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LITERATURA
Novo livro explora o 007 alpinista
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
James Bond, quem diria, acabou
alpinista. A terceira montanha
mais alta do mundo, a Kangchenjunga, um dos picos com mais de
8.000 metros da cordilheira do Himalaia, entre o Nepal e a China, é a
um só tempo o principal cenário e
o maior inimigo da nova aventura
de 007 em livros, "High Time to
Kill".
O romance acaba de desembarcar nas livrarias americanas. É o
terceiro assinado por Raymond
Benson, sucessor de Ian Fleming e
John Gardner. Benson vinha bem
até aqui, recriando o agente secreto britânico com licença para matar neste fragmentando mundo
pós-Guerra Fria.
O segredo de "Zero Minus Ten"
(1997) e "The Facts of Death"
(1998) era envolver Bond em violentas disputas regionais em ex-colônias britânicas. Benson provou ter poder descritivo similar ao
de Fleming e inegável imaginação
para enredos de suspense.
É precisamente este último elemento que falta ao novo livro.
Bond enfrenta desta vez uma nova
organização criminosa internacional, a "Union". Em torno dela girarão também os próximos dois romances.
A apresentação de estréia resultou por demais esquemática.
Aprende-se que a nova sucessora
da Spectre tem por chefe "Lé Gerant", por assinatura degolar suas
vítimas e lucro por seu único princípio motor. E só.
A "Union" rouba dos britânicos
a fórmula da pesquisa de um revolucionário revestimento para
aviões hipervelozes. Um dos intermediários, o ex-agente chinês Lee
Ming, acaba morto com ela em acidente de avião num dos topos do
Himalaia. James Bond é então convocado a participar da expedição
enviada para o resgate.
O grupo inclui, entre outros, Roland Marquis, um rival de Bond
desde os tempos de colégio, a sensual médica Hope Kendall e um
membro da força de elite britânica
gurkha, formada por soldados do
Nepal. Há, claro, um misterioso
agente infiltrado pela "Union", de
tempos em tempos responsável
por um atentado contra 007.
Uma centena das cerca de 250
páginas do livro é dedicada à lenta
escalada. "Inspirei-me em "No Ar
Rarefeito" de Jon Krakauer", reconhece Benson. Na bela reportagem
de Krakauer o desafio é o Everest,
vizinho himalaiano do Kangchenjunga e cerca de 300 metros mais
alto.
Benson preferiu o último. "O
Everest não é tão mais alto e é muito mais fácil", leva Bond a dizer ao
saber da nova missão. Scott
McKee, o primeiro americano a escalar o Kangchenjunga até o topo
pela face norte, serviu de consultor
técnico a Benson.
"High Time to Kill" não deixa
dúvidas de que o escritor fez bem a
lição de casa. Pena que tenha se
complicado ao aplicar dramaticamente o que pesquisou.
A aventura tem um começo promissor, com Bond conhecendo a
"Union" no Caribe e seguindo seu
rastro em Londres e Bruxelas. Ao
se aproximar das montanhas, tudo
se torna previsível, a partir das descrições preparatórias dos riscos da
empreitada e dos equipamentos
disponíveis.
Afirmando-se inspirado também em Hitchcock, Benson comete o mais anti-hitchcockiano dos
pecados ao ocultar informações
dos leitores para depois lançá-las
num efeito fácil. E a surpresa, já
ensinava o velho Hitch, nada tem a
ver com o gênero mais nobre do
suspense.
O escritor complica-se ainda ao
entremear a ação com diálogos
pretensamente filosóficos sobre
vida e morte frente aos mistérios
da natureza. Algumas das melhores páginas de Benson nos livros
anteriores giravam em torno das
pausas reflexivas de Bond, muito à
moda dos originais de Ian Fleming. Desta vez, a banalidade se
impôs -e a literatura bondiana
conhece suas primeiras páginas de
auto-ajuda. Que sejam as últimas.
Avaliação:
Livro: James Bond, High Time to Kill
Autor: Raymond Benson
Lançamento: G. P. Putnam's Sons
Quanto: US$ 23.95 (257 págs.)
Onde encomendar: www.amazon.com
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