São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE
Cannes já é de Takeshi Kitano e Almodóvar

LEON CAKOFF
em Cannes

Bem antes de terminar, o 52º Festival de Cannes tem dois grandes vencedores: Takeshi Kitano, o "one man show" japonês de "Hana-Bi, Fogos de Artifício" (Leão de Ouro em Veneza de 97), e Almodóvar com palpitante "Todo sobre mi Madre".
O novo filme de Kitano, "O Verão de Kikujiro", programado para esta quinta-feira, mais do que a expectativa de levar a Palma de Ouro, fechou os termos de um contrato de distribuição internacional com a Columbia Pictures, que deverá culminar com a sua indicação para a próxima rodada do Oscar de filme estrangeiro.
E mais: Kitano também assinou contrato para rodar seu próximo filme, "Brother", em Los Angeles e Tóquio, igualmente com distribuição mundial garantida.
Um gangster da yakuza, que o próprio Kitano deverá interpretar, irá à América atrás de um irmão perdido. O produtor inglês Jeremy Thomas, o mesmo de Bertolucci e David Cronemberg, anuncia um orçamento de US$ 10 milhões.
O estilo Kitano tornou-se inconfundível desde "Hana-Bi". Além de ter sido comparado às maiores evidências da história do cinema, o ator-diretor é apontado como o cineasta que melhor equilibra violência e humanismo, os maiores paradoxos deste fim de milênio.
Em meio às bombas lançadas sobre a Iugoslávia, um outro obstinado do cinema anuncia seu novo projeto, orçado em US$ 35 milhões. É Emir Kusturica que filma "The White Hotel", com fotografia do italiano Giuseppe Rotunno, e quer Johnny Depp no elenco. Será uma versão surrealista sobre o tema do holocausto.
A partir de agora, Almodóvar se autoproclama uma marca. Sem mais o primeiro nome (Pedro), como se vê nos créditos e na publicidade do ótimo "Todo sobre mi Madre". Almodóvar é a marca da perfeição no trato pós-moderno de melodramas que fazem rir e chorar. Em mais de 30 anos de ditadura das telenovelas brasileiras, não surgiu um talento com desenvoltura suficiente para romper barreiras, como ele ensina e aperfeiçoa a cada novo filme. Affonso Beato, com sua terceira e seguida direção de fotografia para Almodóvar, é genial. Suas imagens densas e robustas são indispensáveis para valorizar a direção de arte e as cores que fazem parte da marca Almodóvar.
Nos anos dourados do melodrama mexicano não podia faltar prostitutas arrependidas, amores perdidos e mães dilaceradas por remorsos. Em Almodóvar isso tudo descamba para estranhas atrações de duas atrizes lésbicas por uma mãe enlutada que busca em Barcelona o pai que o filho não conheceu em 17 anos de vida. Nessa busca, tira da "vida" um colega travesti, no mesmo ofício do pai desaparecido. Seis mulheres tem papeis inesquecíveis nesta obra madura do cativante cineasta espanhol: Cecilia Roth, Marisa Parede, Penélope Cruz, Antonia San Juan (o travesti), Candela Peña e Rosa Maria Sarda.
"Todo sobre mi Madre" foi o filme mais ovacionado até agora. A competição teve ainda como destaque o iraniano "Os Contos de Kish".


Texto Anterior: Herzog X Kinski
Próximo Texto: Televisão: Steven Spielberg ganha especial no canal Bravo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.