São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Alpha Dog"

Elenco segura história de bandido real

Com Bruce Willis e Emile Hirsch, Nick Cassavetes conta trama de adolescente envolvido com tráfico que vira alvo do FBI

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Não deve ser moleza fazer carreira como cineasta nos EUA sendo filho de John Cassavetes e Gena Rowlands, talvez os dois ícones mais fortes (na realização e na interpretação, respectivamente) do cinema independente norte-americano. O caminho de Nick Cassavetes ("Loucos de Amor") tem sido o de tentar se comunicar com o que representa a tradição dos pais sem necessariamente reverenciá-la.
"Alpha Dog", seu quinto longa-metragem como diretor, talvez seja o que melhor traduz esse desafio e suas ambigüidades, com base em história verídica de contornos improváveis. Em 1999, um grupo de jovens da Califórnia se envolve em encrenca de grandes proporções por causa de dívidas ligadas a drogas (mais ou menos como o personagem de Ben Gazzara se enrola devido ao jogo em "A Morte de um Bookmaker Chinês", em cartaz no Cinesesc).
Na atmosfera de irresponsabilidade, falta de perspectivas e tragédia iminente que se constrói, há um bocado do horror juvenil norte-americano de classe média suburbana (e suas conexões com o crime) descrito pelo diretor Larry Clark e pelo roteirista Harmony Korine em filmes como "Kids" (1995) e "Ken Park" (2002), e da idéia de vingança na base do olho por olho alimentada por adolescentes em "Bully" (2001), de Clark.
A esse caldo de inconseqüência e agressividade, junta-se um pouco da escola de pequeno gangsterismo urbano de que Martin Scorsese e Quentin Tarantino são os representantes mais célebres. O protagonista é um jovem traficante (Emile Hirsch, de "Os Reis de Dogtown") apadrinhado pelo pai (Bruce Willis) e protegido pelo avô (Harry Dean Stanton).
Na vida real, ele se tornou o mais jovem fugitivo a ser incluído na lista VIP de procurados pelo FBI em todo o mundo. "Alpha Dog" reconstitui sua trajetória em flash-back, a partir de depoimentos do pai a um suposto repórter (Matthew Barry) e de informações da investigação policial.
O recurso inclui também, mais ao final, o relato da mãe (Sharon Stone, engordada por um bocado de maquiagem) de um adolescente (Anton Yelchin) que caiu no caminho desse príncipe do crime por causa do meio-irmão (Ben Foster, de "X-Men 3"), outro encrenqueiro profissional ligado ao tráfico.
O que há da tradição de John Cassavetes nesse drama sobre delinqüência juvenil? Ao menos uma certa idéia de espontaneidade no trabalho de interpretação, que leva o elenco a se firmar como o principal foco de interesse. Se há envolvimento do espectador pela escalada de barbaridades que Johnny e seus colegas percorrem, ele tende a passar, em boa medida, pelo sentido de fragilidade emocional que alguns atores conseguem recriar.
Jovens? Crianças, na verdade. E o que fazem brincando de gângsteres em um mundo regido pela busca da satisfação dos desejos mais imediatos? Boa pergunta a se fazer aos adultos do filme, quando eles não estiverem chapados ou, então, descolados da realidade (inclusive a mais próxima, a do quarteirão). Esse gênero de rebeldia, de acordo com o cinema, sempre teve causa.


ALPHA DOG
Direção:
Nick Cassavetes
Produção: EUA, 2006
Com: Emile Hirsch, Bruce Willis
Quando: estréia hoje nos cines Bristol, Reserva Cultural e circuito
Avaliação: regular


Texto Anterior: Cinema/estréias - Crítica/"Olhe para os Dois Lados": Diretora estreante usa animação para colocar frescor em romance comum
Próximo Texto: 60º Festival de Cannes: Fincher revê passado em filme sobre "serial killer"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.