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Crítica/"Alpha Dog"
Elenco segura história de bandido real
Com Bruce Willis e Emile Hirsch, Nick Cassavetes conta trama de adolescente envolvido com tráfico que vira alvo do FBI
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Não deve ser moleza fazer carreira como cineasta nos EUA sendo
filho de John Cassavetes e Gena Rowlands, talvez os dois ícones mais fortes (na realização e
na interpretação, respectivamente) do cinema independente norte-americano. O caminho
de Nick Cassavetes ("Loucos de
Amor") tem sido o de tentar se
comunicar com o que representa a tradição dos pais sem
necessariamente reverenciá-la.
"Alpha Dog", seu quinto longa-metragem como diretor, talvez seja o que melhor traduz esse desafio e suas ambigüidades,
com base em história verídica
de contornos improváveis. Em
1999, um grupo de jovens da
Califórnia se envolve em encrenca de grandes proporções
por causa de dívidas ligadas a
drogas (mais ou menos como o
personagem de Ben Gazzara se
enrola devido ao jogo em "A
Morte de um Bookmaker Chinês", em cartaz no Cinesesc).
Na atmosfera de irresponsabilidade, falta de perspectivas e
tragédia iminente que se constrói, há um bocado do horror
juvenil norte-americano de
classe média suburbana (e suas
conexões com o crime) descrito
pelo diretor Larry Clark e pelo
roteirista Harmony Korine em
filmes como "Kids" (1995) e
"Ken Park" (2002), e da idéia
de vingança na base do olho por
olho alimentada por adolescentes em "Bully" (2001), de Clark.
A esse caldo de inconseqüência e agressividade, junta-se um
pouco da escola de pequeno
gangsterismo urbano de que
Martin Scorsese e Quentin Tarantino são os representantes
mais célebres. O protagonista é
um jovem traficante (Emile
Hirsch, de "Os Reis de Dogtown") apadrinhado pelo pai
(Bruce Willis) e protegido pelo
avô (Harry Dean Stanton).
Na vida real, ele se tornou o
mais jovem fugitivo a ser incluído na lista VIP de procurados pelo FBI em todo o mundo.
"Alpha Dog" reconstitui sua
trajetória em flash-back, a partir de depoimentos do pai a um
suposto repórter (Matthew
Barry) e de informações da investigação policial.
O recurso inclui também,
mais ao final, o relato da mãe
(Sharon Stone, engordada por
um bocado de maquiagem) de
um adolescente (Anton Yelchin) que caiu no caminho desse príncipe do crime por causa
do meio-irmão (Ben Foster, de
"X-Men 3"), outro encrenqueiro profissional ligado ao tráfico.
O que há da tradição de John
Cassavetes nesse drama sobre
delinqüência juvenil? Ao menos uma certa idéia de espontaneidade no trabalho de interpretação, que leva o elenco a se
firmar como o principal foco de
interesse. Se há envolvimento
do espectador pela escalada de
barbaridades que Johnny e
seus colegas percorrem, ele
tende a passar, em boa medida,
pelo sentido de fragilidade
emocional que alguns atores
conseguem recriar.
Jovens? Crianças, na verdade. E o que fazem brincando de
gângsteres em um mundo regido pela busca da satisfação dos
desejos mais imediatos? Boa
pergunta a se fazer aos adultos
do filme, quando eles não estiverem chapados ou, então, descolados da realidade (inclusive
a mais próxima, a do quarteirão). Esse gênero de rebeldia,
de acordo com o cinema, sempre teve causa.
ALPHA DOG
Direção: Nick Cassavetes
Produção: EUA, 2006
Com: Emile Hirsch, Bruce Willis
Quando: estréia hoje nos cines Bristol,
Reserva Cultural e circuito
Avaliação: regular
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