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Crítica/"Viva Zapatero!"
Filme vê fascismo em Berlusconi
No estilo de Michael Moore, diretora Sabina Guzzanti acusa premiê de favorecer institucionalização
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Em relação a "Viva Zapatero!", é preciso ter
duas vistas distintas e
complementares. Do ponto de
vista cinematográfico, a direção de Sabina Guzzanti parece
ter uma relação direta com a de
Michael Moore. Ambos são autores e personagens, permitem
que um se contagie do outro.
O caráter incisivo de suas intervenções leva a quase obrigatoriamente questionar essa
forma: até que ponto a realidade não é adaptada à conveniência dos documentaristas?
Diga-se a favor de Guzzanti,
em todo caso, que ela diz de que
ponto fala. Ela não se pretende
uma observadora neutra. É
contra Berlusconi que se coloca, isto é, contra o acúmulo de
um poder que é econômico, midiático e, por fim, político.
O segundo ponto de vista é
político. Berlusconi é um homem riquíssimo, dono de canais privados de TV na Itália,
tornou-se um político central
na história recente italiana. Nunca foi
acusado de ser excessivamente
escrupuloso.
Sabina Guzzanti, comediante, tinha um programa satírico
na RAI (TV estatal italiana), tirado do ar por ordem de Berlusconi. Boa parte do filme consiste em demonstrar como esse
gesto simboliza, de certa forma,
a tomada por Berlusconi de um
poder quase absoluto. Guzzanti
o faz com energia suficiente para colocar na defensiva mais ou
menos toda a direção da RAI.
Há alguns dias, o ex-ministro
Rubens Ricupero escreveu na
Folha um artigo em que comentava o "suicídio da esquerda", representado pelo assassinato de Aldo Moro. À luz do documentário de Sabina Guzzanti, pode-se, na verdade, perguntar se foi apenas a esquerda a vítima do homicídio praticado
pelas Brigadas Vermelhas.
Antes dela, Nanni Moretti já
havia colocado o assunto em
pauta. A subida de Berlusconi
corresponderia a um processo
de degeneração da democracia
italiana que envolve não só o
poder político, mas também o
midiático. Moretti atribuía a
decadência do cinema italiano
a Berlusconi (a decadência o
precedeu, na verdade).
Guzzanti acusa-o formalmente de favorecer a institucionalização, por meios quase
mafiosos de um pensamento
único, pela substituição dos
executivos da RAI, pela demissão dos jornalistas mais brilhantes (e independentes) da
organização, pela pressão exercida sobre os jornalistas de menor destaque etc.
Tudo o que se diz nesse documentário é sujeito a comprovação por outras fontes. O que
não impede que a experiência e
a documentação de Guzzanti
sejam matéria de reflexão. Os
indícios ali existentes de ascensão de um novo fascismo são
muitos e inquietantes.
VIVA ZAPATERO!
Produção: Itália, 2005
Direção: Sabina Guzzanti
Onde: estréia hoje no Reserva Cultural
Avaliação: bom
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