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60º Festival de Cannes
Fincher revê passado em filme sobre "serial killer"
"Zodíaco" tem boa recepção crítica no festival
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
"É estúpido dizer nunca", diz
o cineasta norte-americano
David Fincher, que havia prometido a si mesmo "nunca mais
fazer um filme sobre um assassino em série", desde que sedimentou sua fama mundial com
"Seven" (1995) e "Clube da Luta" (1999), em torno do tema.
O novo longa de Fincher,
"Zodiac"(zodíaco), recebido
ontem com entusiasmo pela
crítica no Festival de Cannes, é
seu retorno a esse universo.
Zodíaco é como se autodenominou o homem que assumiu a
autoria de 13 assassinatos na
Califórnia, entre os anos 60 e
70. O criminoso enviava aos
jornais mensagens em que relatava os crimes e dava pistas cifradas de sua identidade.
A publicação das cartas, com
ameaças de novos ataques, inclusive a escolas infantis, levou
pânico à população e transformou seu autor numa paradoxal
celebridade desconhecida.
Fincher, 46, que cresceu nessa época e nessa região dos
EUA, associa a história do Zodíaco a "um momento específico" de sua vida, mas percebeu
que "não sabia nada a respeito
dela", ao ler o roteiro de James
Vanderbilt. Foi o que o convenceu a dirigir "Zodíaco".
O filme recupera a caçada ao
assassino, que mobilizou, além
da polícia, o cartunista Robert
Graysmith, empregado do diário "San Francisco Chronicle",
ao qual o Zodíaco enviava suas
mensagens.
Obcecado em desvendar a
identidade do assassino, Graysmith (Jake Gyllenhaal) empreende uma exaustiva investigação por conta própria, a partir dos passos dados pelo repórter policial de seu jornal Paul
Avery (Robert Downey Jr.) e
pelo agente policial David Toschi (Mark Ruffalo).
A fixação do cartunista nessa
busca o faz negligenciar os demais aspectos de sua vida e o
conduz a uma crise familiar.
"Não acho que "Zodíaco" seja
um filme sobre um "serial killer", mas sim um filme sobre a
imprensa, sobre a busca de uma
determinada verdade", afirma
o cineasta.
Obsessão
Gyllenhaal contou à Folha
que, antes do início das filmagens, fez a Fincher "a típica
pergunta de ator: "Qual é a motivação desse personagem?'" e
ouviu de Fincher: "Por que ele
tem de fazer". O ator achou que
"essa resposta não é boa o bastante". O diretor então sugeriu:
"Espere até conhecer Graysmith e você entenderá".
Hoje, seguro de que "uma
obsessão pode ser devastadora,
autodestrutiva", Gyllenhaal
descreve Graysmith como "um
homem que gosta de quebra-cabeças e não admite ficar faltando encaixar a última peça".
O final de "Zodíaco", porém,
não é conclusivo sobre a identidade do assassino. Mesmo convicto de que se trata do suspeito Leigh Allen, Graysmith não
consegue reunir provas suficientes para incriminá-lo.
Allen morreu há poucos
anos, de um ataque cardíaco,
quando as investigações iriam
ser reabertas.
Atado à realidade, Fincher
pôde fazer de "Zodíaco", como
ele afirma, "um filme que quebra todas as regras do gênero".
Esse policial norte-americano em que os heróis são reféns
de sua própria obsessão e cujo
desfecho prescinde da triunfante vitória do bem -ou do
mal- seduziu a crítica no Festival de Cannes.
No inevitável "quebra-cabeças" da premiação, a revista inglesa "Screen" lançou sua peça:
"Não é inconcebível que "Zodíaco" atraia troféus". O filme
tem estréia no Brasil prevista
para 1º de junho.
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