São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

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MPB/relançamentos

Integridade é marca de Bethânia integral

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Depois dos cinco CDs da EMI, agora chegam às lojas sete da Sony BMG e 22 da Universal. O esforço capitaneado pelo pesquisador Rodrigo Faour produziu um resultado raro na competitiva indústria fonográfica: pela primeira vez, estão em catálogo todos os discos de Maria Bethânia, comemorando os seus 60 anos.
E, felizmente, não estão só para abonados. Em vez de reunidos em caixas bonitas, mas de preço proibitivo, os CDs são avulsos, permitindo aos interessados completar suas coleções ou escolher os preferidos.
"Bethânia talvez seja a única cantora brasileira em cuja discografia se pode notar uma unidade do primeiro ao último disco", acredita Faour.
Na verdade, a unidade deriva da diversidade. Como o próprio Faour ressalta, Bethânia cantou peças tropicalistas sem se filiar ao movimento; regravou músicas da era de ouro de rádio quando isso ainda era um anátema; fez discos conceituais e acústicos nos anos 80, época em que não havia essa moda e a panacéia eram os sintetizadores -como hoje são os efeitos eletrônicos, também dispensados pela cantora; elegeu novos e antigos compositores de acordo com a sua preferência, não a da indústria.
Podem-se questionar várias opções de Bethânia, como o número excessivo de músicas de Gonzaguinha, o número idem de discos ao vivo, os pot-pourris que mutilam as músicas, algumas canções muito melosas, mas é nítido que todas as opções foram dela.
Quando peitou a então Polygram (hoje Universal) e pediu as contas em 93, recebeu como contraproposta gravar um disco só com o repertório de Roberto e Erasmo Carlos. Exigiu carta branca e fez um trabalho tão bonito quanto popular (quase 1 milhão de cópias).
"As Canções que Você Fez pra Mim" ainda estava em catálogo, mas a maioria dos álbuns do acervo da Universal, não. No pacote, estão discos da fase mais popular da cantora -de "Álibi" (78) a "Alteza" (81)- e outros pouco comerciais mas de grande qualidade, como "Ciclo" (83), que é o preferido dela, "Olho d'Água" (92) e o primeiro que fez na gravadora, "A Tua Presença" (71).
É um álbum marcado pelo exílio de Caetano Veloso, que mandou de Londres "Janelas Abertas nš 2" e "A Tua Presença Morena". Aliás, os trabalhos de Bethânia nos anos 70, como os dois "Drama" (72 e 73) e "A Cena Muda" (74), têm uma voz política forte e inteligente, pois não-panfletária.
Desse "A Tua Presença", fazem parte algumas das melhores gravações de sambas-canção feitas por Bethânia: "Olhe o Tempo Passando" (Dolores Duran/Edson Borges), "Folha Morta" (Ary Barroso) e "Se eu Morresse Amanhã" (Antonio Maria).
Ela nunca deixou de cantar esse gênero de música, e são vários os Lupicínios de sua discografia -mas Chico Buarque e Caetano são definitivamente os mais presentes.
Dos discos da época de Sony BMG, o destaque fica por conta da volta dos bons "Dezembros" (86) e "Maria" (88), do distante primeiro disco da cantora (gravado em 65) e da reunião dos compactos em que ela, também em 65, interpretou Noel Rosa brilhantemente.


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