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TEATRO CRÍTICA
'Tedium vitae' contamina encenação de 'Vânia'
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
São todos infelizes, dizem e repisam ser infelizes. "Tio Vânia", de
Tchecov, retrata, talvez mais que
um tempo de tédio, de "tedium
vitae" como vai a expressão, um
tempo de infelicidade.
Num fim de século em que ideais
haviam caído sem que outros se
erguessem no lugar, até os mais vigorosos, os que ainda trazem alguma empolgação de juventude, se
vêem tomados. E se deixam levar
pela inação, o torpor.
O velho professor diz, no final:
"É preciso produzir". Mas é quase
uma auto-ironia, certamente uma
hipocrisia, do aposentado que vai
viver da produção de outros. Que
trabalham sem perspectiva de felicidade, eles também.
Serebriakov, o professor que vive das glórias duvidosas do passado, Vânia, que anulou sua existência em favor de tal glória duvidosa,
Ielena, a jovem mulher de Serebriakov que suprime a esperança
de paixão -e felicidade- por
uma pureza auto-indulgente. Eles
e outros se arrastam por intrigas
que não se completam, num mundo sem saída.
Mas eles se arrastam também, é
preciso dizer, na encenação sem
ritmo deste "Tio Vânia".
A montagem ganhou coerência,
desde a estréia em Curitiba. A iluminação trabalhada, algumas mudanças de marcação e cenário,
uma firmeza maior nas atuações
-foi o bastante para compor um
segundo ato (da encenação) coeso, de qualidade.
Mas a infelicidade ainda segue
mais falada, descrita, do que vivida. Renato Borghi, a partir do momento em que seu Vânia vê Ielena,
que acordou nele uma paixão tardia, com Astrov, mergulha em
tristeza verdadeira.
Também Abraão Farc, talvez a
atuação mais estável, constante da
peça, com seu parasita Peneira,
atinge um limite em que deixa a
comédia pela tragicomédia e desaba, vencido na tristeza.
Mas no mais se nota uma busca
quase individual, de caminhos que
não se cruzam, por Mariana Lima,
Leona Cavalli, Luciano Chirolli,
Wolney de Assis. São bons atores
que parecem não dialogar, eles
próprios. Uns tentam furar a
quarta parede, outros se fecham
nela. Uns abrem-se ao arrebatamento, outros o recusam.
"Não existe um contato puro, livre, imediato", ouve-se a certa altura da peça, no que mais parecia
uma piada sobre as interpretações.
Falta uma direção, no sentido de
um caminho único para todos, capaz de integrar e fazer crescer os
esforços isolados.
A falta de ritmo de "Tio Vânia"
pode ser melhor representada pelos semiblecautes para troca de cenário. São raros no palco hoje,
porque desnecessários -ao público ainda mais descrente deste
outro fim de século.
Peça: Tio Vânia
Quando: qui a sáb, às 21h; dom, às 20h
Onde: TBC (r. Major Diogo, 315, tel.
604-5523)
Quanto: R$ 12
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