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SHOW/CRÍTICA
Djavan rodopia entre o músico certeiro e o sedutor barato
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O final de semana passado
foi de catarse no palco do DirecTV Music Hall, e a cena deve
voltar a se repetir amanhã, quando começa a segunda das três semanas de temporada do músico
alagoano Djavan, 54, na casa.
Lotada de mulheres, a platéia
protagoniza segundo show, dessa
vez de adoração, aqui e ali quase
de histeria. Cinquentão, Djavan é
o terror de garotas das mais variadas idades, de pós-adolescentes a
senhorinhas.
À saída de um dos shows, uma
das fãs exaltadas que estiveram,
suplicantes, na boca do palco no
bis, descreve e justifica espontaneamente o fenômeno: "Ele seca a
mulherada, dá a mão, olha no
olho, dá a mãozinha, sorri, faz cara de tarado...".
Ou seja, elas morrem de emoção. Até mesmo quando ele canta
que "quem sofre de véspera é peru", entre outros versos constrangedores da sofrível "Que Foi My
Love" (96).
E, nesse contexto, a música, que
é a atividade lucrativa e criativa de
Djavan, vira show à parte, fundo
de cena para um jogo erótico em
que o astro rodopia, mostra premeditadamente o abdome, anda
na ponta dos pés, faz cara de mocinho sem dono. Tudo é de um
desajeito sem par, mas é isso mesmo que faz a loucura de uma legião de fãs sem par.
Cria-se um paradoxo de bom
tamanho, porque quase todo
mundo sabe que Djavan é belo
harmonizador, excelente músico,
cantor de domínio, e no entanto
não é nada disso que cria o estado
agudo de empatia que movimenta seu show.
"Se..." (92), aquela em que ele
lamenta o fato de a moça "não decidir se dá ou não", é uma de suas
grandes canções, caso raro na
MPB de tema sofisticado que se
ampara em temática loucamente
popular e emocional. As moças
cantam e gritam, pena que não
exatamente por causa da sofisticação melódica de "Se...".
Outros exemplares de pura sofisticação arrancam suspiros
cheios de segundas intenções: "A
Rota do Indivíduo (Ferrugem)"
(92), as novas "Milagreiro" (apesar da doída ausência de Cássia
Eller) e "Ladeirinha"...
Movido por banda familiar e
desocupada dos dotes jazzísticos
que fizeram a fama (e o sucesso,
será?) do disco "Ao Vivo", de 99,
Djavan desfila seus deslizes lado a
lado com aquelas anteriores, e... a
moçada grita, apaixonada.
Aí não importa se o papo é aranha ("um dia frio/ um bom lugar
pra ler um livro/ e o pensamento
lá em você", corcoveia em "Nem
um Dia", de 96), se a canção é arrastada e morna (a nova "Cair em
Si", "Mal de Mim", 89), se a poesia
é descuidada ("Eu te Devoro", 98,
que parece escrita sob medida para galanteios baratos)...
Seja lá ou cá, Djavan seduz, e isso hoje em dia compõe sua figura
artística de forma indissociável.
O perigo, de que esse artista não
devia padecer nunca, é que o oba-oba tome a cena e seus shows musicais venham a se tornar "reality
shows", em que o protagonista
salta, joga malabares, assovia e
chupa cana, em espetáculo pirotécnico -e a música (ou o sexo
real, o que dá no mesmo) se
amortece, zunindo lá no fundo.
Seria desperdício, porque afinal
de contas Djavan vive, com "Milagreiro", um momento musical
forte, que talvez não acontecesse
desde o inspiradíssimo "Coisa de
Acender" (92). É tanta coisa para
pensar ao mesmo tempo...
Avaliação:
MILAGREIRO - show de Djavan. Onde:
DirecTV Music Hall (av. dos Jamaris, 213,
SP, tel. 0/xx/11/5643-2500). Quando:
amanhã e sáb., às 22h, e dom., às 20h
(até 28/4). Quanto: de R$ 35 a R$ 80.
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