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Projeto busca recuperar partituras de Villa-Lobos
Academia Brasileira de Música pretende captar R$ 1,6 mi para edição e digitalização
Obras não editadas ou em manuscrito estão na lista da entidade, que também fará concertos para lembrar os 50 anos da morte do músico
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Criada por Villa-Lobos, em
1945, a Academia Brasileira de
Música quer celebrar o cinqüentenário de morte de seu
fundador, no ano que vem, com
um projeto ambicioso: a edição
crítica e a digitalização de suas
partituras para orquestra, cujo
mau estado dificulta a divulgação do trabalho do compositor.
Ainda em fase de captação de
recursos, a iniciativa prevê
duas etapas, orçadas, respectivamente, em R$ 1,6 milhão e R$
800 mil. Cada uma delas é
constituída do restauro de partituras de Heitor Villa-Lobos
(1887-1959) e da realização de
concertos comemorativos.
O trabalho será coordenado
pelo maestro Roberto Duarte,
que restaurou a "Floresta do
Amazonas", última grande partitura de Villa-Lobos. Na lista
do projeto, há obras ainda não
editadas, ou em manuscrito, ou
que precisam de uma completa
revisão musicológica.
Entram aí algumas das peças
mais significativas do compositor, como os concertos para diversos instrumentos, os choros, os bailados, poemas sinfônicos, sinfonias e a ópera "Yerma", baseada em Garcia Lorca.
"O material de orquestra é precário e, em conseqüência, as orquestras não querem tocar",
afirma Duarte. "Há erros não só
de copistas, mas do próprio Villa-Lobos, que compunha compulsivamente e, em conseqüência, acabava deixando passar pequenas coisas."
Embora a francesa Max Eschig, detentora de boa parte das
obras do compositor, diga ignorar o problema ("É a primeira
vez que ouvimos falar disso",
diz Nelly Querol, diretora geral
da editora), o regente Carl St.
Clair sentiu as dificuldades na
pele quando, em 1999, decidiu
fazer a primeira gravação integral das sinfonias do compositor. O selo alemão CPO lançou
o último CD do ciclo neste ano.
"Às vezes, a partitura de orquestra estava errada; às vezes,
eram as partes dos instrumentos que haviam sido copiadas
de maneira inadequada", diz o
maestro, que estima em "centenas" os problemas em cada
uma das obras. "Lembro de receber 25, 30 páginas de errata
só para uma sinfonia."
Editoras
"Enquanto vivo, Villa-Lobos
contratou a edição de suas
obras com várias editoras, que
são cessionárias de direitos autorais", diz Marisa Gandelman,
advogada da ABM e idealizadora do projeto. "As edições foram contratadas por transferência de direitos: o próprio
compositor mantém consigo só
o direito de receber durante o
prazo de proteção da obra parte
dos rendimentos gerados pelas
utilizações de seu trabalho." A
contrapartida do editor é produzir os rendimentos, pela publicação, comercialização, edição e oferta de partituras.
Embora haja queixas generalizadas sobre os editores não
cumprirem o trato, a ABM quer
evitar conflitos: fechou um
acordo com as casas detentoras
das obras do compositor, e vai
ceder a elas os arquivos da nova
edição, para que, daqui por
diante, quando um intérprete
requerer uma partitura de Villa-Lobos, receba um material
em condições adequadas de
performance.
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