São Paulo, sábado, 18 de julho de 1998

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MÚSICA
Encontro terá outras duas atrações, até o próximo dia 31 de julho
Pífanos e gaitas revelam sopro popular

SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente da Ilustrada

Seu CD, "Soprando o Canudinho", lançado no ano passado, está esgotado e aguardando uma segunda edição. Os dois primeiros, em vinil, nem existem mais em catálogo.
A fama do pernambucano Edmílson do Pífano, 36, nascido em Lajedo, começou longe do mundo dos discos, nas festas e forrós em que começou a se apresentar, com seu pai, aos 8 anos de idade.
Sua última aparição para o grande público foi no Abril Pro Rock, em Recife, em abril deste ano.
"Tenho uma pisada macia e os paulistas vão gostar de me ouvir", diz o tocador de pífano, um dos artistas que sobem ao palco do Sesc Ipiranga hoje.
Sua relação com o público paulista, porém, não é nova e ele lembra com nostalgia das noites em que tocava no restaurante de comida baiana Andrade, em Pinheiros. "Era uma alegria, ia lá comer e ver umas pessoas. Quando me dava conta, estava no palco fazendo um som gostoso a noite toda."
As flautas populares serão as homenageadas no concerto desta noite dentro do evento "Encontros com a Dança e a Música Brasileiras", que acontece no Sesc e no teatro Brincante até 31 de julho.
A noite será dividida em duas apresentações: "A Música de João Pernambuco" e "Gaiteiros, Pifeiros e Flautistas". Edmílson do Pífano integra o segundo ato.
O organizador do projeto, o músico, ator e pesquisador Antônio Nóbrega, vê o show como uma oportunidade de mostrar ao público paulista um tipo de música e instrumentos relativamente desconhecidos: "tenho medo que as pessoas confundam a gaita popular, dos caboclinhos, com a gaita do blues", disse, em entrevista à Folha. E explica: "a gaita do Nordeste é como uma flauta tocada de modo frontal. Já o pífano, outro pouco conhecido, é um instrumento de madeira com seis furos e sonoridade única."

João Pernambuco
A noite será aberta com uma homenagem a João Pernambuco (1883-1947).
Hoje esquecido, o violonista foi um dos responsáveis pelo encontro da música regional nordestina com o samba e o choro cariocas.
Isso aconteceu nos anos 10, quando o violão ainda era um instrumento tido como marginal nas rodas de choro, que se constituíam de forma semelhante a conjuntos camerísticos.
Além de contribuir com a introdução do violão no samba e no choro, Pernambuco foi um dos disseminadores da idéia do improviso na composição de maxixes, repentes e choros. Suas obras remetem às técnicas dos tocadores de violão do sertão nordestino.
Leandro Carvalho, um violonista de 21 anos, lançou no final do ano passado o disco "João Pernambuco - O Poeta do Violão".
O álbum, que será mostrado nesta noite, é uma reinterpretação da obra de Pernambuco, feita a partir de partituras que Carvalho reuniu em sua pesquisa.

Encontro didático
Os shows do "Encontro com a Dança e a Música Brasileiras" estão superando as expectativas do seu organizador, Antônio Nóbrega. "Tivemos casa cheia nos shows e nos workshops", afirma.
Paralelamente às apresentações, diversas oficinas de música regional estão sendo ministradas no teatro Brincante e no Sesc Ipiranga. Todas as aulas já estão com a lotação esgotada, mesmo aquelas que abriram turmas extras.
É o caso das aulas de percussão de Zezinho Pitoco, arranjador dos espetáculos e discos de Antônio Nóbrega. Autodidata -toca sax, clarineta e bateria, entre outros instrumentos-, ele organiza e ministra cursos pouco usuais de zabumba, triângulo e improvisação. "É importante mostrar outras formas de aprender a tocar um instrumento", diz Pitoco.
As oficinas estão servindo para que Nóbrega repense o projeto do Brincante. Inicialmente idealizado para abrigar seus espetáculos, acabou "ficando pequeno" para Nóbrega. "Fui me apresentar em lugares maiores e o Brincante ficou subutilizado", diz ele.
Em agosto, será ministrado um curso para arte-educadores, com o objetivo de instrumentalizá-los dentro de um repertório de cantigas populares e música regional.


O quê: Gaiteiros, Pifeiros e Flautistas Quando: hoje, às 21h e amanhã, às 20h Onde: Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822, Ipiranga, região sudeste, tel. 3340-2000) 250 lugares Quanto: R$ 10



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