São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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CULTURA RAVE
Ninguém aqui sabe dançar como Leeroy

ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha


Para quem não dispõe da energia de ficar no aperto do gargarejo num show ao vivo, faltou uma grande explosão de som à apresentação do Prodigy.
"Smack My Bitch Up" já deu a pista: a vontade era aumentar o volume. Um telão que mostrava tão pouco quanto é possível ver à distância do palco nos privava também de metade da graça do grupo: as caretas e contorcionismos do garoto-propaganda Keith Flint e da moral de Maxim Reality.
Foi quando veio a maior surpresa da noite. Por trás das nuvens de fumaça e das estrobos histéricas surgia uma silhueta magricela, esquisita e desconjuntada.
Era o dançarino Leeroy Thornhill, que está ali simplesmente para dançar. E ele encheu o show, já que Keith Flint parecia ter ido comprar cigarros entre um vocal e outro.
Movendo os longos braços que pareciam desconectados das pernas, Thornhill mexia-se no centro do palco com naturalidade e espontaneidade. Com alegria também. Claro: faz isso desde o final dos anos 80.

Fundamento das raves
Essa dancinha, à primeira vista tão descompromissada, traz todo o fundamento do cenário raver inglês, de onde o Prodigy emergiu e elegeu seus hinos. Os passos libertam o corpo sob os efeitos lisérgicos da música, liberando o bailarino de coreografias sociais preestabelecidas. Como o lendário Bez, da banda de Manchester Happy Mondays, Thornhill tem função hedonista e (a)política.
Prova de que é uma experiência corporificada a cultura das pistas, ninguém aqui sabe dançar assim. Aliás, nem nunca vimos ninguém aqui dançar assim.
Roupas largas, confortáveis e desencanadas embalam Leeroy, que vai indo assim meio fora do ritmo acelerado do Prodigy. Cheio de frescor e de energia jovem, Leeroy deixou uma boa imagem no imaginário do público do show.


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