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MPB/relançamentos
Integridade é marca de Bethânia integral
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Depois dos cinco CDs da
EMI, agora chegam às lojas sete
da Sony BMG e 22 da Universal. O esforço capitaneado pelo
pesquisador Rodrigo Faour
produziu um resultado raro na
competitiva indústria fonográfica: pela primeira vez, estão
em catálogo todos os discos de
Maria Bethânia, comemorando
os seus 60 anos.
E, felizmente, não estão só
para abonados. Em vez de reunidos em caixas bonitas, mas de
preço proibitivo, os CDs são
avulsos, permitindo aos interessados completar suas coleções ou escolher os preferidos.
"Bethânia talvez seja a única
cantora brasileira em cuja discografia se pode notar uma unidade do primeiro ao último disco", acredita Faour.
Na verdade, a unidade deriva
da diversidade. Como o próprio
Faour ressalta, Bethânia cantou peças tropicalistas sem se
filiar ao movimento; regravou
músicas da era de ouro de rádio
quando isso ainda era um anátema; fez discos conceituais e
acústicos nos anos 80, época
em que não havia essa moda e a
panacéia eram os sintetizadores -como hoje são os efeitos
eletrônicos, também dispensados pela cantora; elegeu novos
e antigos compositores de acordo com a sua preferência, não a
da indústria.
Podem-se questionar várias
opções de Bethânia, como o número excessivo de músicas de
Gonzaguinha, o número idem
de discos ao vivo, os pot-pourris que mutilam as músicas, algumas canções muito melosas,
mas é nítido que todas as opções foram dela.
Quando peitou a então Polygram (hoje Universal) e pediu
as contas em 93, recebeu como
contraproposta gravar um disco só com o repertório de Roberto e Erasmo Carlos. Exigiu
carta branca e fez um trabalho
tão bonito quanto popular
(quase 1 milhão de cópias).
"As Canções que Você Fez
pra Mim" ainda estava em catálogo, mas a maioria dos álbuns
do acervo da Universal, não. No
pacote, estão discos da fase
mais popular da cantora -de
"Álibi" (78) a "Alteza" (81)- e
outros pouco comerciais mas
de grande qualidade, como "Ciclo" (83), que é o preferido dela,
"Olho d'Água" (92) e o primeiro
que fez na gravadora, "A Tua
Presença" (71).
É um álbum marcado pelo
exílio de Caetano Veloso, que
mandou de Londres "Janelas
Abertas nš 2" e "A Tua Presença Morena". Aliás, os trabalhos
de Bethânia nos anos 70, como
os dois "Drama" (72 e 73) e "A
Cena Muda" (74), têm uma voz
política forte e inteligente, pois
não-panfletária.
Desse "A Tua Presença", fazem parte algumas das melhores gravações de sambas-canção feitas por Bethânia: "Olhe o
Tempo Passando" (Dolores
Duran/Edson Borges), "Folha
Morta" (Ary Barroso) e "Se eu
Morresse Amanhã" (Antonio
Maria).
Ela nunca deixou de cantar
esse gênero de música, e são vários os Lupicínios de sua discografia -mas Chico Buarque e
Caetano são definitivamente os
mais presentes.
Dos discos da época de Sony
BMG, o destaque fica por conta
da volta dos bons "Dezembros"
(86) e "Maria" (88), do distante
primeiro disco da cantora (gravado em 65) e da reunião dos
compactos em que ela, também
em 65, interpretou Noel Rosa
brilhantemente.
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