São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2001

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Cecília Meireles ganha "reino" em homenagem a seus cem anos

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir de hoje, quem visitar o Solar Grandjean de Montigny, no Rio, será recebido por Cecília Meireles em sua real dimensão.
Primeiro, pela reprodução em tamanho natural de uma foto da poeta, com flores nos braços, logo na entrada. E, em toda a casa, por outro aspecto de sua real grandeza, maior que o 1,68 m de sua silhueta: a sensibilidade humanista que marca seu pensamento e que é o eixo da mostra "O Reino da Poesia", até 16 de maio no local.
A exposição foi pensada pela historiadora da arte Piedade Grinberg e pela designer Fernanda Maria Correia Dias, para celebrar o centenário de Cecília Meireles (1901-1964), que se completa em novembro -as curadoras quiseram se adiantar a outros eventos, "para que as pessoas prestassem atenção", diz Piedade.
A mostra não reúne memorabilia da autora de "Romanceiro da Inconfidência" (1953). "Não tem a mesa em que ela escrevia, a cadeira", diz Fernandinha, como é mais conhecida a neta da poeta que organiza a mostra.
Para as curadoras, o importante era criar um ambiente íntimo e reflexivo para a homenagem -termo que as duas preferem usar ao qualificar a exposição. Conceberam o evento sem pretensões didáticas, buscando traduzir a delicadeza de sua obra.
Ao longo da escadaria que leva à casa, estão 14 manequins com versos da escritora: "E minha vida/ Está completa/ Não sou alegre/ Nem sou triste/ Sou poeta" [extraídos de "Motivo", poema do livro "Viagem", 1939".
Nas varandas da casa, panos transparentes trazem outros textos da escritora. No conjunto, mais poesia e algumas fotos e desenhos. "É tudo simples, usando xerox, preto e branco. A elegância dela estava na absoluta simplicidade", diz a neta de Cecília, ao entrar em uma sala redonda, no térreo, que abriga uma espécie de "autobiografia" da poeta: um espaço para textos e objetos que contam um pouco de sua vida.
Frisando que a poeta "não acreditava em biografias, ela dizia que a vida era como um jogo de cartas", Fernandinha ruma para o piso superior, onde outra sala redonda guarda a explicação de o que seria, afinal, o reino da poesia que dá nome à homenagem.
Frente a fotos suas e textos da poeta, Fernandinha conta que esse lugar imaginário existe no mapa: é a ilha de São Miguel, uma das nove do arquipélago português dos Açores, de onde vieram a avó e a mãe de Cecília.
A ilha aparece várias vezes na obra da escritora. Só uma vez, porém, ela esteve no território onde, diz, se poderia "recomeçar a vida em termos humanos" e cuja propriedade proclama em "A Ilha do Nanja", do livro "Ilusões do Mundo" [nanja é uma expressão de negação nos Açores". Foi na ocasião, uma visita oficial em 1951, que tomou-se a foto que, hoje, saúda os que adentram "O Reino da Poesia".


O REINO DA POESIA - textos, fotos e desenhos de Cecília Meireles. Curadoria: Piedade Grinberg e Fernandinha Correia Dias.
Onde: Solar Grandjean de Montigny (r. Marquês de São Vicente, 225, Rio, tel. 00/xx/21/529-9380).
Quando: hoje, às 20h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 13h às 18h.
Quanto: grátis.




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