São Paulo, sábado, 18 de julho de 1998

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DEPOIMENTOS

Nádia Battella Gotlib, professora da USP, autora de "Clarice, uma Vida que se Conta" - "Quando tinha um texto pronto, ainda continuava a pensar se substituiria uma palavra ou outra, se deixaria ou não uma vírgula em determinado lugar. Há várias observações desse tipo nas cartas que escreveu a amigos que liam seus originais. Gostaria muito de conhecer algumas dessas versões anteriores aos textos definitivos e publicados, caso aparecessem. Pelo menos para satisfazer a curiosidade em relação a essa "gestação' de contos e romances: como foram eles se formando? Para nos dizer o quê? Se alguém encontrar pelo menos uma das onze versões de "A Maçã no Escuro', por favor, me avise!"

Silviano Santiago, escritor e crítico de literatura - "Não sei desses originais. Se eles aparecessem, haveria uma pequena revolução nos arraiais da crítica de Lispector, a não ser que sejam iguais à primeira edição. Eu duvido que possam existir. Não se pode comparar Clarice a Carlos Drummond de Andrade, que arquivava tudo. Ela me parece uma autora mais espontânea. Mas é tudo palpite."

Tania Kaufmann, escritora, irmã de Clarice Lispector - "Eu não me lembro de ter visto esses originais. Nossa relação era muito fraternal, mas não entrava nessa parte de trabalho. Eu não fiquei com nada. Ela fazia tudo à máquina. Não é impossível que ela tenha destruído, pode ter acontecido, mas não tenho certeza."

Olga Borelli, autora de "Clarice Lispector: Esboço Para um Possível Retrato" - "Ela não tinha sequência lógica, às vezes começava pelo meio, pelo fim. Clarice falava que, se entendesse muito sobre o idioma, não escreveria uma palavra. Isso ficava a cargo do tipógrafo. Nunca mencionava nada sobre guardar seus originais. Nem poderia se preocupar. Ela dizia: "Passo rapidamente sobre so fatos porque a meditação profunda me espera'."

Paulo Rocco, editor - "Ela não era de marcar em cima o editor. Achava que não mexeria naquilo que já tinha feito. Fez muitas traduções, escreveu também por necessidade financeira."

Teresa Cristina Montero Ferreira, autora de "Eu Sou uma Pergunta - uma Biografia de Clarice Lispector" - "Com os originais, a gente poderia ter uma idéia de até que ponto ela mexeu ou não nos livros. Pelo fato de ela gostar de escrever inspirada, acho que, se vendo livre do original, ela não se preocupava mais. Por esse descuido, isso se perdeu."

Eliane Vasconcelos, diretora do arquivo-museu da Fundação Casa de Rui Barbosa - "Como pesquisadora, sinto não ter acesso a esses originais, que talvez pudessem vir a esclarecer o processo de criação de Clarice Lispector."



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