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Simulacro é questão central do milênio, diz Mendes
do enviado ao Rio
A seguir, entrevista com o sociólogo Candido Mendes, coordenador-geral do seminário Mídia e
Percepção Social. (NS)
Folha - Como o senhor chegou à
mídia como tema do milênio?
Candido Mendes - Há uma temática difusa neste fim de milênio
que se vincula a cinco ou seis tópicos fundamentais. Começamos
em 96 com a globalização e o pluralismo cultural. Agora, pensamos
na mídia e na percepção social,
porque são dois mundos diferentes. Um dos grandes problemas do
fim do século 20 é que existe uma
captura do imaginário pela mídia,
na mesma proporção em que os
procedimentos tecnológicos permitiram objetivar as representações mentais e as reproduzir.
Folha - A questão do simulacro,
então, o senhor acredita que será
central nos debates?
Mendes - Jean Baudrillard acha
que a realidade já foi toda transfigurada pelos seus simulacros.
Quando pensamos alguém, pensamos nos heróis de novela. Quando
pensamos uma imagem da realidade, o político, a dona-de-casa,
nós idealizamos pelo que já está
nos arquétipos. A mídia produz o
arquétipo. O simulacro é a questão
central, é a própria abertura do debate. É para ver se ainda trabalhamos com a carne humana ou com,
digamos, imagens que correspondem à idealização dos comportamentos e seus atores.
Folha - A representação.
Mendes - É.
Folha - Este é um debate que entra pela própria política.
Mendes - Tem consequências
imediatas. Por exemplo, um apresentador ou um ator de novela já é
um simulacro. É quase um andróide e não se pode deixar os andróides voltarem ao mundo dos mortais e competir deslealmente.
Folha - A própria imagem do político já não é a de um ator?
Mendes - É evidente. Quem interroga isso é outro especialista,
Gianni Vattimo, que acha a situação irreversível. O simulacro não
volta à vida do primeiro mundo, o
mundo da realidade.
Folha - O debate busca saídas?
Mendes - Busca. A primeira
questão é identificar que o mundo
do simulacro não é mais o mundo
da realidade. É um mundo já expropriado por esse poder que a
mídia tem, absolutamente dominador, que é a edição. Mas de repente apareceu a Internet.
Folha - Que não tem edição.
Mendes - Na Internet nós temos a imagem à distância, mas interativa, e ela cria uma sociedade
clandestina. As pessoas formam
redes de contatos. Só que as redes
podem servir para o conhecimento verdadeiro ou para o conhecimento desclassificado. O seminário vai debater como a Internet pode ser o contrário da universidade,
ou seja, o comércio do conhecimento sem foro crítico. Como pode criar uma sociedade, amanhã,
de violência sem controle.
Folha - Ou seja, não é a saída
simples do mundo do simulacro.
Mendes - Não. Ela permite reagir à passividade do simulacro, só
que talvez criando a sociedade da
pirataria e dos gângsteres.
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