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Cinema/estréias - Crítica/"Quebrando a Banca"
Drama envolvendo matemática utiliza equação desequilibrada
Sucesso nos EUA, longa busca público teen ao abordar estudantes e professor que ganham dinheiro em Las Vegas
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Não é difícil entender
por que uma produção
modesta como "Quebrando a Banca", com um elenco quase todo jovem e desconhecido -à exceção de Kevin
Spacey-, conseguiu se manter
por dois fins de semana consecutivos no topo das bilheterias
americanas.
Inspirado no livro-reportagem homônimo de Ben Mezrick, o filme conta como um
grupo de estudantes, liderados
por um professor de matemática (Spacey), usou a excepcional
habilidade com números para
ganhar muito dinheiro em Las
Vegas. É uma forma clássica,
devidamente atualizada, do ancestral desejo da juventude de
"derrotar o sistema" ("beat the
system", expressão exaustivamente repetida) -mas esse desejo aparece esvaziado de qualquer política e preenchido por
interesses bastante práticos e
imediatos.
Roteiro e direção de "Quebrando a Banca" procuram eliminar riscos, escorando-se em
fórmulas consagradas. O que se
busca é uma espécie de identificação a qualquer custo do público jovem -aquele que, hoje,
lota os multiplex- com o protagonista Ben (Jim Sturgess).
Um pouco como Harry Potter,
ele é, ao mesmo tempo, um garoto comum e excepcional.
Basta trocar a varinha de condão por um QI acima da média.
E seu objetivo é nobre: Jim sonha estudar medicina em Harvard, mas não tem dinheiro para pagar o curso. Como seus
personagens, o diretor Robert
Luketic bola uma estratégia para eliminar a surpresa do jogo.
A divisão do roteiro em três
atos bem definidos é tão evidente que chega a incomodar.
No fundo, porém, a equação é
desequilibrada. A trama demora demais a decolar, empacada
pelos falsos dilemas éticos do
protagonista e a construção do
suspense se esvazia por um
motivo simples: a previsibilidade é a regra.
Estamos bem longe, portanto, da diversão assumida de
"Onze Homens e um Segredo",
ou da exploração da paisagem
onírica de "No Fundo do Coração" -para citar duas obras que
usam o mesmo cenário. E o resultado, estranhamente, é um
filme que parece ainda mais artificial que Las Vegas.
QUEBRANDO A BANCA
Produção: EUA, 2008
Direção: Robert Luketic
Com: Jim Sturgess e Kevin Spacey
Onde: estréia hoje nos cines Bristol, TAM e circuito
Avaliação: regular
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