São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reputação é a de melhor filarmônica do mundo

DA REPORTAGEM LOCAL

A Filarmônica de Berlim é um fenômeno relativamente recente na história do sinfonismo alemão. Foi criada em 1882, ou 101 anos depois da Gewandhaus de Leipzig e 54 depois da Filarmônica de Hamburgo.
Uma das explicações para sua reputação de "melhor orquestra do mundo" está nos vínculos que ela inicialmente manteve com a elite cultural prussiana. Tornou-se, em Berlim, a tradutora de seu elevado padrão estético.
Seu terceiro diretor musical, Hans von Büllow (1887-1893), não encontrou dificuldades materiais para recrutar grandes instrumentistas alemães, impor-lhes uma dura disciplina e obter um raro nível musical.
A história mundana foi pouco generosa com Büllow. Genro de Liszt, sua mulher, Cosima, o abandonou para se casar com Richard Wagner, de quem ele foi, aliás, um dos regentes preferidos.
O também compositor Richard Strauss (1893-1895) complementaria o trabalho. Não concebia uma orquestra dividida entre naipes que transportam a linha melódica e outros reduzidos ao mero acompanhamento. Tirou as lições do wagnerianismo para "reler" os clássicos do período.
Viria em seguida Arthur Nikisch (1895-1922). Não era um erudito. Mas foi talvez o mais intuitivo e -para seu tempo- ousado dos grandes maestros do século. Com ele, em 1913, Berlim gravou seu primeiro disco, uma "Sinfonia nº 5", de Beethoven.
Seguiu-se Wilhelm Furtwaengler (1922-1945), que, em 1933, com o 3º Reich, aceitou o expurgo dos músicos judeus e impôs à orquestra um lamentável conservadorismo no repertório. Mas se tratava de um músico singular e genial. Talvez o primeiro a fornecer um aprofundado "por detrás da partitura", que Beethoven ou Brahms apenas insinuavam.
O vazio criado pelo nazismo permitira, nos anos 30, a rápida emergência de um jovem e talentoso regente austríaco chamado Herbert von Karajan. Ele venceu numa disputa interna Sergiu Celibidache -ex-diretor da orquestra nos três anos em que Furtwaengler foi mantido no purgatório pelas tropas aliadas- e assumiu o comando da orquestra entre 1955 e 1989.
Karajan transformou Berlim numa grife discográfica. A popularização do LP, a aparição da estereofonia e, em seguida, a dos CDs magnificavam a sonoridade de um sinfonismo nas mãos de alguém que se via também como um mágico engenheiro de som.
A eleição de Claudio Abbado -os regentes são escolhidos pelos músicos- significou para Berlim a abertura para um projeto de ousadia (na escolha dos autores modernos e na obtenção de um novo narrativismo lírico) que o regente italiano só em parte executou. O maestro foi prejudicado pela crise no mercado discográfico erudito e pela reputação de menos exigente na disciplina interna de seus músicos.
(JBN)


Texto Anterior: Enfim no Brasil
Próximo Texto: Repertório representa a orquestra
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.