UOL


São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Guitarrista Dave Navarro comenta o lançamento de "Strays", que marca volta da banda após conflitos internos

Jane's Addiction renasce após 13 anos

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Depois de vencer problemas pessoais e com as drogas e de retomar a química certa para compor, o Jane's Addiction consegue, após 13 anos, finalmente lançar seu esperado quarto álbum de canções inéditas.
O quarteto retorna ao cenário roqueiro não só com o recém-lançado "Strays", mas com a tarefa de fechar as noites da ressuscitada versão do Lollapalooza, festival itinerante idealizado e realizado com grande sucesso, no início dos anos 90, pelo cantor do grupo, Perry Farrell.
Ensaiando sua volta desde 1997, período em que promoveu apresentações e composições esporádicas, a banda rompeu o hiato nos estúdios contando com três quartos de sua formação original -o baixista Eric Avery preferiu ficar de fora e foi substituído por Chris Chaney- e teve o experiente produtor Bob Ezrin para conduzi-los. O resultado foi bem-sucedido: "Strays" teve boa recepção da crítica e estreou direto na quarta posição da parada da "Billboard".
Se o nome de Ezrin (que tem em seu currículo trabalhos com Lou Reed, Alice Cooper e também o clássico brega-oitentista "Take My Breath Away", do grupo Berlin) pode soar estranho em um primeiro momento, isso é relativizado se vista a excêntrica trajetória da banda de Los Angeles.
Foi com Dave Navarro na guitarra, que interpunha acordes de metal entre texturas etéreas à Cocteau Twins e levadas funk, além da voz algo Pato Donald de Farrell, que o grupo conseguiu atenção de imprensa e gravadoras, até se tornar um marco importante do rock da década passada. A ascensão do grupo só foi interrompida com o desgaste pós-sucesso de "Ritual de lo Habitual" (1990), junto à época barra pesada com drogas de seus integrantes.
Para o guitarrista Navarro, em entrevista à Folha, por telefone, não abrir mão de suas convicções artísticas foi o segredo do êxito: "É provavelmente por isso que nós estamos ainda por aí juntos, porque sempre permanecemos verdadeiros ao que queríamos fazer, verdadeiros à forma de nossa arte. Mas isso não aconteceu só conosco; veja o Led Zeppelin, eles não eram necessariamente a banda ideal para tocar no rádio, mas conseguiram entrar na programação. Acho que nós somos como eles, escrevemos canções nos direcionando para lugares diferentes, passando emoções diferentes, com honestidade, e acho que o resultado disso é que nós conseguimos seguir em frente".
Bater o pé por suas concepções musicais pode ter funcionado para Navarro ter se tornado um "guitar hero" à época do Jane's Addiction, mas também lhe deu fama de difícil, principalmente pela sua rápida e turbulenta passagem no Red Hot Chili Peppers. À época das gravações do álbum "One Hot Minute" (1995), chegou-se a cogitar que o baixista Flea abandonaria o grupo que fundara só por causa das diferenças artísticas com o músico.
Mas Navarro se irrita quando o tema é sua personalidade: "Olha, eu toco desde 1986 e já trabalhei com artistas como Marilyn Manson, Mariah Carey, Ron Wood, Michael Jackson, Christina Aguilera [enumera outros dez artistas], não me parece o currículo de alguém difícil de lidar. Mas, veja, os Chili Peppers tiveram mais ou menos 12 guitarristas em sua formação. Talvez eles é que sejam difíceis de você lidar".
E complementa dizendo que a convivência com o produtor Ezrin, na criação de "Strays", foi tranquila e fértil. "Bob nos ajudou a escrever músicas e a lapidar as nossas composições. Ele tinha todas as credenciais para trabalhar conosco, tinha produzido "The Wall" do Pink Floyd, que, por sinal, é o meu disco preferido e se enquadra no conceito do Jane's Addiction por ser multidimensional, sonoramente falando."
Embora seja uma clara continuação do amálgama sonoro adotado pelo quarteto há quase duas décadas, "Strays" apresenta uma novidade: a tecnologia que não permite a reprodução digital e a consequente disponibilização para download pela internet.
No entanto, Navarro não endossa o novo formato. "Nós somos uma banda de shows. Alguém pode baixar uma música nossa e resolver nos assistir." O que poderia modificar radicalmente a indústria fonográfica no futuro. "Seria ótimo. Bem, o homem criou a internet, sabe o que está fazendo. E, para falar a verdade, não tenho reclamações. Tenho 36 anos, toco numa grande banda de rock, estou em turnê, estou apaixonado. Para quem está baixando o disco... bom proveito."


STRAYS. Artista: Jane's Addiction. Lançamento: EMI. Quanto: R$ 30


Texto Anterior: Memória: Poeta concebeu "galáxia" de milhares de estrelas
Próximo Texto: Novo CD estimula retorno do festival Lollapalooza
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.