São Paulo, Sexta-feira, 18 de Junho de 1999
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Escritor une suspense policial a romance de idéias

de Londres

"Amor para Sempre" se desenvolve em duas vias: é um thriller psicológico e um romance de idéias. Usando uma técnica que pode ser comparada ao contraponto musical (que provoca o cruzamento de duas ou mais vozes nos momentos cruciais da composição), McEwan orquestra ambas numa narrativa estonteante.
O thriller psicológico parte da situação clássica de tranquilidade: um casal de classe média alta britânico, feliz com a prosperidade de sua vida profissional, afetiva e sexual. De repente, a ameaça. Uma fatalidade (o acidente do balão) os coloca frente a Jed Parry, rapaz religioso e portador de uma doença rara: a síndrome de Clérambault.
Jed é perigoso. Seguem-se perseguições, mistério e medo. O caçador vigia sua presa, segue-o em seu dia-a-dia, atormenta com mensagens ameaçadoras na secretária eletrônica, cartas.
A riqueza de imagens e o ritmo configuram um enredo de suspense bastante cinematográfico. Nessa linha, temos a narrativa policial, o suspense novelesco.
No outro plano em que o livro caminha, a do romance de idéias, os momentos de tensão são pontuados por questionamentos sobre o amor, a fé e o imponderável. Ficam frente a frente ciência e religião; altruísmo e amor-próprio.
É na psicologia dos relacionamentos amorosos que McEwan se prende. O casal, Joe e Clarissa, que vivia num mundo paradisíaco antes do acidente com o balão, se vê ameaçado pela presença de uma terceira pessoa, que representa o perigo, até então desconhecido.
Passam a desconfiar um do outro, sentem medo e opõem-se em sua ignorância: está criada a crise. Já Jed possui uma obsessão que o faz interpretar sinais de ternura na resistência e na fúria de Joe.
É, então, nos desentendimentos, -do casal entre si e de Joe em relação a Jed- que o romance questiona as razões do amor.
O livro constrói, com as duas vozes que o compõem, uma fábula, uma alegoria das relações humanas, numa hipérbole em que os conceitos de sanidade e loucura se tornam ineficazes para justificar as ações e os sentimentos.
McEwan usa seu microcosmo também para uma reflexão sobre o imponderável e sua participação no decorrer dos acontecimentos. A fatalidade surge como impulsionadora dos homens em direção à sanidade ou à loucura.
"Amor para Sempre" foi lançado na Inglaterra em 1998 e é o sétimo romance do escritor (também autor de duas coletâneas de contos). McEwan, 51, foi premiado em outubro do mesmo ano com o Booker Prize, o mais importante prêmio de literatura do Reino Unido, por "Amsterdam". (SC)


Avaliação:     


Livro: Amor para Sempre
Autor: Ian McEwan
Lançamento: Rocco
Quanto: R$ 26 (260 págs.)


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