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"Cecil B. DeMented" declara guerra a Hollywood
DO ENVIADO A CANNES
D esce o Dogma 95, de Vinterberg, Von Trier e companhia, sobe a guerrilha cinematográfica de John Waters. "Cecil B.
DeMented" é até aqui o filme
mais provocativo de Cannes 2000.
Durante uma pré-estréia beneficente, um grupo de cineastas
terroristas sequestra a estrela
hollywoodiana Honey Whitlock
(Melanie Griffith). O objetivo é
torná-la protagonista de um novo
marco do cinema underground.
Cecil B. DeMented (Stephen
Dorff) é o líder e diretor.
Armas e câmera em punho, Cecil e gangue filmam Honey tomando salas de cinema, interrompendo coletivas de burocratas dos estúdios, invadindo as filmagens de "Gump Again"
(Gump Outra Vez), a hipotética
continuação de "Forrest Gump".
Na linha de Patricia Hearst (que,
aliás, aparece numa ponta), Honey sofre, mas acaba identificando-se com seus raptores.
Autodenominados "celibatários do celulóide", renunciam ao
sexo durante as filmagens. Cada
membro da equipe traz tatuado o
nome de seu ídolo independente.
Waters homenageia assim Almodóvar, William Castle, Werner
Fassbinder, Samuel Fuller, Spike
Lee, Gordon Lewis, David Lynch,
Sam Peckimpah, Otto Preminger
e Andy Warhol.
Hollywood é o inimigo. A guerra é contra os produtores de refilmagens americanas de sucessos
estrangeiros, de filmes baseados
em videogames, de preguiçosas
sequências de séries.
Waters não teme dar nome aos
bois. Um treino de tiro ao alvo é
feito com um livro sobre o diretor
de "Lawrence da Arábia", David
Lean. Uma ação terrorista exige
cortes numa pretensa "versão do
diretor" para o recente "Patch
Adams", estrelado por Robin Williams. Um esvaziado cinema com
seis salas apresenta em metade
delas "Guerra nas Estrelas" e, nas
restantes, "Jornada nas Estrelas".
"Cecil B. DeMented" é o filme
mais politicamente incorreto do
festival. Jovens usam armas e
bombas sem qualquer culpa. Um
dos guerrilheiros considera um
avanço seu vício em drogas pois
"concentrou seus problemas num
só". A misoginia mal se disfarça.
A idéia é muito melhor que o
desenvolvimento, mas essa fábula
anti-hollywoodiana é o filme-manifesto da vida de John Waters.
Ninguém foi mais certeiro neste
festival.
(AL)
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