São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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MUNDO DE BACO

Australianos antigos enfim aportam no Brasil

JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA

Talvez um pouco à sombra das principais províncias vinícolas australianas (como Nova Gales do Sul, Austrália Meridional e Victoria, que concentram a maior parte da produção e as mais renomadas regiões do país, tais como Coonawarra, Barossa e Yarra), a Austrália Ocidental também produz bons vinhos.
Aliás, o Estado, que ocupa toda a parte ocidental do continente, é um dos mais antigos produtores de vinho da Austrália, tendo plantado os seus primeiros vinhedos em 1829.
No início, a produção se concentrou em Swan Valley, ao norte da capital, Perth, uma das áreas vitivinícolas mais quentes do mundo e, por isso, considerada por alguns como pouco apropriada para a produção de vinhos de mesa de qualidade.
O destino da área começou a mudar há cerca de 40 anos, graças a um grupo de médicos que decidiu apostar na produção de vinhos em Margaret River, apontada em estudos da época como possuidora de um clima muito mais ameno -similar, em muitos aspectos- ao da região francesa de Bordeaux.
O dr. Tom Cullity foi o pioneiro, plantando as primeiras videiras em 1967 e dando origem ao Vasse Felix, um belo cabernet sauvignon (que, no início da década de 80, confesso, foi o primeiro vinho que me fez virar os olhos para os tintos australianos).
Kevin Cullen, da atual vinícola Cullen, e Bill Pannell, fundador da Moss Wood (dona até hoje de um tremendo cabernet, um dos melhores tintos do país), seguiram os seus passos, ajudando a dar forma a uma região que colocou a Austrália Ocidental de vez no mapa dos vinhos finos australianos.
Para aqueles que queiram conferir o nível dos goles desse remoto canto da Oceania, há uma boa notícia: acabam de chegar ao Brasil os tintos e os brancos da Sandalford. A estreante é uma antiga vinícola (fundada em 1840) de Swan Valley, mas que elabora os seus vinhos utilizando também uvas de Margaret River, de Frankland River e de Mount Barker.
Entre os brancos da primeira leva, o Element (rótulo básico da casa) Chenin Blanc (60%), Verdelho (40%), safra 2001, impressiona bem pelo aroma diferente, de boa intensidade -que mescla frutas tropicais e certo toque mineral-, e pelo seu paladar redondo com leve açúcar residual.
Mostrou também boa performance o Sandalford Chardonnay 2001, elaborado com fruta de Margaret River, que tem sabor e aroma bem marcados por madeira (toques torrados, cravo) e fruta, bom corpo e final um pouco alcoólico, mas longo e agradável.
No departamento dos tintos, destaque para dois: o Sandalford Merlot 2000 e o Cabernet Sauvignon 1999. O primeiro tem perfume atraente que combina traços de carvalho (baunilha, leve caramelo) e frutas vermelhas, bom corpo e acidez. Um degrau acima, o Cabernet tem belo aroma dominado por cassis, complementado por pinceladas de couro e toques de caramelo que continuam na boca, num paladar persistente e com boa textura.



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