São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

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60º Festival de Cannes

Fincher revê passado em filme sobre "serial killer"

"Zodíaco" tem boa recepção crítica no festival

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

"É estúpido dizer nunca", diz o cineasta norte-americano David Fincher, que havia prometido a si mesmo "nunca mais fazer um filme sobre um assassino em série", desde que sedimentou sua fama mundial com "Seven" (1995) e "Clube da Luta" (1999), em torno do tema.
O novo longa de Fincher, "Zodiac"(zodíaco), recebido ontem com entusiasmo pela crítica no Festival de Cannes, é seu retorno a esse universo.
Zodíaco é como se autodenominou o homem que assumiu a autoria de 13 assassinatos na Califórnia, entre os anos 60 e 70. O criminoso enviava aos jornais mensagens em que relatava os crimes e dava pistas cifradas de sua identidade.
A publicação das cartas, com ameaças de novos ataques, inclusive a escolas infantis, levou pânico à população e transformou seu autor numa paradoxal celebridade desconhecida.
Fincher, 46, que cresceu nessa época e nessa região dos EUA, associa a história do Zodíaco a "um momento específico" de sua vida, mas percebeu que "não sabia nada a respeito dela", ao ler o roteiro de James Vanderbilt. Foi o que o convenceu a dirigir "Zodíaco".
O filme recupera a caçada ao assassino, que mobilizou, além da polícia, o cartunista Robert Graysmith, empregado do diário "San Francisco Chronicle", ao qual o Zodíaco enviava suas mensagens.
Obcecado em desvendar a identidade do assassino, Graysmith (Jake Gyllenhaal) empreende uma exaustiva investigação por conta própria, a partir dos passos dados pelo repórter policial de seu jornal Paul Avery (Robert Downey Jr.) e pelo agente policial David Toschi (Mark Ruffalo).
A fixação do cartunista nessa busca o faz negligenciar os demais aspectos de sua vida e o conduz a uma crise familiar.
"Não acho que "Zodíaco" seja um filme sobre um "serial killer", mas sim um filme sobre a imprensa, sobre a busca de uma determinada verdade", afirma o cineasta.

Obsessão
Gyllenhaal contou à Folha que, antes do início das filmagens, fez a Fincher "a típica pergunta de ator: "Qual é a motivação desse personagem?'" e ouviu de Fincher: "Por que ele tem de fazer". O ator achou que "essa resposta não é boa o bastante". O diretor então sugeriu: "Espere até conhecer Graysmith e você entenderá".
Hoje, seguro de que "uma obsessão pode ser devastadora, autodestrutiva", Gyllenhaal descreve Graysmith como "um homem que gosta de quebra-cabeças e não admite ficar faltando encaixar a última peça".
O final de "Zodíaco", porém, não é conclusivo sobre a identidade do assassino. Mesmo convicto de que se trata do suspeito Leigh Allen, Graysmith não consegue reunir provas suficientes para incriminá-lo.
Allen morreu há poucos anos, de um ataque cardíaco, quando as investigações iriam ser reabertas.
Atado à realidade, Fincher pôde fazer de "Zodíaco", como ele afirma, "um filme que quebra todas as regras do gênero".
Esse policial norte-americano em que os heróis são reféns de sua própria obsessão e cujo desfecho prescinde da triunfante vitória do bem -ou do mal- seduziu a crítica no Festival de Cannes.
No inevitável "quebra-cabeças" da premiação, a revista inglesa "Screen" lançou sua peça: "Não é inconcebível que "Zodíaco" atraia troféus". O filme tem estréia no Brasil prevista para 1º de junho.


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