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ANÁLISE
Rodas reúnem talento e alegria na periferia
DA SUCURSAL DO RIO
Hoje seria um "time dos sonhos" do samba, mas no final
dos anos 70/início dos 80 era
apenas um bando de desconhecidos que se encontrava na
quadra do Cacique de Ramos
(zona norte). Tudo começou,
não por acaso, às segundas,
mas depois se firmou às quartas. A idéia era apenas jogar futebol, beber cerveja e cantar
samba da maneira mais informal possível. Só que Beth Carvalho descobriu aqueles músicos e compositores, levou-os
para seus discos, e o samba
nunca mais foi o mesmo.
Daquelas rodas surgiram o
grupo Fundo de Quintal, Jorge
Aragão, Almir Guineto, Sombrinha, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da Vila,
Jovelina Pérola Negra, Mauro
Diniz... Também surgiu uma
nova forma de tocar samba,
hoje hegemônica: com o banjo
afinado como cavaquinho (trazido por Guineto do morro do
Salgueiro), o repique de mão
(invenção de Ubirany) e o tantã
(adaptação das tamboras de
bolero feita por Sereno).
Mais: voltou a ganhar força o
partido-alto, a mais tradicional
e (para muitos) mais difícil forma de se fazer samba: uma primeira parte fixa enseja segundas improvisadas na hora.
Como a história nunca se repete -a não ser como farsa-,
o "Samba do Trabalhador" não
tem a obrigação de construir
um caminho tão inovador
quanto o dos pagodes de 20, 25
anos atrás. Aliás, foi a falta de
uma obrigação comercial que
possibilitou a revolução dos
anos 80. Quando foi incorporada pela indústria fonográfica,
ela logo se diluiu em grupos
pasteurizados e farsescos.
Mas, pelo menos, Moacyr
Luz e os outros compositores
que vêm se reunindo às segundas já sabem que não é impossível acontecer algo interessante de baixo para cima. Foi assim que o samba surgiu, no início do século 20, e foi sempre
assim que o samba se renovou.
A junção de talento, honestidade e alegria raramente é estéril.
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