São Paulo, segunda, 18 de maio de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Pinacoteca vê "século de ouro" espanhol

da Reportagem Local

São Paulo tem a partir de hoje a oportunidade de ver, na Pinacoteca do Estado, 34 obras de 24 artistas, produtivos no mais importante período da criação artística espanhola, o século 17, que, por seu esplendor, ficou conhecido como "século das luzes".
Serão apresentadas obras de Velázquez, El Greco, Jusepe de Ribera, Zurbarán e Herrera, o Velho, entre outros, provenientes do Museu do Prado, em Madri, e outros museus espanhóis e franceses.
A curadoria de Edouard Pommier privilegiou três tipos de produção da época: temas religiosos, retratos e naturezas-mortas.
A ingerência da igreja na vida cotidiana da época fez com que a maioria da produção da época fosse de motivos religiosos e que temas mitológicos e cotidianos fossem relegados ao ostracismo.
Mesmo as naturezas-mortas espanholas ("bodegón") da época eram contaminadas pelo sentimento religioso e a disposição dos objetos era tão rigida e bem cuidada que parecia vítima de uma ordenação litúrgica.
Uma exceção é a pintura do gênio sevilhano Diego Velázquez (1599-1660), um aluno de Herrera, o Velho (também na mostra), que cultivava inicialmente especial predileção por temas populares, talvez influência do mundano Caravaggio, que lhe transmitiu ainda o nítido contraste "chiaroscuro".
O pintor comparece com um retrato de "Dom Antonio, o Inglês" (1675), do acervo do Prado. O nobre aparece ao lado de um cão e ultrapassa em pouco a estatura do animal, revelando assim uma outra característica do pintor, que retratou anões e bufões da corte espanhola com a mesma majestade dos nobres.
Velázquez ainda é ponto de referência para artistas contemporâneos, como Waltercio Caldas, que lançou no ano passado o livro "Velázquez", em que "esvaziou" telas do pintor de seus personagens.
Francisco de Zurbarán (1598-1664), outro grande nome da pintura espanhola do século, desenvolveu sua carreira a serviço de potentes ordens religiosas da época e tornou-se um dos maiores representantes de uma espiritualidade severa e dramática.
Zurbarán é uma exceção em relação aos pintores de motivos religiosos da primeira metade daquele século, que abriram mão da austeridade em favor de pinturas religiosas mais populares, como que personagens de uma cena doméstica. Um exemplo é a tela "Santa Luzia" (1636), do acervo do museu de Chartres.
Nessa primeira metade de século, um destaque de uma pintura religiosa menos rígida era Francisco de Herrera, o Velho (1585-1675), que comparece com a pintura "A Multiplicação dos Pães" (1640).
Pintor e gravador sevilhano, em suas primeiras obras demonstrava suas influências maneiristas, adquiridas com a observação de gravuras flamengas do século 16.
Herrera, o Velho também ficou conhecido por atividades menos lícitas que a pintura, como a falsificação de moedas.
Restauração
A Pinacoteca também inaugura hoje uma mostra com 30 obras restauradas na própria entidade, de autores como Almeida Júnior ("Ponte da Tabatinguera"), Pedro Alexandrino ("Natureza"), Sylvio Alves ("Três Graças") e outros. Entre elas também se encontram quatro telas da alagoana Fundação Pierre Chalita, restauradas na Pinacoteca. (CF)

Mostras: Luzes do Século de Ouro na Pintura Espanhola e Obras Restauradas do Acervo Permanente Onde: Pinacoteca do Estado (praça da Luz, 2, tel. 011/227-6329 e 011/229-0795) Vernissage: hoje, às 19h30 Quando: de terça a domingo, das 10h às 18h. Até 14 de junho
Quanto: R$ 5 e R$ 2 (estudantes). Grátis às quintas-feiras


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