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DISCO - LANÇAMENTOS
Cyro Baptista enlouquece Villa-Lobos
CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha
Nunca se escutou Villa-Lobos
como em "Vira Loucos", CD do
paulistano Cyro Baptista, 49, radicado nos Estados Unidos e um dos
mais solicitados percussionistas
do mundo.
Trafegar com propriedade pelo
pop, erudito, jazz e o chamado, em
Nova York, "downtown music" é
apenas uma de suas tantas especialidades. Até ator de Hollywood
Cyro já foi, em 87, ao contracenar
com o ator Nick Nolte na produção
de Dino Laurentis, "Weeds".
"Quando o cara me falou quanto
eu iria ganhar, não entendi direito
se era "four" (quatro), "fourteen"
(catorze) ou "forty" (quarenta) mil
dólares. Saí do estúdio, entrei numa igreja, ajoelhei e rezei pedindo:
"Be forty, be forty (seja quarenta)"... Fui atendido", disse o percussionista.
As dez faixas do CD mostram seu
lado de compositor, além do excelente instrumentista que é Baptista. Músico versátil, já tocou com
inúmeros artistas. Entre eles, Paul
Simon, Kathleen Battle, Cassandra
Wilson, Laurie Anderson, David
Byrne, Carly Simon, John Zorn e,
atualmente, com o pianista norte-americano Herbie Hancock.
"Farei 30 concertos com Hancock em julho pela Europa, para
mostrarmos seu último CD "Gerswhin's World", do qual participei,
gravando."
"Vira Loucos" é o primeiro trabalho solo de Baptista e já foi eleito
pelos leitores da revista norte-americana "Jazziz" deste mês como
um dos melhores CDs na categoria
Brazilian Album. O disco é um belo exemplo da sensação ocasionada por ritmos complexos na música, em que se ouvem, ao mesmo
tempo, combinações de diversos
gêneros.
No CD há participações de Romero Lubambo (violão), Chango
Spasiuk (acordeão), Greg Cohen
(contrabaixo), Marc Ribot (banjo e
guitarra) e Naná Vasconcelos (percussão), entre outros.
O saxofonista norte-americano
John Zorn também participa do
disco e encorajou Baptista a concretizar esse trabalho.
"Em 80, Zorn me viu tocando na
rua e me chamou para participar
de um encontro musical. Eles estavam começando a usar o que hoje é
o tal do Cobra, um sistema musical
elaborado por ele. Eu mal entendia
o que ele falava. Sei que ele levantava uns cartões, e esses cartões tinham significados, que formavam
duetos, trios etc, e a gente tinha de
tocar. Dependendo do cartão que
ele levantasse, eu atacava com um
pandeiro, berimbau ou um caxixi,
enfim, ia mudando de instrumento. Não sei como, tudo deu certo.
Todo mundo adorou."
No entanto, mal sabia Baptista
que o guitarrista da banda era Derek Bailey -considerado o pai da
"downtown music". "Aí, o guitarrista disse que queria fazer um disco comigo, no dia seguinte." Baptista gravou. O resultado, descrito
pelo percussionista como "um disco completamente "noise" e maluco", virou o cult chamado "Cyro",
pontapé inicial de Baptista na terra
do tio Sam e no universo da boa
música. Inspirado nos instrumentos criados pelo suíço Walter Smetak (1913-1984), Cyro construiu os
seus e deles tira muito som, ao vivo
e no CD.
O músico participou, na semana
passada, do World Drum Festival
99, em Hamburgo, na Alemanha,
realizando concertos, além de
workshops. Em breve, grava, pelo
selo Blue Note, um disco de obras
de Duke Ellington, em duo com o
guitarrista canadense Kevin Breit.
Baptista acaba de gravar também
parte da trilha sonora do filme
"Flawless", com lançamento previsto para o segundo semestre e dirigido por Joel Schumacher -diretor de "Batman"-, que traz Robert de Niro no papel principal.
Como Villa-Lobos, Cyro Baptista
veio para ficar, comprovando ser
possível reler o tradicional, com
humor e reverência, sem nunca
perder o compasso.
Avaliação:
Disco: Vira Loucos
Artista: Cyro Baptista
Lançamento: Avant
Quanto: R$ 24, em média
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