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MÚSICA
Guitarrista Dave Navarro comenta o lançamento de "Strays", que marca volta da banda após conflitos internos
Jane's Addiction renasce após 13 anos
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
Depois de vencer problemas
pessoais e com as drogas e de retomar a química certa para compor, o Jane's Addiction consegue,
após 13 anos, finalmente lançar
seu esperado quarto álbum de
canções inéditas.
O quarteto retorna ao cenário
roqueiro não só com o recém-lançado "Strays", mas com a tarefa
de fechar as noites da ressuscitada
versão do Lollapalooza, festival
itinerante idealizado e realizado
com grande sucesso, no início dos
anos 90, pelo cantor do grupo,
Perry Farrell.
Ensaiando sua volta desde 1997,
período em que promoveu apresentações e composições esporádicas, a banda rompeu o hiato nos
estúdios contando com três quartos de sua formação original -o
baixista Eric Avery preferiu ficar
de fora e foi substituído por Chris
Chaney- e teve o experiente produtor Bob Ezrin para conduzi-los.
O resultado foi bem-sucedido:
"Strays" teve boa recepção da crítica e estreou direto na quarta posição da parada da "Billboard".
Se o nome de Ezrin (que tem em
seu currículo trabalhos com Lou
Reed, Alice Cooper e também o
clássico brega-oitentista "Take
My Breath Away", do grupo Berlin) pode soar estranho em um
primeiro momento, isso é relativizado se vista a excêntrica trajetória da banda de Los Angeles.
Foi com Dave Navarro na guitarra, que interpunha acordes de
metal entre texturas etéreas à
Cocteau Twins e levadas funk,
além da voz algo Pato Donald de
Farrell, que o grupo conseguiu
atenção de imprensa e gravadoras, até se tornar um marco importante do rock da década passada. A ascensão do grupo só foi interrompida com o desgaste pós-sucesso de "Ritual de lo Habitual"
(1990), junto à época barra pesada
com drogas de seus integrantes.
Para o guitarrista Navarro, em
entrevista à Folha, por telefone,
não abrir mão de suas convicções
artísticas foi o segredo do êxito: "É
provavelmente por isso que nós
estamos ainda por aí juntos, porque sempre permanecemos verdadeiros ao que queríamos fazer,
verdadeiros à forma de nossa arte.
Mas isso não aconteceu só conosco; veja o Led Zeppelin, eles não
eram necessariamente a banda
ideal para tocar no rádio, mas
conseguiram entrar na programação. Acho que nós somos como eles, escrevemos canções nos
direcionando para lugares diferentes, passando emoções diferentes, com honestidade, e acho
que o resultado disso é que nós
conseguimos seguir em frente".
Bater o pé por suas concepções
musicais pode ter funcionado para Navarro ter se tornado um
"guitar hero" à época do Jane's
Addiction, mas também lhe deu
fama de difícil, principalmente
pela sua rápida e turbulenta passagem no Red Hot Chili Peppers.
À época das gravações do álbum
"One Hot Minute" (1995), chegou-se a cogitar que o baixista
Flea abandonaria o grupo que
fundara só por causa das diferenças artísticas com o músico.
Mas Navarro se irrita quando o
tema é sua personalidade: "Olha,
eu toco desde 1986 e já trabalhei
com artistas como Marilyn Manson, Mariah Carey, Ron Wood,
Michael Jackson, Christina Aguilera [enumera outros dez artistas], não me parece o currículo de
alguém difícil de lidar. Mas, veja,
os Chili Peppers tiveram mais ou
menos 12 guitarristas em sua formação. Talvez eles é que sejam difíceis de você lidar".
E complementa dizendo que a
convivência com o produtor
Ezrin, na criação de "Strays", foi
tranquila e fértil. "Bob nos ajudou
a escrever músicas e a lapidar as
nossas composições. Ele tinha todas as credenciais para trabalhar
conosco, tinha produzido "The
Wall" do Pink Floyd, que, por sinal, é o meu disco preferido e se
enquadra no conceito do Jane's
Addiction por ser multidimensional, sonoramente falando."
Embora seja uma clara continuação do amálgama sonoro
adotado pelo quarteto há quase
duas décadas, "Strays" apresenta
uma novidade: a tecnologia que
não permite a reprodução digital
e a consequente disponibilização
para download pela internet.
No entanto, Navarro não endossa o novo formato. "Nós somos uma banda de shows. Alguém pode baixar uma música
nossa e resolver nos assistir." O
que poderia modificar radicalmente a indústria fonográfica no
futuro. "Seria ótimo. Bem, o homem criou a internet, sabe o que
está fazendo. E, para falar a verdade, não tenho reclamações. Tenho
36 anos, toco numa grande banda
de rock, estou em turnê, estou
apaixonado. Para quem está baixando o disco... bom proveito."
STRAYS. Artista: Jane's Addiction.
Lançamento: EMI. Quanto: R$ 30
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