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MAM paulistano transforma-se em território nebuloso
DA REPORTAGEM LOCAL
Viver no mundo das nuvens é
metáfora corrente de quem anda
desligado do contexto, longe do
que se convenciona chamar de
real. Com "Nefelibatas", mostra
que o Museu de Arte Moderna de
São Paulo inaugura hoje, o curador Ricardo Resende defende a
tese de que uma forte vertente da
arte contemporânea brasileira anda preferindo olhar para o céu a
vislumbrar o que se passa aqui no
chão. "Nefelibata", termo pomposo, refere-se a quem anda ou vive nas nuvens.
"Tendo a acreditar que é uma
forma de escape, uma fuga do
contexto sociopolítico", diz Resende. O fenômeno não é apenas
brasileiro. "Nefelibatas" apresenta também o argentino Olkapää,
com a instalação "Cielos". "O céu
é uma forma de escape, mas também proporciona uma sensação
de movimento e amplidão", diz o
artista plástico.
Essa amplidão proporcionada
pelas nuvens é tema recorrente na
história da arte. Seja do belga René Magritte ou do inglês William
Turner. "A mostra apresenta a influência de certo romantismo na
arte contemporânea", afirma Resende.
Um dos melhores exemplos na
mostra é a obra "Se Você Sonha
com Nuvens" (1991), de Leonilson. O título da obra está bordado
em um tecido branco em forma
de cruz. "Foi a partir dessa obra,
parte do acervo do MAM, que tive
a idéia da mostra", diz o curador.
Dos 20 artistas apresentados, apenas dois estão no acervo do museu -o próprio Leonilson e Iran
do Espírito Santo.
Aliás, ele é outro "romântico"
da mostra com a série "Photoshop Sunset". Manipuladas por
computador, imagens de crepúsculos ganham cores variadas,
com certo ar kitsch. Romântica
também é Sandra Cinto, cuja obra
está reproduzida nesta página, e
Dora Longo Bahia, com "Paisagens com Dramas", duas fotos de
céu avermelhadas, com molduras
em mármore.
No entanto, não é só o romantismo, mas também a ironia, outra das características da arte contemporânea, que estão presentes
na exposição. "Projeto para Construção de um Céu", de Carmela
Gross, outra artista a inspirar a exposição, é uma parede de desenhos que busca representar o céu.
Gross participa ainda da mostra
com a instalação "Nuvens".
A ironia é também uma marca
na série de fotografias do artista
baiano Marepe, na qual ele se auto-retrata comendo algodão-doce
em meio a nuvens. O romantismo
aqui é devorado.
Ou então a escultura de Edgard
de Souza, sem título, de 1986,
quando o artista era estudante da
Faap. Uma nuvem de concreto é
sustentada por vergalhões de ferro. "Lembro-me dessa obra desde
quando estudávamos juntos, o
próprio Edgard se surpreendeu
quando pedi a ele a escultura",
afirma Resende.
Dois filmes são ainda exibidos
na exposição: o curta "Paixão Nacional" (1994), de Karim Aïnouz,
e "Nuvens", da belga Marion
Hänsel. "Paixão Nacional" é das
obras menos literais na exposição.
O curta, apresentado no Panorama de 1995, curado por Ivo Mesquita, narra a história, de forma
poética e muito simbólica, sobre
um passageiro que entra clandestinamente na parte de carga de
um avião e morre de frio.
Já Hänsel, cujo filme foi apresentado na 25ª Mostra Internacional de São Paulo, em 2001, apresenta imagens de nuvens de 12
países contrapostas com imagens
dos céus de Magritte e Turner. De
volta às origens.
(FCY)
NEFELIBATAS - mostra com 20 artistas
contemporâneos com obras que trazem
nuvens como referência. Curadoria:
Ricardo Resende. Quando: abertura hoje,
às 19h; de ter. a sex., das 12h às 18h; qui.
até 22h; sáb. e dom., das 10h às 18h. Até
8 de setembro. Onde: Museu de Arte
Moderna de São Paulo (parque
Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5549-9688). Quanto: R$ 5.
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