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MUNDO DE BACO
Australianos antigos enfim aportam no Brasil
JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA
Talvez um pouco à sombra
das principais províncias vinícolas australianas (como Nova
Gales do Sul, Austrália Meridional e Victoria, que concentram a
maior parte da produção e as
mais renomadas regiões do país,
tais como Coonawarra, Barossa e
Yarra), a Austrália Ocidental também produz bons vinhos.
Aliás, o Estado, que ocupa toda
a parte ocidental do continente, é
um dos mais antigos produtores
de vinho da Austrália, tendo plantado os seus primeiros vinhedos
em 1829.
No início, a produção se concentrou em Swan Valley, ao norte
da capital, Perth, uma das áreas
vitivinícolas mais quentes do
mundo e, por isso, considerada
por alguns como pouco apropriada para a produção de vinhos de
mesa de qualidade.
O destino da área começou a
mudar há cerca de 40 anos, graças
a um grupo de médicos que decidiu apostar na produção de vinhos em Margaret River, apontada em estudos da época como
possuidora de um clima muito
mais ameno -similar, em muitos aspectos- ao da região francesa de Bordeaux.
O dr. Tom Cullity foi o pioneiro,
plantando as primeiras videiras
em 1967 e dando origem ao Vasse
Felix, um belo cabernet sauvignon (que, no início da década de
80, confesso, foi o primeiro vinho
que me fez virar os olhos para os
tintos australianos).
Kevin Cullen, da atual vinícola
Cullen, e Bill Pannell, fundador da
Moss Wood (dona até hoje de um
tremendo cabernet, um dos melhores tintos do país), seguiram os
seus passos, ajudando a dar forma
a uma região que colocou a Austrália Ocidental de vez no mapa
dos vinhos finos australianos.
Para aqueles que queiram conferir o nível dos goles desse remoto canto da Oceania, há uma boa
notícia: acabam de chegar ao Brasil os tintos e os brancos da Sandalford. A estreante é uma antiga
vinícola (fundada em 1840) de
Swan Valley, mas que elabora os
seus vinhos utilizando também
uvas de Margaret River, de Frankland River e de Mount Barker.
Entre os brancos da primeira leva, o Element (rótulo básico da
casa) Chenin Blanc (60%), Verdelho (40%), safra 2001, impressiona bem pelo aroma diferente, de
boa intensidade -que mescla
frutas tropicais e certo toque mineral-, e pelo seu paladar redondo com leve açúcar residual.
Mostrou também boa performance o Sandalford Chardonnay
2001, elaborado com fruta de
Margaret River, que tem sabor e
aroma bem marcados por madeira (toques torrados, cravo) e fruta,
bom corpo e final um pouco alcoólico, mas longo e agradável.
No departamento dos tintos,
destaque para dois: o Sandalford
Merlot 2000 e o Cabernet Sauvignon 1999. O primeiro tem perfume atraente que combina traços
de carvalho (baunilha, leve caramelo) e frutas vermelhas, bom
corpo e acidez. Um degrau acima,
o Cabernet tem belo aroma dominado por cassis, complementado
por pinceladas de couro e toques
de caramelo que continuam na
boca, num paladar persistente e
com boa textura.
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