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CULTURA RAVE
Ninguém aqui sabe dançar como Leeroy
ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha
Para
quem não dispõe da energia de
ficar no aperto do gargarejo num show ao vivo, faltou
uma grande explosão de som à
apresentação do Prodigy.
"Smack My Bitch Up" já deu a
pista: a vontade era aumentar o volume. Um telão que mostrava tão
pouco quanto é possível ver à distância do palco nos privava também de metade da graça do grupo:
as caretas e contorcionismos do
garoto-propaganda Keith Flint e
da moral de Maxim Reality.
Foi quando veio a maior
surpresa da noite. Por trás
das nuvens de fumaça e das
estrobos histéricas surgia uma
silhueta magricela, esquisita e desconjuntada.
Era o dançarino Leeroy Thornhill, que está ali simplesmente para dançar. E ele encheu o show, já
que Keith Flint parecia ter ido
comprar cigarros entre um vocal e
outro.
Movendo os longos braços que
pareciam desconectados das pernas, Thornhill mexia-se no centro
do palco com naturalidade e espontaneidade. Com alegria também. Claro: faz isso desde o final
dos anos 80.
Fundamento das raves
Essa dancinha, à primeira vista
tão descompromissada, traz todo
o fundamento do cenário raver inglês, de onde o Prodigy emergiu e
elegeu seus hinos. Os passos libertam o corpo sob os efeitos lisérgicos da música, liberando o bailarino de coreografias sociais preestabelecidas. Como o lendário Bez, da
banda de Manchester Happy Mondays, Thornhill tem função hedonista e (a)política.
Prova de que é uma experiência
corporificada a cultura das pistas,
ninguém aqui sabe dançar assim.
Aliás, nem nunca vimos ninguém
aqui dançar assim.
Roupas largas, confortáveis e desencanadas embalam Leeroy, que
vai indo assim meio fora do ritmo
acelerado do Prodigy. Cheio de
frescor e de energia jovem, Leeroy
deixou uma boa imagem no imaginário do público do show.
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