São Paulo, sábado, 18 de julho de 1998

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JAZZ
Diretor do festival italiano acha difícil sobreviver sem outros gêneros musicais
Umbria transforma espetáculo de João Gilberto em novo disco

CARLOS CALADO
enviado especial a Perugia

Quando teve a idéia de criar um festival de jazz, na pacata e montanhosa região de Umbria (na parte central da Itália), em 1972, Carlo Pagnotta era dono de uma loja de roupas masculinas. Hoje, ele dirige um dos eventos mais conceituados do gênero.
Comemorando os 25 anos de seu festival, em entrevista à Folha, Pagnotta diz ser fã de música brasileira e que está preparando um CD com o show de João Gilberto em Umbria, em 1996.
Folha - O Umbria Jazz começou a programar música brasileira em 1988. Por quê?
Carlo Pagnotta -
A música é universal. Por que não incluir música brasileira? Eu aprecio a bossa-nova há 40 anos. A amizade que tenho por João Gilberto me levou até Nova York, no mês passado, para assisti-lo no Carnegie Hall. Aliás, estamos produzindo um CD ao vivo, em parceria com o selo Verve, que registra o show que João fez no Umbria Jazz há dois anos. João decidiu doar seu adiantamento sobre esse disco para as obras de recuperação das cidades afetadas pelo terremoto que atingiu a região, no ano passado. Aproveito a oportunidade para agradecer a ele por essa demonstração de carinho por Umbria.
Folha - Os festivais de jazz estão se abrindo cada vez mais a outros gêneros. É difícil manter uma programação jazzística?
Pagnotta -
Eu costumo chamar isso de contaminação. Hoje em dia é difícil sobreviver sem ela. Ainda mais num festival de 10 dias, com música do meio-dia até as 4h da madrugada. Em edições passadas, quando quisemos atingir um público maior, programamos Sting com a orquestra de Gil Evans, Phil Collins com sua "big band" ou mesmo Eric Clapton, mas isso não é realmente fundamental para nosso festival. Graças a nossos patrocinadores e ao dinheiro público, podemos sobreviver sem precisar fazer shows em estádios de futebol. Afinal, jazz é jazz e rock é rock. Se eles puderem se unir, de vez em quando, tudo bem. Mas minha intenção é organizar um festival diferente a cada ano, com os melhores músicos de jazz que eu possa conseguir.
Folha - O sr. diria que existe menos interesse pelo jazz hoje do que em décadas passadas?
Pagnotta -
Não sei se o interesse diminuiu, mas quando começamos o festival, em 1973, 90% das pessoas que vinham a Umbria estavam interessadas no ambiente e não especialmente na música. Com o tempo, porém, elas foram se interessando, a ponto de pagar pelos ingressos. Hoje, mesmo quando o ingresso é gratuito, muita gente vem pela música.
Folha - Que momentos o sr. destaca nos 25 anos do Umbria Jazz?
Pagnotta -
Não posso esquecer amigos como o Art Blakey, por exemplo, que tocou de graça, em 1978, porque eu estava me casando. O concerto de Miles Davis, em 1982, foi inesquecível.



O jornalista Carlos Calado viajou a convite da PolyGram e do Umbria Jazz.



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