São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2000


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"Cecil B. DeMented" declara guerra a Hollywood

DO ENVIADO A CANNES

D esce o Dogma 95, de Vinterberg, Von Trier e companhia, sobe a guerrilha cinematográfica de John Waters. "Cecil B. DeMented" é até aqui o filme mais provocativo de Cannes 2000.
Durante uma pré-estréia beneficente, um grupo de cineastas terroristas sequestra a estrela hollywoodiana Honey Whitlock (Melanie Griffith). O objetivo é torná-la protagonista de um novo marco do cinema underground. Cecil B. DeMented (Stephen Dorff) é o líder e diretor.
Armas e câmera em punho, Cecil e gangue filmam Honey tomando salas de cinema, interrompendo coletivas de burocratas dos estúdios, invadindo as filmagens de "Gump Again" (Gump Outra Vez), a hipotética continuação de "Forrest Gump". Na linha de Patricia Hearst (que, aliás, aparece numa ponta), Honey sofre, mas acaba identificando-se com seus raptores.
Autodenominados "celibatários do celulóide", renunciam ao sexo durante as filmagens. Cada membro da equipe traz tatuado o nome de seu ídolo independente. Waters homenageia assim Almodóvar, William Castle, Werner Fassbinder, Samuel Fuller, Spike Lee, Gordon Lewis, David Lynch, Sam Peckimpah, Otto Preminger e Andy Warhol.
Hollywood é o inimigo. A guerra é contra os produtores de refilmagens americanas de sucessos estrangeiros, de filmes baseados em videogames, de preguiçosas sequências de séries.
Waters não teme dar nome aos bois. Um treino de tiro ao alvo é feito com um livro sobre o diretor de "Lawrence da Arábia", David Lean. Uma ação terrorista exige cortes numa pretensa "versão do diretor" para o recente "Patch Adams", estrelado por Robin Williams. Um esvaziado cinema com seis salas apresenta em metade delas "Guerra nas Estrelas" e, nas restantes, "Jornada nas Estrelas".
"Cecil B. DeMented" é o filme mais politicamente incorreto do festival. Jovens usam armas e bombas sem qualquer culpa. Um dos guerrilheiros considera um avanço seu vício em drogas pois "concentrou seus problemas num só". A misoginia mal se disfarça.
A idéia é muito melhor que o desenvolvimento, mas essa fábula anti-hollywoodiana é o filme-manifesto da vida de John Waters. Ninguém foi mais certeiro neste festival. (AL)



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