São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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CLOSE-UP PLANET ANHEMBI, 15/5
Tecnopunk do Prodigy pendeu mais ao tecno

LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada


"We fuck the rhythms." É o vocalista Maxim Reality no palco, falando para os que ainda não sabem quem é e o que faz sua banda, o Prodigy, que acabara de tomar postos no palco do Anhembi, por volta das 23h30 de uma glacial noite de sábado em São Paulo.
Não teve parafuso que impedisse desta vez a ação de uma das bandas-pilares da explosão eletrônica desta década, gênero que, muito por culpa do Prodigy, hoje domina noites latinas em Miami, subsolos em Londres, praias na Austrália, praças no Japão e show para 30 mil pessoas em SP.
Lá estava a trupe de Keith Flint e Liam Howlett "fucking" os ritmos do rap, punk, rock, botando tudo em um disquete e devolvendo aos ouvidos paulistanos em forma de futuro, para uma apresentação que a banda ficou devendo desde o ano passado, quando o show de SP teve que ser cancelado.
Tudo bom, tudo bem. Mas cabe aqui umas considerações sobre o show do último sábado.
* Muito decente uma banda como o Prodigy, seja pelo dinheiro que for, parar projetos pessoais e o desenvolvimento do próximo álbum só para corrigir um erro que deixou na mão muita gente deste lado de baixo do Atlântico, com o adiamento do show de SP em 98.
Por outro lado, ficou evidente que às vezes a banda parecia ausente do palco, talvez pelo "destreino", sem pique de turnê, por ter estado havia algum tempo longe da estrada, depois de tocar dois anos sem parar na divulgação do milionário e importante CD "The Fat of the Land". Por hora, dava a impressão de que a banda estava tocando no aniversário de um amigo. OK, o show era de graça...
* Os que foram ao Anhembi atraídos pelo forte elemento rock que fez o Prodigy botar cabeludos em pista de dança podem ter ficado um pouco decepcionados.
O show, tirando o peso do início com "Rock'n'Roll" e a punkosa "Fuel My Fire" no final, foi essencialmente eletrônico. Até "Firestarter" estava mais house do que pauleira.
"Poison", "Their Law" e principalmente "Voodoo People", músicas pré-"The Fat of the Land", e "Mindfields", do próprio, mais para mexer as cadeiras do que bater a cabeça, foram disparadas as melhores da noite.
* Comparações com o show do Rio no ano passado: além das diferenças óbvias de apresentações em lugar fechado (RJ) e aberto (SP), calor (RJ) e frio (SP), a performance carioca foi rock, a paulista foi dance. Os públicos dos dois lugares botaram para quebrar, formados ambos por clubbers e curiosos. O que diferiu foi na forte porção de cybermanos animados e pintados da periferia (SP), enquanto no Rio predominou os brigões da era jiu-jitsu.
* E o que ajudou a esfriar o show mais do que o frio que fazia no Anhembi foi o sistema de som já tradicional do lugar, que chega como um radinho de pilha para quem não estava bem na frente, batendo pernas e cotovelos nas pessoas do lado.


Avaliação:



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