São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Von Trier abandona Dogma em "Dancer in the Dark"

DO ENVIADO A CANNES

"D ancer in the Dark" (Dançarino no Escuro) tem a sorte de que um filme não precisa ser bom para tornar-se "cult". Björk o protagoniza e escreveu as principais canções. Catherine Deneuve está a seu lado. Lars von Trier o dirige em seu primeiro trabalho após o lançamento do movimento Dogma 95, aqui mesmo em Cannes, com "Os Idiotas" (1998). Sai o discurso (e a produção) de ruptura, entra a celebração dos musicais hollywoodianos. Tudo misturado, a fórmula não funciona, mas pouco importa: eis um fracasso que vai dar muito o que falar.
Em essência, "Dancer" tem tudo a ver com o penúltimo filme de Von Trier, "Ondas do Destino" (1995). Ambos são variações modernas em torno do melodrama, com toques de cultura pop. Em "Ondas", o pop restringia-se à precisa trilha de baladas. Aqui, é como se o pop contaminasse o melodrama, com Björk como protagonista e os musicais americanos como referência central.
Von Trier exercita-se no que seria uma variação trágica do gênero que Hollywood popularizou sob a forma cômica. Björk interpreta Selma, uma imigrante tcheca na América de Eisenhower. Fã da arte de Gene Kelly e Fred Astaire, Selma sofre de uma doença que lhe consome a visão.
Seus amigos contam-se nos dedos: a colega de fábrica Kathy (Deneuve), o candidato a namorado Jeff (Peter Stormare), o vizinho policial que lhe aluga o trailer onde vive (David Morse). Um deles vai traí-la, acionando a inexorável máquina trágica.
O parentesco com "Ondas" é até maior no estilo que no entrecho. Predomina a inquieta câmera na mão, repete-se a edição aos pulos, nenhuma trilha comenta a ação. Se há música, é por meio de números musicais, de extravagâncias filmadas com cem videocâmeras a um solo final a capela.
Não faltam motivos para "Dancer" ter resultado tão monótono e pouco convincente -e a limitação de Björk, em sua estréia em longas, nem é o mais importante deles. O enredo é previsível e inverossímil. Os números musicais são de um amadorismo constrangedor. Vai-se a Palma, ficam o culto e a polêmica. Ou o culto à polêmica. Ou vice-versa. Ninguém explora Cannes com tanta competência quanto Von Trier. (AL)



Texto Anterior: Escolha o cult da estação
Próximo Texto: "Cecil B. DeMented" declara guerra a Hollywood
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.