São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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Cinema/estréias - Crítica/"Quebrando a Banca"

Drama envolvendo matemática utiliza equação desequilibrada

Sucesso nos EUA, longa busca público teen ao abordar estudantes e professor que ganham dinheiro em Las Vegas

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Não é difícil entender por que uma produção modesta como "Quebrando a Banca", com um elenco quase todo jovem e desconhecido -à exceção de Kevin Spacey-, conseguiu se manter por dois fins de semana consecutivos no topo das bilheterias americanas.
Inspirado no livro-reportagem homônimo de Ben Mezrick, o filme conta como um grupo de estudantes, liderados por um professor de matemática (Spacey), usou a excepcional habilidade com números para ganhar muito dinheiro em Las Vegas. É uma forma clássica, devidamente atualizada, do ancestral desejo da juventude de "derrotar o sistema" ("beat the system", expressão exaustivamente repetida) -mas esse desejo aparece esvaziado de qualquer política e preenchido por interesses bastante práticos e imediatos.
Roteiro e direção de "Quebrando a Banca" procuram eliminar riscos, escorando-se em fórmulas consagradas. O que se busca é uma espécie de identificação a qualquer custo do público jovem -aquele que, hoje, lota os multiplex- com o protagonista Ben (Jim Sturgess). Um pouco como Harry Potter, ele é, ao mesmo tempo, um garoto comum e excepcional.
Basta trocar a varinha de condão por um QI acima da média.
E seu objetivo é nobre: Jim sonha estudar medicina em Harvard, mas não tem dinheiro para pagar o curso. Como seus personagens, o diretor Robert Luketic bola uma estratégia para eliminar a surpresa do jogo.
A divisão do roteiro em três atos bem definidos é tão evidente que chega a incomodar.
No fundo, porém, a equação é desequilibrada. A trama demora demais a decolar, empacada pelos falsos dilemas éticos do protagonista e a construção do suspense se esvazia por um motivo simples: a previsibilidade é a regra.
Estamos bem longe, portanto, da diversão assumida de "Onze Homens e um Segredo", ou da exploração da paisagem onírica de "No Fundo do Coração" -para citar duas obras que usam o mesmo cenário. E o resultado, estranhamente, é um filme que parece ainda mais artificial que Las Vegas.


QUEBRANDO A BANCA
Produção:
EUA, 2008
Direção: Robert Luketic
Com: Jim Sturgess e Kevin Spacey
Onde: estréia hoje nos cines Bristol, TAM e circuito
Avaliação: regular


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