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SHOW/CRÍTICA
Caetano se
aproxima
da "música
impopular"
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
Caetano Velso pode ser acusado de muitas coisas, mas
mesmo tendo se comparado a
Zagallo, será difícil chamá-lo
de retranqueiro. Vestido à João
Gilberto (a ponta da gravata a
tatear-lhe a braguilha) e sob
um móbile grosseiro inspirado
em Calder, ele estreou o show
"Livro Vivo" em São Paulo anteontem revelando simpatia pela "música impopular".
Das duas passagens lidas de
seu "Verdade Tropical", uma
fala do interesse de Augusto de
Campos (ele leu apenas "Augusto") em difundir Stockhausen.
Assim, foi coerente ao abortar
a tentativa do público em acompanhá-lo em "Terra", enxertando interrupções, uma percussão
estridente e escondendo por vezes a melodia, o que já era sugerido na insólita formação de sua
banda, sem destaque para instrumentos de "meio-campo"
como baixo e violão (discretíssimos) e piano (ausente).
Se "Livro" esboça essa impopularidade -a razão talvez de
ser o mais chato de toda a discografia de Caetano-, "Livro Vivo" apenas funciona como demonstração da incorreção da tese estapafúrdia do compositor,
que vê redenção na axé music.
Ora, manter quatro percussionistas baianos no palco, dando-lhes enorme destaque na
equalização, não é fazer axé. Peça para Netinho defenestrar seu
tecladista para ver se sobrevive.
Mas o cantor poderia mesmo
jogar na retranca, fiar-se em seu
velho repertório, mesclar moderadamente suas novas canções. Se não conseguiu harmonizar a seção percussiva com os
sopros, pelo menos levou a sério
a proposta. Os cacos de "Odara"
e "London, London" causam
mais efeito que a enésima interpretação de "Sampa".
Há problemas em querer tornar-se "impopular". Primeiro,
pode-se afirmar que Caetano jamais foi popular, e seu projeto,
portanto, seria mero capricho.
O outro problema é lançar
mão de Djavan, o definitivo
aproximador do pop com a excelência musical brasileira. Ao
cantar "Linha do Equador",
Caetano buscava, ainda que inconscientemente, o perdão,
abraçando o que poderia haver
de mais redentor no pop feito
no Brasil e chutando para longe
sua homenagem a "Augusto".
Show: Livro Vivo
Artista: Caetano Veloso
Onde: Palace (al. dos Jamaris, 213,
Moema, tel. 011/531-4900)
Quando: qui, às 21h30; sex e sáb, às
22h; dom, às 20h; até dia 3 de maio
Quanto: R$ 20 a R$ 60
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