São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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DISCO - LANÇAMENTOS
Cyro Baptista enlouquece Villa-Lobos

CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha

Nunca se escutou Villa-Lobos como em "Vira Loucos", CD do paulistano Cyro Baptista, 49, radicado nos Estados Unidos e um dos mais solicitados percussionistas do mundo.
Trafegar com propriedade pelo pop, erudito, jazz e o chamado, em Nova York, "downtown music" é apenas uma de suas tantas especialidades. Até ator de Hollywood Cyro já foi, em 87, ao contracenar com o ator Nick Nolte na produção de Dino Laurentis, "Weeds".
"Quando o cara me falou quanto eu iria ganhar, não entendi direito se era "four" (quatro), "fourteen" (catorze) ou "forty" (quarenta) mil dólares. Saí do estúdio, entrei numa igreja, ajoelhei e rezei pedindo: "Be forty, be forty (seja quarenta)"... Fui atendido", disse o percussionista.
As dez faixas do CD mostram seu lado de compositor, além do excelente instrumentista que é Baptista. Músico versátil, já tocou com inúmeros artistas. Entre eles, Paul Simon, Kathleen Battle, Cassandra Wilson, Laurie Anderson, David Byrne, Carly Simon, John Zorn e, atualmente, com o pianista norte-americano Herbie Hancock.
"Farei 30 concertos com Hancock em julho pela Europa, para mostrarmos seu último CD "Gerswhin's World", do qual participei, gravando."
"Vira Loucos" é o primeiro trabalho solo de Baptista e já foi eleito pelos leitores da revista norte-americana "Jazziz" deste mês como um dos melhores CDs na categoria Brazilian Album. O disco é um belo exemplo da sensação ocasionada por ritmos complexos na música, em que se ouvem, ao mesmo tempo, combinações de diversos gêneros.
No CD há participações de Romero Lubambo (violão), Chango Spasiuk (acordeão), Greg Cohen (contrabaixo), Marc Ribot (banjo e guitarra) e Naná Vasconcelos (percussão), entre outros.
O saxofonista norte-americano John Zorn também participa do disco e encorajou Baptista a concretizar esse trabalho.
"Em 80, Zorn me viu tocando na rua e me chamou para participar de um encontro musical. Eles estavam começando a usar o que hoje é o tal do Cobra, um sistema musical elaborado por ele. Eu mal entendia o que ele falava. Sei que ele levantava uns cartões, e esses cartões tinham significados, que formavam duetos, trios etc, e a gente tinha de tocar. Dependendo do cartão que ele levantasse, eu atacava com um pandeiro, berimbau ou um caxixi, enfim, ia mudando de instrumento. Não sei como, tudo deu certo. Todo mundo adorou."
No entanto, mal sabia Baptista que o guitarrista da banda era Derek Bailey -considerado o pai da "downtown music". "Aí, o guitarrista disse que queria fazer um disco comigo, no dia seguinte." Baptista gravou. O resultado, descrito pelo percussionista como "um disco completamente "noise" e maluco", virou o cult chamado "Cyro", pontapé inicial de Baptista na terra do tio Sam e no universo da boa música. Inspirado nos instrumentos criados pelo suíço Walter Smetak (1913-1984), Cyro construiu os seus e deles tira muito som, ao vivo e no CD.
O músico participou, na semana passada, do World Drum Festival 99, em Hamburgo, na Alemanha, realizando concertos, além de workshops. Em breve, grava, pelo selo Blue Note, um disco de obras de Duke Ellington, em duo com o guitarrista canadense Kevin Breit.
Baptista acaba de gravar também parte da trilha sonora do filme "Flawless", com lançamento previsto para o segundo semestre e dirigido por Joel Schumacher -diretor de "Batman"-, que traz Robert de Niro no papel principal.
Como Villa-Lobos, Cyro Baptista veio para ficar, comprovando ser possível reler o tradicional, com humor e reverência, sem nunca perder o compasso.


Avaliação:




Disco: Vira Loucos
Artista: Cyro Baptista
Lançamento: Avant
Quanto: R$ 24, em média


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