São Paulo, terça, 18 de agosto de 1998

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SMASHING PUMPKINS - OLYMPIA, 16/8
Billy Corgan promove 'rock anestésico'

Renata Freitas/Folha Imagem
Billy Corgan, dos Smashing Pumpkins, anteontem no show do Olympia


MARCELO OROZCO
do "Notícias Populares"

Com o show que fez no Olympia no domingo à noite, a banda norte-americana Smashing Pumpkins demonstrou a capacidade de conduzir ao mundo dos sonhos.
Só que esse efeito também pode ser obtido com leite morno, contagem de carneirinhos, tranquilizantes ou sofá com TV ligada.
Em 19 ou 20 músicas (depende se o longo solo dos três percussionistas é uma canção à parte), o grupo despejou sua grandiloquência, revezando climas depressivos e catárticos.
Em um momento, violão; em outro, guitarras altíssimas; em ainda outro, piano com aspirações clássicas ou de jazz dissonante. Até os momentos quietos foram bombásticos.
Isso gerou um torpor acumulativo, consumado já na metade do show. Mas Billy Corgan, o líder que faz tudo, defende o ideal de que sua banda não faz mais rock. Se ele mesmo diz, não há o que contestar.
A cada álbum, foi deixando os arranjos espalhafatosamente complexos e tirando o tutano do som, acreditando estar chegando a uma forma musical superior ao rock. Exatamente o que pensava a turma do rock progressivo nos anos 70.
Culmina com o novo álbum "Adore", que constituiu a maior parte do show.
Fora partes pesadas (como "Ava Adore" e "Bullet with Butterfly Wings") ou músicas com melodias curtas e definidas (as mais antigas "Tonight, Tonight" e "Today"), o espetáculo foi uma longa anestesia.
Na dose final, uma arrastada exibição de virtuosismo em que só faltou solo de respiração.
O nome "Transmission" e o verso "Dance, dance, dance to the radio" garantem que era uma cover da música do Joy Division, grupo inglês que soube transformar depressão em rock na virada dos 70 para os 80. Mas, sem essas pistas, não daria para dizer que é a mesma música.
E, apesar de levantar bandeira de tradutor de sentimentos profundos, Corgan não deixou de fazer sua média falando de Ronaldo e lamentando a derrota do Brasil na Copa do Mundo.
Difícil imaginar o abóbora-mor acompanhando futebol. Mas pode ser que, pelo menos, Corgan realmente se identifique com Ronaldinho.
Tanto pela cabeça raspada e feições de menino indefeso como pelos dois títulos de maior jogador do mundo.



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