A partir daí, as obras
dele me influenciaram muito.
Braz - Mas você sabe inglês e tem
Internet...
Dionisio - Acho que isso é o que
importa e nunca vou fugir disso...
Braz - Eu sei, é que sou justamente o contrário.
Dionisio - Sou bisneto de índios,
isso é que é mais louco.
Folha - Braz é mais literário, enquanto Dionisio segue a trilha da
velocidade de informação?
Braz - Eu lido com a informação também...
Dionisio - E eu lido com a parte
literária também. Leio muito, faço
poemas e estou escrevendo um romance. Só que não me interessa
montar a literatura que já existe.
Interesso-me em dialogar com ela.
Folha - Já o trabalho do Braz não
segue um caminho pop...
Braz - Acho que sigo. Valderez
de Barros vive dizendo que eu sou
pós-moderno.
Dionisio - Tive uma educação pelo Antunes para ler, por exemplo,
o alfabeto do Kazuo Ono. Você
precisa aprender os códigos para
ler uma obra de arte.
Braz - Esse é um ponto em comum. Fazemos parte de uma geração sem preconceitos a posturas
estéticas. Se o trabalho é verdadeiro, a gente aplaude.
Dionisio - Nós dois temos duas
obras, eu, ``Perpétua'' e ``Opus'', e
você, ``Viúva, porém Honesta'' e
``Perdoa-me por me Traíres''. As
pessoas começam a comparar as
obras e dizem que uma é boa, outra não. Que artista no mundo é
100%? Não existe.
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