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LITERATURA
Andrew Hussey escreveu o livro "The Game of War - The Life and Death of Guy Debord", sobre a vida do escritor
"Seu suicídio é nobre e poético", diz autor
DE PARIS
"The Game of War", de Andrew
Hussey, tem esse título porque
Debord (1931-1994) era apaixonado por jogos de guerra, bem como
por grandes estrategistas. A descoberta, na juventude, da obra-prima de Johan Huizinga, "Homo
Ludens", com sua idéia de que o
instinto lúdico é predominante
no homem, o marcou.
Na biografia, Debord aparece
como um herói guerreiro, lutando contra o conformismo e defendendo a utopia de um mundo em
que vida e arte, pensamento e
ação, guerra e jogo não apareçam
como contradições.
É um homem intransigente e severo, concentrado em seus propósitos e odiado pela maioria da
intelligentsia francesa. Quando
jovem, mergulha na boemia parisiense, convivendo com marginais, bandidos e artistas desgarrados. Na velhice, dedica-se à gastronomia e aos bons vinhos. O álcool acaba por lhe afetar a saúde,
mas não a lucidez nem o rigor.
Mata-se com um tiro de fuzil no
peito. "Seu suicídio é um ato nobre e poético", diz Hussey na entrevista feita em Paris, onde passava as férias.
(ALCINO LEITE NETO)
Folha - Em que momento Debord
deixa de ser um simples vanguardista e se torna um dos principais
pensadores de seu tempo?
Andrew Hussey - É uma questão
complicada. Acho que Debord
sempre foi um filósofo, mas segundo a sua idéia de uma filosofia
em ação, que não é uma idéia vanguardista, mas clássica: pensamento e ação não podem ser separados. Não se pode dissociar,
em Debord, o pensamento da
ação, a escrita da ação. Tomei
muito cuidado neste livro para
não deixar brechas para que ele
fosse lido como um pós-modernista. Ele é o oposto disso.
Folha - Como os pós-modernistas
recuperam Debord?
Hussey - Com sua ênfase no texto e na intertextualidade, retiram
seu potencial revolucionário. Não
querem mudar nem transformar
o mundo: querem apenas interpretá-lo. O pós-modernismo é
parte do espetáculo integrado, como nas universidades americanas, cheias de marxistas, ou de
pós-marxistas, ou de pós-modernistas, cuja influência sobre a sociedade americana é nula.
Folha - Você acha que Debord estaria sendo mais bem compreendido pela chamada geração Seattle?
Hussey - Os militantes são tão diferentes e tão variados que é difícil
saber. Mas, fundamentalmente,
todos têm essa idéia, como Debord, de que algo precisa mudar.
Há muitas coisas que essa geração
poderia encontrar nos seus livros
e que não constituiriam um programa, mas um método para interrogar e desafiar o mundo com
demandas utópicas e irrealistas.
Folha - O suicídio de Debord parece ser uma questão central no seu
livro, um enigma que você tenta resolver. Qual seria, afinal, a chave?
Hussey - Não diria que é o ponto
central, mas percorre todo o livro.
Não podemos entender Debord
inteiramente sem que entendamos o modo como deu fim à sua
vida. Uma de suas qualidades heróicas é que pensava a vida e a arte
como uma totalidade. O suicídio é
um "potlatch", um presente que
não pode ser retribuído. É um ato
nobre e poético.
THE GAME OF WAR - THE LIFE AND DEATH OF GUY DEBORD. De Andrew
Hussey. Ed. Jonathan Cape. 420 págs.,
18,99 libras (cerca de R$ 68). Onde
encontrar: www.amazon.co.uk.
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