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TELEVISÃO
Canal Brasil completa um ano
como grata surpresa da TV paga
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
Quando foi inaugurado, há um
ano, o Canal Brasil era visto como
uma espécie de gueto a que a Globosat confinava o cinema nacional, evitando o contágio com os
filmes "de verdade", estrangeiros.
Por várias razões, este primeiro
ano de existência contrariou essas
expectativas. A primeira delas é
que o Canal Brasil revelou, para
uma grande quantidade de espectadores, que o cinema brasileiro
tem muito mais filmes dignos de
estima (importantes ou informativos cinematográfica, histórica
ou socialmente) do que se supõe.
A segunda é que, ao fazer um
zapping, o espectador constata
que, na média, o Canal Brasil não
é tão inferior aos demais e, não raro, chega a ser superior.
A terceira é que, como a oferta
de filmes é limitada, a direção
conseguiu contornar o problema
sem abarrotar a grade de filmes,
mas mesclando-a com programas de música ou divulgação.
Isso não quer dizer que chegamos ao paraíso em um ano. Pelo
contrário. Exemplo: quanto mais
passa o tempo, mais o espectador
fica exposto a cópias imperfeitas,
decorrência, em parte, da má conservação de filmes no Brasil.
Além disso, se o Canal Brasil absorveu com desenvoltura a tétrica
tendência publicitária do cinema
americano, com pequenos programas chapa-branca sobre "bastidores de filmagens", continua
devendo programas informativos, regulares, que levem o espectador a conhecer a história de seu
cinema (técnicos, diretores, produtores, atores etc.).
O salto que se espera do Canal
Brasil passa um pouco por aí: que
esqueça de "fazer televisão" para
ter um papel realmente formador,
num país de cultura cinematográfica periclitante, assumindo o papel que, no passado, imaginou-se
que as cinematecas poderiam ter.
Por fim, apesar do nome, não
seria indesejável que o canal passasse a exibir filmes de cinematografias que raramente chegam a
nós e têm coisas significativas a
mostrar (argentina, mexicana,
cubana). Isso pode não garantir
uma programação "melhor", mas
ampliará seu repertório, hoje em
dia bastante ameaçado pela oferta
limitada de filmes que acaba gerando um excesso de reprises.
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