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Centenário refaz trajetória de Flexor
Um dos pioneiros da abstração no Brasil, artista romeno é lembrado em mostras em cidades européias, além de SP, Rio e BH
Moradores de casa que servia como antigo ateliê em Paris descobriram tela que retrata mulher grávida e que pode vir ao Brasil
GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
Considerado um dos introdutores da pintura abstrata no
Brasil, Samson Flexor (1907-1971) tem seu centenário de
nascimento comemorado, com
um ano de atraso, por mostras
que se estendem até o ano que
vem em ao menos oito cidades
na Europa e no Brasil.
Até o próximo dia 25, a Embaixada do Brasil em Paris
apresenta uma mostra sobre o
artista numa seqüência que
procura refazer o percurso de
lugares importantes na vida do
pintor: Moldova, Romênia, Bélgica, França e Brasil -onde viveu a partir de 1948 e, em 1951,
fundou o Ateliê Abstração.
"É um projeto meio megalomaníaco que está dando certo",
diz André Flexor, filho do artista, coordenador das atividades
do centenário e curador da
mostra em Paris. A exposição
reúne 27 trabalhos em aquarela, a maior parte deles das décadas de 40 e 50, com algumas
obras do fim da vida -fase em
que retomou a figuração.
Judeu convertido ao cristianismo, Flexor nasceu numa pequena cidade na Bessarábia,
antiga parte da Romênia e hoje
pertencente à Moldova.
"No começo, a idéia era fazer
comemorações aqui no eixo
França/Bélgica e no Brasil.
Nunca pensei no lado de lá, na
parte leste", contou André. A
mudança de planos veio a partir de um convite da Embaixada
do Brasil na Romênia.
"Papai falava muito pouco
desse período e não me ocorria
retomar essa origem. A partir
desse convite do Fernando Klabin [embaixador em Bucareste], acabamos organizando
mostras nas capitais dos dois
países, Bucareste e Kichinev.
Foi uma experiência muito impressionante e a recepção foi
surpreendente", diz. Antes de
Paris, os trabalhos foram exibidos em Bruxelas.
Pela dificuldade logística e financeira do transporte de
obras, as exposições na Europa
foram estruturadas em torno
da coleção da família e de amigos próximos. A partir de agosto, mostras maiores de Flexor
acontecem em outras cidades
brasileiras.
"Alguns colecionadores ficaram com medo de emprestar
obras para uma mostra na Moldova por questões ligadas ao
risco do transporte e à alfândega." A ironia vem do fato de que,
em 1958, boa parte dos trabalhos do Ateliê Abstração foi retida e perdida pela alfândega
brasileira quando retornava de
mostra em Nova York.
Paris figura então como centro de formação e juventude, cidade onde o pintor estudou a
partir de 1924, participou de salões e conviveu com figuras
centrais do modernismo, como
Matisse e Léger. Recentemente, os atuais moradores do antigo ateliê de Flexor em Montrouge -bairro na periferia sul
da cidade- encontraram a tela
"Tatiana Grávida", esquecida
por mais de 15 anos no sótão da
casa. Trata-se de um retrato da
primeira mulher de Flexor, que
morreu no parto em 1933.
"Ela está muito frágil, não sei
se vou conseguir levá-la para as
exposições no Brasil." Ao desmontar uma outra obra da moldura, André encontrou ainda,
bem escondido na parte de trás,
o desenho de um nu feminino.
"Um traseiro enorme", diverte-se o filho do pintor. De algum
modo, a prática do catolicismo
e a adoração do corpo feminino
conviviam bem na figura de
Samson Flexor.
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