São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2005

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ANÁLISE

Rodas reúnem talento e alegria na periferia

DA SUCURSAL DO RIO

Hoje seria um "time dos sonhos" do samba, mas no final dos anos 70/início dos 80 era apenas um bando de desconhecidos que se encontrava na quadra do Cacique de Ramos (zona norte). Tudo começou, não por acaso, às segundas, mas depois se firmou às quartas. A idéia era apenas jogar futebol, beber cerveja e cantar samba da maneira mais informal possível. Só que Beth Carvalho descobriu aqueles músicos e compositores, levou-os para seus discos, e o samba nunca mais foi o mesmo.
Daquelas rodas surgiram o grupo Fundo de Quintal, Jorge Aragão, Almir Guineto, Sombrinha, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da Vila, Jovelina Pérola Negra, Mauro Diniz... Também surgiu uma nova forma de tocar samba, hoje hegemônica: com o banjo afinado como cavaquinho (trazido por Guineto do morro do Salgueiro), o repique de mão (invenção de Ubirany) e o tantã (adaptação das tamboras de bolero feita por Sereno).
Mais: voltou a ganhar força o partido-alto, a mais tradicional e (para muitos) mais difícil forma de se fazer samba: uma primeira parte fixa enseja segundas improvisadas na hora.
Como a história nunca se repete -a não ser como farsa-, o "Samba do Trabalhador" não tem a obrigação de construir um caminho tão inovador quanto o dos pagodes de 20, 25 anos atrás. Aliás, foi a falta de uma obrigação comercial que possibilitou a revolução dos anos 80. Quando foi incorporada pela indústria fonográfica, ela logo se diluiu em grupos pasteurizados e farsescos.
Mas, pelo menos, Moacyr Luz e os outros compositores que vêm se reunindo às segundas já sabem que não é impossível acontecer algo interessante de baixo para cima. Foi assim que o samba surgiu, no início do século 20, e foi sempre assim que o samba se renovou. A junção de talento, honestidade e alegria raramente é estéril.

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