São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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Projeto busca recuperar partituras de Villa-Lobos

Academia Brasileira de Música pretende captar R$ 1,6 mi para edição e digitalização

Obras não editadas ou em manuscrito estão na lista da entidade, que também fará concertos para lembrar os 50 anos da morte do músico

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Criada por Villa-Lobos, em 1945, a Academia Brasileira de Música quer celebrar o cinqüentenário de morte de seu fundador, no ano que vem, com um projeto ambicioso: a edição crítica e a digitalização de suas partituras para orquestra, cujo mau estado dificulta a divulgação do trabalho do compositor. Ainda em fase de captação de recursos, a iniciativa prevê duas etapas, orçadas, respectivamente, em R$ 1,6 milhão e R$ 800 mil. Cada uma delas é constituída do restauro de partituras de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e da realização de concertos comemorativos.
O trabalho será coordenado pelo maestro Roberto Duarte, que restaurou a "Floresta do Amazonas", última grande partitura de Villa-Lobos. Na lista do projeto, há obras ainda não editadas, ou em manuscrito, ou que precisam de uma completa revisão musicológica.
Entram aí algumas das peças mais significativas do compositor, como os concertos para diversos instrumentos, os choros, os bailados, poemas sinfônicos, sinfonias e a ópera "Yerma", baseada em Garcia Lorca. "O material de orquestra é precário e, em conseqüência, as orquestras não querem tocar", afirma Duarte. "Há erros não só de copistas, mas do próprio Villa-Lobos, que compunha compulsivamente e, em conseqüência, acabava deixando passar pequenas coisas."
Embora a francesa Max Eschig, detentora de boa parte das obras do compositor, diga ignorar o problema ("É a primeira vez que ouvimos falar disso", diz Nelly Querol, diretora geral da editora), o regente Carl St. Clair sentiu as dificuldades na pele quando, em 1999, decidiu fazer a primeira gravação integral das sinfonias do compositor. O selo alemão CPO lançou o último CD do ciclo neste ano.
"Às vezes, a partitura de orquestra estava errada; às vezes, eram as partes dos instrumentos que haviam sido copiadas de maneira inadequada", diz o maestro, que estima em "centenas" os problemas em cada uma das obras. "Lembro de receber 25, 30 páginas de errata só para uma sinfonia."

Editoras
"Enquanto vivo, Villa-Lobos contratou a edição de suas obras com várias editoras, que são cessionárias de direitos autorais", diz Marisa Gandelman, advogada da ABM e idealizadora do projeto. "As edições foram contratadas por transferência de direitos: o próprio compositor mantém consigo só o direito de receber durante o prazo de proteção da obra parte dos rendimentos gerados pelas utilizações de seu trabalho." A contrapartida do editor é produzir os rendimentos, pela publicação, comercialização, edição e oferta de partituras.
Embora haja queixas generalizadas sobre os editores não cumprirem o trato, a ABM quer evitar conflitos: fechou um acordo com as casas detentoras das obras do compositor, e vai ceder a elas os arquivos da nova edição, para que, daqui por diante, quando um intérprete requerer uma partitura de Villa-Lobos, receba um material em condições adequadas de performance.


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