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JAZZ
Diretor do festival italiano acha difícil sobreviver sem
outros gêneros musicais
Umbria transforma espetáculo de João Gilberto em novo disco
CARLOS CALADO
enviado especial a Perugia
Quando teve a idéia de criar um
festival de jazz, na pacata e montanhosa região de Umbria (na parte
central da Itália), em 1972, Carlo
Pagnotta era dono de uma loja de
roupas masculinas. Hoje, ele dirige um dos eventos mais conceituados do gênero.
Comemorando os 25 anos de seu
festival, em entrevista à Folha,
Pagnotta diz ser fã de música brasileira e que está preparando um
CD com o show de João Gilberto
em Umbria, em 1996.
Folha - O Umbria Jazz começou a
programar música brasileira em
1988. Por quê?
Carlo Pagnotta - A música é
universal. Por que não incluir música brasileira? Eu aprecio a bossa-nova há 40 anos. A amizade que
tenho por João Gilberto me levou
até Nova York, no mês passado,
para assisti-lo no Carnegie Hall.
Aliás, estamos produzindo um CD
ao vivo, em parceria com o selo
Verve, que registra o show que
João fez no Umbria Jazz há dois
anos. João decidiu doar seu adiantamento sobre esse disco para as
obras de recuperação das cidades
afetadas pelo terremoto que atingiu a região, no ano passado.
Aproveito a oportunidade para
agradecer a ele por essa demonstração de carinho por Umbria.
Folha - Os festivais de jazz estão
se abrindo cada vez mais a outros
gêneros. É difícil manter uma programação jazzística?
Pagnotta - Eu costumo chamar
isso de contaminação. Hoje em dia
é difícil sobreviver sem ela. Ainda
mais num festival de 10 dias, com
música do meio-dia até as 4h da
madrugada. Em edições passadas,
quando quisemos atingir um público maior, programamos Sting
com a orquestra de Gil Evans, Phil
Collins com sua "big band" ou
mesmo Eric Clapton, mas isso não
é realmente fundamental para
nosso festival. Graças a nossos patrocinadores e ao dinheiro público, podemos sobreviver sem precisar fazer shows em estádios de
futebol. Afinal, jazz é jazz e rock é
rock. Se eles puderem se unir, de
vez em quando, tudo bem. Mas
minha intenção é organizar um
festival diferente a cada ano, com
os melhores músicos de jazz que
eu possa conseguir.
Folha - O sr. diria que existe menos interesse pelo jazz hoje do que
em décadas passadas?
Pagnotta - Não sei se o interesse diminuiu, mas quando começamos o festival, em 1973, 90% das
pessoas que vinham a Umbria estavam interessadas no ambiente e
não especialmente na música.
Com o tempo, porém, elas foram
se interessando, a ponto de pagar
pelos ingressos. Hoje, mesmo
quando o ingresso é gratuito, muita gente vem pela música.
Folha - Que momentos o sr. destaca nos 25 anos do Umbria Jazz?
Pagnotta - Não posso esquecer
amigos como o Art Blakey, por
exemplo, que tocou de graça, em
1978, porque eu estava me casando. O concerto de Miles Davis, em
1982, foi inesquecível.
O jornalista Carlos Calado viajou
a convite da PolyGram e do Umbria Jazz.
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