São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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Centenário refaz trajetória de Flexor

Um dos pioneiros da abstração no Brasil, artista romeno é lembrado em mostras em cidades européias, além de SP, Rio e BH

Moradores de casa que servia como antigo ateliê em Paris descobriram tela que retrata mulher grávida e que pode vir ao Brasil

GABRIELA LONGMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Considerado um dos introdutores da pintura abstrata no Brasil, Samson Flexor (1907-1971) tem seu centenário de nascimento comemorado, com um ano de atraso, por mostras que se estendem até o ano que vem em ao menos oito cidades na Europa e no Brasil.
Até o próximo dia 25, a Embaixada do Brasil em Paris apresenta uma mostra sobre o artista numa seqüência que procura refazer o percurso de lugares importantes na vida do pintor: Moldova, Romênia, Bélgica, França e Brasil -onde viveu a partir de 1948 e, em 1951, fundou o Ateliê Abstração.
"É um projeto meio megalomaníaco que está dando certo", diz André Flexor, filho do artista, coordenador das atividades do centenário e curador da mostra em Paris. A exposição reúne 27 trabalhos em aquarela, a maior parte deles das décadas de 40 e 50, com algumas obras do fim da vida -fase em que retomou a figuração.
Judeu convertido ao cristianismo, Flexor nasceu numa pequena cidade na Bessarábia, antiga parte da Romênia e hoje pertencente à Moldova.
"No começo, a idéia era fazer comemorações aqui no eixo França/Bélgica e no Brasil. Nunca pensei no lado de lá, na parte leste", contou André. A mudança de planos veio a partir de um convite da Embaixada do Brasil na Romênia.
"Papai falava muito pouco desse período e não me ocorria retomar essa origem. A partir desse convite do Fernando Klabin [embaixador em Bucareste], acabamos organizando mostras nas capitais dos dois países, Bucareste e Kichinev. Foi uma experiência muito impressionante e a recepção foi surpreendente", diz. Antes de Paris, os trabalhos foram exibidos em Bruxelas.
Pela dificuldade logística e financeira do transporte de obras, as exposições na Europa foram estruturadas em torno da coleção da família e de amigos próximos. A partir de agosto, mostras maiores de Flexor acontecem em outras cidades brasileiras.
"Alguns colecionadores ficaram com medo de emprestar obras para uma mostra na Moldova por questões ligadas ao risco do transporte e à alfândega." A ironia vem do fato de que, em 1958, boa parte dos trabalhos do Ateliê Abstração foi retida e perdida pela alfândega brasileira quando retornava de mostra em Nova York.
Paris figura então como centro de formação e juventude, cidade onde o pintor estudou a partir de 1924, participou de salões e conviveu com figuras centrais do modernismo, como Matisse e Léger. Recentemente, os atuais moradores do antigo ateliê de Flexor em Montrouge -bairro na periferia sul da cidade- encontraram a tela "Tatiana Grávida", esquecida por mais de 15 anos no sótão da casa. Trata-se de um retrato da primeira mulher de Flexor, que morreu no parto em 1933.
"Ela está muito frágil, não sei se vou conseguir levá-la para as exposições no Brasil." Ao desmontar uma outra obra da moldura, André encontrou ainda, bem escondido na parte de trás, o desenho de um nu feminino. "Um traseiro enorme", diverte-se o filho do pintor. De algum modo, a prática do catolicismo e a adoração do corpo feminino conviviam bem na figura de Samson Flexor.


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