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ANÁLISE
Cannes já é de Takeshi Kitano e Almodóvar
LEON CAKOFF
em Cannes
Bem antes de terminar, o 52º Festival de Cannes tem dois grandes
vencedores: Takeshi Kitano, o
"one man show" japonês de "Hana-Bi, Fogos de Artifício" (Leão de
Ouro em Veneza de 97), e Almodóvar com palpitante "Todo sobre mi
Madre".
O novo filme de Kitano, "O Verão de Kikujiro", programado para esta quinta-feira, mais do que a
expectativa de levar a Palma de
Ouro, fechou os termos de um
contrato de distribuição internacional com a Columbia Pictures,
que deverá culminar com a sua indicação para a próxima rodada do
Oscar de filme estrangeiro.
E mais: Kitano também assinou
contrato para rodar seu próximo
filme, "Brother", em Los Angeles e
Tóquio, igualmente com distribuição mundial garantida.
Um gangster da yakuza, que o
próprio Kitano deverá interpretar,
irá à América atrás de um irmão
perdido. O produtor inglês Jeremy
Thomas, o mesmo de Bertolucci e
David Cronemberg, anuncia um
orçamento de US$ 10 milhões.
O estilo Kitano tornou-se inconfundível desde "Hana-Bi". Além
de ter sido comparado às maiores
evidências da história do cinema, o
ator-diretor é apontado como o cineasta que melhor equilibra violência e humanismo, os maiores
paradoxos deste fim de milênio.
Em meio às bombas lançadas sobre a Iugoslávia, um outro obstinado do cinema anuncia seu novo
projeto, orçado em US$ 35 milhões. É Emir Kusturica que filma
"The White Hotel", com fotografia
do italiano Giuseppe Rotunno, e
quer Johnny Depp no elenco. Será
uma versão surrealista sobre o tema do holocausto.
A partir de agora, Almodóvar se
autoproclama uma marca. Sem
mais o primeiro nome (Pedro), como se vê nos créditos e na publicidade do ótimo "Todo sobre mi
Madre". Almodóvar é a marca da
perfeição no trato pós-moderno
de melodramas que fazem rir e
chorar. Em mais de 30 anos de ditadura das telenovelas brasileiras,
não surgiu um talento com desenvoltura suficiente para romper
barreiras, como ele ensina e aperfeiçoa a cada novo filme. Affonso
Beato, com sua terceira e seguida
direção de fotografia para Almodóvar, é genial. Suas imagens densas e robustas são indispensáveis
para valorizar a direção de arte e as
cores que fazem parte da marca Almodóvar.
Nos anos dourados do melodrama mexicano não podia faltar
prostitutas arrependidas, amores
perdidos e mães dilaceradas por
remorsos. Em Almodóvar isso tudo descamba para estranhas atrações de duas atrizes lésbicas por
uma mãe enlutada que busca em
Barcelona o pai que o filho não conheceu em 17 anos de vida. Nessa
busca, tira da "vida" um colega travesti, no mesmo ofício do pai desaparecido. Seis mulheres tem papeis inesquecíveis nesta obra madura do cativante cineasta espanhol: Cecilia Roth, Marisa Parede,
Penélope Cruz, Antonia San Juan
(o travesti), Candela Peña e Rosa
Maria Sarda.
"Todo sobre mi Madre" foi o filme mais ovacionado até agora. A
competição teve ainda como destaque o iraniano "Os Contos de
Kish".
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