São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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Garimpo será o cenário de "Latitude 9"

CLÁUDIA GURFINKEL
free-lance para a Folha


As filmagens de "Latitude 9º", novo longa-metragem do cineasta Toni Venturi, têm início no dia 9 de junho em um garimpo abandonado próximo à cidade de Poconé, no Mato Grosso. Hoje, no auditório da Folha, o elenco participa de uma leitura do roteiro, aberta ao público.
Baseado em texto teatral inédito do escritor e colunista da Folha Fernando Bonassi, "As Coisas Ruins da Nossa Cabeça", o filme é um ensaio sobre a solidão, a esperança e o amor em um Brasil interiorano e rústico.
Os personagens são vividos por Débora Duboc (Lena) e Cláudio Jaborandy (Vilela). Haverá ainda uma participação especial, para a interpretação do comandante Motta (o ator não está definido).
Segundo Venturi, diretor e produtor, o filme parte de uma proposta cinematográfica que privilegia as idéias e provoca certo impacto no espectador. "É uma dramaturgia enxuta, direta e provocante", diz. As filmagens serão rápidas -quatro semanas-, e o longa está orçado em R$ 700 mil.
Até o final de maio, os atores, que estão sendo preparados pelo encenador Márcio Aurélio, participam de ensaios em São Paulo. O galpão reproduz os cenários da filmagem. "Não tenho condições de manter uma equipe de aproximadamente 30 pessoas por muito tempo na locação. Os ensaios acabaram sendo uma necessidade financeira e dramatúrgica", diz Venturi. "Quero chegar ao set de filmagem sabendo como vai ser, com tudo mais ou menos pronto e ensaiado."
O encontro de Bonassi e Venturi aconteceu há dois anos, quando eles começaram a discutir a adaptação do texto teatral para o cinema. Segundo Venturi, só uma mudança foi feita: a inclusão de Motta. A história foi mantida em tempo real e não tem flashback.
O roteiro, escrito por Di Moretti, foi semifinalista do Sundance/ NHK International Filmmakers Award em 1998, promovido pelo Sundance Institute -ligado ao festival de cinema independente que acontece em Utah (EUA). Além disso, venceu o Prêmio de Roteiro do Ministério da Cultura e o Prêmio Linc de Desenvolvimento de Projeto, este da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.
A história tem início quando Vilela, um ex-policial militar, encontra abrigo em um bar de beira de estrada, em uma região decadente devido ao fim do garimpo de ouro. O pequeno negócio é de Lena, uma mulher grávida de oito meses de um homem que a abandonou (o comandante Motta). "Lena é uma pessoa seca, em um estado de desespero, no limite da loucura", diz Débora. "Mas, com a chegada de Vilela, ela passa a ter esperanças e a acreditar na vida."
Ele reforma o lugar e vai se aproximando dela. Porém, de maneira inesperada, Vilela desaparece levando consigo todas as economias da mulher. "Ela vive uma nova frustração e dá à luz o filho no local, sozinha", afirma Débora. Um dia, Vilela aparece com novos planos. Lena reluta a acreditar que o dinheiro tenha sido usado para montar um novo negócio para eles, mas a esperança reacende.
"Lena é uma guerreira que vive uma história de encontro e desencontro. A vida a chama para a realidade", diz Venturi. "Já Vilela é sonhador e altruísta, mas tudo o que planeja dá errado."
Quando o casal está prestes a sair do local, recebem a visita do comandante Motta, que traz novidades de São Paulo. "Mas Motta é cínico e obscuro, não liga para o próprio filho e abandona-os definitivamente", afirma o autor.
Motta pode ser comparado ao deus ex-machina da tragédia grega, que resolvia os problemas. Só que, nesta tragédia moderna, ele vem para criar problemas.


O colunista José Simão está em férias.


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