São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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CLOSE-UP PLANET ANHEMBI, 15/5
Show de DJ: o fim dos tempos e o começo de outros

MARCELO NEGROMONTE
da Redação

Houve pelo menos uma vantagem no cancelamento da edição de 98 do Close-Up Planet: a apresentação de DJs este ano. Fato bastante ilustrativo destes tempos com o rock em baixa, já que nunca houve dois DJs como atrações, tocando num festival de música desse porte no Brasil.
O sujeito lá, sozinho no palco, olhando pra baixo, se abaixando para pegar discos; o telão, de qualidade vergonhosa, exibindo tudo com edição videoclípica; o público aplaudindo -a música eletrônica se apropria do formato consagrado pelo rock: os shows ao vivo.
É o fim dos tempos -e começo de outros interessantes. Sem suor, sem solos de guitarra ou bateria -sem instrumentos "convencionais"-, sem fãs histéricos, sem correrias pelo palco, entrando mudo e saindo calado, um show de DJ teoricamente teria tudo para levar uma platéia de um show ao sono.
Há apenas a manipulação dos discos, como sendo algum "efeito" visual. A troca dos discos, a mão no vinil fazendo um "scratch" (onomatopéia do efeito de girar o disco ao contrário) são as poucas imagens do DJ num palco.
É o anti-PopMart, megashow do U2, com um megatelão, megaparafernália, megaefeitos, tudo muito bonitinho e grande, e a música em segundo plano. Seria porque esse tipo de música (pop, rock) carece de atrações visuais para se tornar interessante ao vivo?
O DJ Marky provou, no último sábado, no estacionamento do Anhembi, em São Paulo, que sim.
Com mais de uma hora de apresentação, Marky deveria ter entrado depois do inglês Roni Size, e não o inverso como é praxe com atrações estrangeiras no país.
Pode-se falar em drum'n'bass brasileiro com o animado Marky. É quente, suingado, pesado, com especiarias -a Inglaterra não tinha como não se render ao paulistano da Penha. Como o futebol, a história se repete: os ingleses inventam (futebol, drum'n'bass) e um brasileiro leva o queixo de todos ao chão (Pelé, Marky).
O som, claro, não era o ideal; deveriam existir caixas acústicas nos lados e atrás da platéia. Telões e iluminação são a cereja do sorvete e que precisavam ser mais bem aproveitadas no último sábado.
Como aconteceu na noite anterior, na casa noturna Gitana, o DJ e produtor inglês Roni Size teve trabalho duro para suceder Marky nas pick-ups. Com o MC (mestre-de-cerimônias) Dynamite nos vocais, Size apresentou remixes de músicas de "New Forms", álbum de 97, pontos altos do seu show.
E tudo parecia uma grande rave, mas os DJs não eram popstars.
Com esse Close-Up, abriu-se no país um precedente inevitável: os DJs podem sair de seus habitats naturais, os clubes, e ocupar um palco com mais de 20 mil pessoas na frente. Impossível há menos de uma década.


Avaliação:
(DJ Marky) e
(Roni Size)


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