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Von Trier abandona Dogma em "Dancer in the Dark"
DO ENVIADO A CANNES
"D ancer in the Dark"
(Dançarino no Escuro)
tem a sorte de que um filme não
precisa ser bom para tornar-se
"cult". Björk o protagoniza e escreveu as principais canções. Catherine Deneuve está a seu lado.
Lars von Trier o dirige em seu primeiro trabalho após o lançamento do movimento Dogma 95, aqui
mesmo em Cannes, com "Os
Idiotas" (1998). Sai o discurso (e a
produção) de ruptura, entra a celebração dos musicais hollywoodianos. Tudo misturado, a fórmula não funciona, mas pouco
importa: eis um fracasso que vai
dar muito o que falar.
Em essência, "Dancer" tem tudo a ver com o penúltimo filme de
Von Trier, "Ondas do Destino"
(1995). Ambos são variações modernas em torno do melodrama,
com toques de cultura pop. Em
"Ondas", o pop restringia-se à
precisa trilha de baladas. Aqui, é
como se o pop contaminasse o
melodrama, com Björk como
protagonista e os musicais americanos como referência central.
Von Trier exercita-se no que seria uma variação trágica do gênero que Hollywood popularizou
sob a forma cômica. Björk interpreta Selma, uma imigrante tcheca na América de Eisenhower. Fã
da arte de Gene Kelly e Fred Astaire, Selma sofre de uma doença
que lhe consome a visão.
Seus amigos contam-se nos dedos: a colega de fábrica Kathy
(Deneuve), o candidato a namorado Jeff (Peter Stormare), o vizinho policial que lhe aluga o trailer
onde vive (David Morse). Um deles vai traí-la, acionando a inexorável máquina trágica.
O parentesco com "Ondas" é até
maior no estilo que no entrecho.
Predomina a inquieta câmera na
mão, repete-se a edição aos pulos,
nenhuma trilha comenta a ação.
Se há música, é por meio de números musicais, de extravagâncias filmadas com cem videocâmeras a um solo final a capela.
Não faltam motivos para "Dancer" ter resultado tão monótono e
pouco convincente -e a limitação de Björk, em sua estréia em
longas, nem é o mais importante
deles. O enredo é previsível e inverossímil. Os números musicais
são de um amadorismo constrangedor. Vai-se a Palma, ficam o
culto e a polêmica. Ou o culto à
polêmica. Ou vice-versa. Ninguém explora Cannes com tanta
competência quanto Von Trier.
(AL)
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