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Reputação é a de melhor filarmônica do mundo
DA REPORTAGEM LOCAL
A Filarmônica de Berlim é
um fenômeno relativamente
recente na história do sinfonismo alemão. Foi criada em 1882,
ou 101 anos depois da Gewandhaus de Leipzig e 54 depois da
Filarmônica de Hamburgo.
Uma das explicações para
sua reputação de "melhor orquestra do mundo" está nos
vínculos que ela inicialmente
manteve com a elite cultural
prussiana. Tornou-se, em Berlim, a tradutora de seu elevado
padrão estético.
Seu terceiro diretor musical,
Hans von Büllow (1887-1893),
não encontrou dificuldades
materiais para recrutar grandes instrumentistas alemães,
impor-lhes uma dura disciplina e obter um raro nível musical.
A história mundana foi pouco
generosa com Büllow. Genro de
Liszt, sua mulher, Cosima, o
abandonou para se casar com Richard Wagner, de quem ele foi,
aliás, um dos regentes preferidos.
O também compositor Richard
Strauss (1893-1895) complementaria o trabalho. Não concebia
uma orquestra dividida entre naipes que transportam a linha melódica e outros reduzidos ao mero
acompanhamento. Tirou as lições
do wagnerianismo para "reler" os
clássicos do período.
Viria em seguida Arthur Nikisch (1895-1922). Não era um
erudito. Mas foi talvez o mais intuitivo e -para seu tempo- ousado dos grandes maestros do século. Com ele, em 1913, Berlim
gravou seu primeiro disco, uma
"Sinfonia nº 5", de Beethoven.
Seguiu-se Wilhelm Furtwaengler (1922-1945), que, em 1933,
com o 3º Reich, aceitou o expurgo
dos músicos judeus e impôs à orquestra um lamentável conservadorismo no repertório. Mas se
tratava de um músico singular e
genial. Talvez o primeiro a fornecer um aprofundado "por detrás
da partitura", que Beethoven ou
Brahms apenas insinuavam.
O vazio criado pelo nazismo
permitira, nos anos 30, a rápida
emergência de um jovem e talentoso regente austríaco chamado
Herbert von Karajan. Ele venceu
numa disputa interna Sergiu Celibidache -ex-diretor da orquestra nos três anos em que Furtwaengler foi mantido no purgatório pelas tropas aliadas- e assumiu o comando da orquestra entre 1955 e 1989.
Karajan transformou Berlim
numa grife discográfica. A popularização do LP, a aparição da estereofonia e, em seguida, a dos
CDs magnificavam a sonoridade
de um sinfonismo nas mãos de alguém que se via também como
um mágico engenheiro de som.
A eleição de Claudio Abbado
-os regentes são escolhidos pelos músicos- significou para
Berlim a abertura para um projeto de ousadia (na escolha dos autores modernos e na obtenção de
um novo narrativismo lírico) que
o regente italiano só em parte executou. O maestro foi prejudicado
pela crise no mercado discográfico erudito e pela reputação de
menos exigente na disciplina interna de seus músicos.
(JBN)
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