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ARTES CÊNICAS
Autor fecha trilogia do "gênero" com "Só as Gordas São Felizes", que estréia hoje no Sesc Ipiranga, em SP
Celso Cruz cria estranhamento com "teatro trash"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir de uma idéia-piada, o
"teatro trash", aquele que se ergue
da pindaíba, de recursos precários, bem-ajambrados numa estética que não se quer necessariamente pior, a coisa ganhou corpo
na USP, alcançou um mestrado e
caminha para um doutorado.
Virou "gênero" recortado na
teoria e na prática por Celso Cruz
em "Só as Gordas São Felizes",
terceira ponta da trilogia precedida por "Licurco - Os Olhos de
Cão" e "Sexo Oral", peças de 2004.
O espetáculo, também com direção de Cruz, inicia hoje temporada no Sesc Ipiranga.
Na acepção do paulistano Cruz,
39, há 15 anos no ofício, "trash
theater é um teatro feito a partir
dos escombros e temas e estéticas
contemporâneas, centrado na
abordagem da violência, da exclusão, da solidão e da loucura nas
grandes cidades".
Dois médicos compartilham cela destinada a criminosos com
formação superior. Eles não se
tratam por nomes. Em cerca de 50
minutos, Um (interpretado por
Guilherme Freitas) e Outro (Dill
Magno) deixam vir suas histórias.
A comicidade instaura risos nervosos. Há algo de infantil e insano
na forma como, aos poucos, rememoram os crimes com os
quais mancharam seus aventais
brancos. Um esquartejou a mulher. Outro abusou de crianças-pacientes. São episódios retirados
das páginas dos jornais, mas com
resquícios da figura do "serial killer" da TV ou do cinema.
"A peça fala do absurdo da razão, de limites quebrados", diz
Cruz. E também é impregnada de
absurdos. Situações e diálogos
afins. O autor tem profunda atração pela obra do irlandês Samuel
Beckett (1906-89). Ainda movem
a criação de "Só as Gordas São Felizes" os ventos da dramaturgia
inglesa contemporânea, Edward
Albee à frente, com "Três Mulheres Altas" (falas entrecortadas,
personagens sem nome etc.).
Aliás, durante sua escrita, Cruz
participou de intercâmbio no Royal Court Theatre, centro londrino de referência dramatúrgica.
Boa parte de "Só as Gordas São
Felizes" foi gestada em aulas com
o pesquisador teatral Renato Cohen (1956-2003), para quem a
montagem é dedicada.
Após a boa colhida no Fringe,
mostra paralela do Festival de
Teatro de Curitiba, a montagem
foi escalada para o Festival Internacional de Teatro de São José do
Rio Preto, em julho.
Só as Gordas São Felizes
Quando: qua., às 21h; hoje a 6/7
Onde: Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822,
tel. 0/xx/11/ 3340-2000)
Quanto: R$ 4
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