São Paulo, segunda, 18 de maio de 1998

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Simulacro é questão central do milênio, diz Mendes

do enviado ao Rio

A seguir, entrevista com o sociólogo Candido Mendes, coordenador-geral do seminário Mídia e Percepção Social. (NS)

Folha - Como o senhor chegou à mídia como tema do milênio?
Candido Mendes -
Há uma temática difusa neste fim de milênio que se vincula a cinco ou seis tópicos fundamentais. Começamos em 96 com a globalização e o pluralismo cultural. Agora, pensamos na mídia e na percepção social, porque são dois mundos diferentes. Um dos grandes problemas do fim do século 20 é que existe uma captura do imaginário pela mídia, na mesma proporção em que os procedimentos tecnológicos permitiram objetivar as representações mentais e as reproduzir.
Folha - A questão do simulacro, então, o senhor acredita que será central nos debates?
Mendes -
Jean Baudrillard acha que a realidade já foi toda transfigurada pelos seus simulacros. Quando pensamos alguém, pensamos nos heróis de novela. Quando pensamos uma imagem da realidade, o político, a dona-de-casa, nós idealizamos pelo que já está nos arquétipos. A mídia produz o arquétipo. O simulacro é a questão central, é a própria abertura do debate. É para ver se ainda trabalhamos com a carne humana ou com, digamos, imagens que correspondem à idealização dos comportamentos e seus atores.
Folha - A representação.
Mendes -
É.
Folha - Este é um debate que entra pela própria política.
Mendes -
Tem consequências imediatas. Por exemplo, um apresentador ou um ator de novela já é um simulacro. É quase um andróide e não se pode deixar os andróides voltarem ao mundo dos mortais e competir deslealmente.
Folha - A própria imagem do político já não é a de um ator?
Mendes -
É evidente. Quem interroga isso é outro especialista, Gianni Vattimo, que acha a situação irreversível. O simulacro não volta à vida do primeiro mundo, o mundo da realidade.
Folha - O debate busca saídas?
Mendes -
Busca. A primeira questão é identificar que o mundo do simulacro não é mais o mundo da realidade. É um mundo já expropriado por esse poder que a mídia tem, absolutamente dominador, que é a edição. Mas de repente apareceu a Internet.
Folha - Que não tem edição.
Mendes -
Na Internet nós temos a imagem à distância, mas interativa, e ela cria uma sociedade clandestina. As pessoas formam redes de contatos. Só que as redes podem servir para o conhecimento verdadeiro ou para o conhecimento desclassificado. O seminário vai debater como a Internet pode ser o contrário da universidade, ou seja, o comércio do conhecimento sem foro crítico. Como pode criar uma sociedade, amanhã, de violência sem controle.
Folha - Ou seja, não é a saída simples do mundo do simulacro.
Mendes -
Não. Ela permite reagir à passividade do simulacro, só que talvez criando a sociedade da pirataria e dos gângsteres.



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