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CINEMA
Organização do festival pretende que evento sirva como plataforma para a exibição de inéditos e experimentalismos
Gramado quer privilegiar a arte em vez do glamour
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a exibição no Palácio dos
Festivais, nesta noite, da produção paulista "De Passagem", longa-metragem de estréia de Ricardo Elias, começa a competição
entre cinco filmes brasileiros inéditos no 31º Festival de Gramado
- Cinema Brasileiro e Latino.
O privilégio ao ineditismo é um
primeiro passo da organização de
Gramado no objetivo de obter da
Fiapf -Federação Internacional
das Associações de Produtores de
Filmes, que regulamenta os festivais internacionais- a classificação "A", reservada às mostras que
sediam estréias.
O crítico Luís César Cozatti, integrante do comitê de seleção dos
filmes que competem em Gramado, diz que o objetivo do festival é
"servir de alavanca para mostrar
o inédito, o experimentalismo,
trabalhos artísticos que vão além
do mero comercialismo".
A intenção esbarra em pelo menos dois empecilhos. Há anos
Gramado consolidou um perfil de
"festival de estrelas". E as estrelas,
como se sabe, pertencem muito
mais ao universo da TV do que
propriamente do cinema.
Resulta daí o fato de que o tapete vermelho por onde circulam
astros da telenovela acaba sendo o
mais ressaltado aspecto dos dias
de festival.
Arte x glamour
"Essa é uma tensão permanente
[entre a consistência artística e a
frivolidade do glamour]", diz Cozatti. "Queremos garantir qualidade em primeiro lugar. Depois,
vêm as concessões, que são inevitáveis e podem ser feitas. Mantido
o critério estético, a programação
pode e deve ganhar espaço até na
revista "Caras'", afirma.
O segundo obstáculo à meta dos
curadores de destacar a criação
artística que ultrapasse o "comercialismo" está na escassez da oferta de produções com esse perfil.
Apesar da onda de entusiasmo
do público [os lançamentos nacionais já alcançaram a marca de
10 milhões de ingressos vendidos
em 2003, contra um total de 7,2
milhões durante todo o ano de
2002] e da crítica com a qualidade
dos filmes brasileiros recentes, o
curador diz ter observado que
"apenas a produção de documentários está numa média de alto padrão".
É de esperar, portanto, altos e
baixos na seção ficcional, que peneirou cinco filmes entre 50 considerados.
Em categoria à parte, quatro filmes documentais competem nesta edição da mostra. Entre eles está "O Prisioneiro da Grade de Ferro", filme de Paulo Sacramento
sobre a vida de presidiários no
Carandiru, que venceu neste ano
o festival É Tudo Verdade e representará o Brasil na seção Novos
Territórios do próximo Festival
de Veneza (de 27 de agosto a 6 de
setembro).
Exemplo
Quanto ao quinteto de longas
latinos -também inéditos em
circuito comercial brasileiro-
que completam a disputa de títulos de ficção, Cozatti diz tratar-se
do "crème de la crème".
Sobre o espanhol "Los Lunes al
Sol" (Segundas ao Sol), de Fernando León de Aranoa -que
também será exibido hoje, antes
de "De Passagem"-, o curador
diz: "O Brasil devia se mirar nesse
exemplo. Ele não tem medo de
pegar o touro à unha, no caso, a
mazela do desemprego, e fazer
disso não um panfleto político,
mas mostrar seu efeito erosivo na
vida das pessoas".
"Los Lunes al Sol" foi indicado
pela Espanha ao Oscar de melhor
estrangeiro em 2003, numa decisão que preteriu "Fale com Ela",
de Pedro Almodóvar.
(SILVANA ARANTES)
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