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Crítica/"Half the Perfect World"
Em novo disco, Madeleine Peyroux simplifica o genial
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Madeleine Peyroux é
uma cantora especial. Talvez a melhor
e mais importante cantora de
jazz dos últimos, digamos, 15 ou
20 anos, Peyroux é daquelas artistas que inspiram paixões.
Entre seus fãs, parece existir
uma certa comunhão, como se
sua música fosse um segredo
dividido e entendido por poucos mais iluminados, que compartilham de uma certa sensibilidade como a dela.
Seu primeiro álbum,
"Dreamland", de 1996, gerou
elogios por todos os lados onde
foi ouvido. Seu segundo, "Careless Love", de 2004, vendeu
mais de um milhão de cópias no
mundo todo e sua turnê chegou
até ao Brasil. Seu terceiro, "Half
the Perfect World", tem data de
lançamento marcada para 12 de
setembro, nos EUA, mas mais
de um mês antes já podia ser
encontrado em programas de
troca de arquivos como SoulSeek, onde a reportagem da Folha teve acesso a uma cópia, antes que qualquer assessoria de
imprensa pudesse planejar estratégias de marketing.
Talvez a própria Peyroux se
incomodasse com tanta atenção. Notória inimiga dos esquemas impessoais das grandes
corporações, a cantora já chegou a extremos de desencanar
dos palcos para se apresentar
nas ruas de Paris; ou simplesmente desaparecer por alguns
dias para fugir da imprensa.
Peyroux é uma cantora das
suavidades, de climas construídos com piano, violão tocado
como se fosse um sussurro, bateria tocada com vassourinha.
Sua interpretação tem uma delicadeza que parece impossível.
Algo que se relaciona, por
exemplo, com João Gilberto.
Ou Billie Holiday.
Aproximações
Um de seus grandes talentos
é achar as músicas que ficam
perfeitas na sua voz, de diferentes referências. Em "Careless
Love", ela diminuía a distância
entre Elliott Smith e Josephine
Baker, W.C. Handy e Leonard
Cohen. Dessa vez, ela se encontra em "La Javanaise", de Serge
Gainsbourg, "Everybody's Talkin", de Fred Neil, "River", de
Joni Mitchell, "(Looking for)
The Heart of Saturday Night",
de Tom Waits, "Smile", de
Charles Chaplin.
Em "River", talvez o momento mais atípico -mas não menos bonito- do disco, Peyroux
canta em dueto com KD Lang,
vozes se fundindo. A participação é tão surpreendente quanto
eficaz, resultando em uma canção pop melancólica, de arrepiar fãs de Fiona Apple.
Um dos grandes talentos de
Madeleine Peyroux: ela simplifica o genial. Ouvindo, até parece fácil fazer um grande disco.
Como não existem mais cantoras assim? Como não existem
mais discos como esse? Aparentemente, é só fazer. Basta
saber escolher suas músicas, fazer grandes arranjos, juntar
uma ótima banda, ter bom gosto, misturar suas referências. E,
mais importante, ter uma voz
daquelas e cantar cada palavra
com aquela emoção.
HALF THE PERFECT WORLD
Artista: Madeleine Peyroux
Lançamento: Rounder/ Universal (o
disco será lançado nos EUA em 12/9)
Quanto: a definir
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