São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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O Chemical Brothers, um dos principais expoentes da música eletrônica inglesa, faz hoje em São Paulo seu primeiro show no país no projeto Levi's Live; leia entrevista com o integrante Ed Simons
Os alquimistas estão chegando

Divulgação
Tom Rowlands (esq.) e Ed Simons, da dupla inglesa Chemical Brothers, que se apresenta hoje, em São Paulo, e amanhã, no Rio



LEANDRO FORTINO
da Redação


Hoje, muitos mudarão a idéia do que se convencionou chamar de apresentação ao vivo.
Na beirada do fim do milênio, guitarra, baixo, bateria e vocal continuam a existir, mas em forma de oito sintetizadores que tocarão uma única música e que ocuparão hoje o palco do Via Funchal, em São Paulo, e amanhã, o do Metropolitan, no Rio, nos shows da dupla britânica Chemical Brothers.
Ao lado do Prodigy, os integrantes Tom Rowlands e Ed Simons formam a atração mais bem-sucedida da música eletrônica britânica, reconhecidos por estatuetas em diversas premiações internacionais, como o Grammy em 98 de performance instrumental de rock por "Block Rockin" Beats", do segundo CD, "Dig Your Own Hole".
Mas a carreira desses dois amigos de adolescência começou no início dos anos 90 na cidade de Manchester (Inglaterra) -berço de figuras importantes da música pop britânica, como o Joy Division, o New Order e o Happy Mondays-, onde eles eram DJs.
Quando passaram a se arriscar no mundo dos teclados e da manipulação de samples, assumiram o nome Dust Brothers, homenagem à dupla de produtores americanos (do álbum "Paul's Boutique", dos Beastie Boys, por exemplo), mas foram obrigados a mudar, pois os verdadeiros Dust Brothers não aceitaram o tributo numa boa.
Às vésperas de lançar seu terceiro álbum de músicas inéditas, "Surrender" (que traz participações especiais de gente como o guitarrista do Oasis, Noel Gallagher, e do vocalista e guitarrista do New Order, Bernard Sumner), a dupla desembarca no país para fazer o quarto e quinto shows com o repertório desse novo disco.
Leia a seguir a entrevista feita por telefone com o integrante Ed Simons, da sede da gravadora Virgin, em Londres.
Folha - Como serão os shows?
Ed Simons -
Dois caras fazendo muito barulho. Estávamos discutindo sobre isso outro dia: tocaremos faixas novas e velhas, hits de todos os discos. Será diferente do que as pessoas ouvem no disco. Será mais hipnótico, menos distorcido, mais repetitivo. Acho que será legal para o público.
Folha - Como vocês dividem as funções?
Simons -
Nós fazemos aquilo que sentimos. Mas, geralmente, Tom cuida do sequenciador e faz os truques com as várias bases pré-gravadas. Nós temos oito sintetiza dores no palco, com todas as sequências saindo deles, e nós as manipulamos em tempo real. Tudo o que você ouvirá será feito por nós.
Folha - Haverá músicas novas?
Simons -
Serão cinco novas e cinco velhas, e depois mais se sentirmos que está indo bem.
Folha - Como foi trabalhar com pessoas que inspiraram vocês, como foi o caso de Bernard Sumner, em "Out of Control"?
Simons -
Ele foi uma das primeiras pessoas que encontramos de quem éramos fãs. Depois de um certo tempo nos tornamos amigos, principalmente depois de passarmos um tempo no estúdio. Eu escuto New Order desde que tinha 14 anos. Foi difícil encontrá-lo pela primeira vez, fiquei nervoso, mas, depois, me acostumei.
Folha - Vocês planejam remixar futuras faixas do New Order?
Simons -
Eles estão agora trabalhando no novo álbum, e seria ótimo se nós fôssemos convidados. Foi muito legal ter trabalhado com Bernard. Apesar de estar fora da parte instrumental da música, ele estava bastante interessado em falar sobre música, tinha idéias muito claras sobre como a faixa deveria soar.
Folha - A cada disco que vocês lançam parece haver mais vocais. Seria uma tentativa de tornar a música mais pop, já que quase não há vocal na música eletrônica?
Simons -
Não sei se achamos o vocal uma coisa necessária para um hit. Em nosso maior sucesso, "Block Rockin" Beats", não há vocais cantados, é só um sample. Mas estamos muito a fim de traba-
lhar com vocais, poesia. Sentimos que eles tornam nossa música mais agradável. Mas não usamos os vocais dirigidos para um hit. Eles nos levam ao mundo das letras, que queremos explorar.
Folha - Vocês estão caminhando para um lado mais roqueiro, já que todos os convidados de "Surrender" são de bandas de rock?
Simons -
Não queremos mudar o nosso estilo tendendo para um lado ou outro. Se você ouvir o disco, verá que em "Under the Influence", por exemplo, fazemos um tipo de tecno puro, bem simples, com batidas da disco music e baixo. Nós fazemos muitas coisas diferentes. Nunca pensamos em seguir esse ou aquele estilo. No novo disco há muitos estilos. Em "Out of Control" temos Bernard Sumner, a guitarra e muitos ritmos do tecno. Fazemos uma mistura animada.
Folha - E sobre a faixa de abertura, "Music: Response", que parece com Kraftwerk?
Simons -
Ouvimos muito Kraftwerk, mas não os tínhamos em mente quando escrevemos a faixa. Depois de pronta, nós percebemos que soava como eles, mas não fizemos isso conscientemente. É uma reunião do que costumamos ouvir.


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