São Paulo, Sábado, 18 de Setembro de 1999
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TELEVISÃO

Canal Brasil completa um ano como grata surpresa da TV paga

INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema

Quando foi inaugurado, há um ano, o Canal Brasil era visto como uma espécie de gueto a que a Globosat confinava o cinema nacional, evitando o contágio com os filmes "de verdade", estrangeiros.
Por várias razões, este primeiro ano de existência contrariou essas expectativas. A primeira delas é que o Canal Brasil revelou, para uma grande quantidade de espectadores, que o cinema brasileiro tem muito mais filmes dignos de estima (importantes ou informativos cinematográfica, histórica ou socialmente) do que se supõe.
A segunda é que, ao fazer um zapping, o espectador constata que, na média, o Canal Brasil não é tão inferior aos demais e, não raro, chega a ser superior.
A terceira é que, como a oferta de filmes é limitada, a direção conseguiu contornar o problema sem abarrotar a grade de filmes, mas mesclando-a com programas de música ou divulgação.
Isso não quer dizer que chegamos ao paraíso em um ano. Pelo contrário. Exemplo: quanto mais passa o tempo, mais o espectador fica exposto a cópias imperfeitas, decorrência, em parte, da má conservação de filmes no Brasil.
Além disso, se o Canal Brasil absorveu com desenvoltura a tétrica tendência publicitária do cinema americano, com pequenos programas chapa-branca sobre "bastidores de filmagens", continua devendo programas informativos, regulares, que levem o espectador a conhecer a história de seu cinema (técnicos, diretores, produtores, atores etc.).
O salto que se espera do Canal Brasil passa um pouco por aí: que esqueça de "fazer televisão" para ter um papel realmente formador, num país de cultura cinematográfica periclitante, assumindo o papel que, no passado, imaginou-se que as cinematecas poderiam ter.
Por fim, apesar do nome, não seria indesejável que o canal passasse a exibir filmes de cinematografias que raramente chegam a nós e têm coisas significativas a mostrar (argentina, mexicana, cubana). Isso pode não garantir uma programação "melhor", mas ampliará seu repertório, hoje em dia bastante ameaçado pela oferta limitada de filmes que acaba gerando um excesso de reprises.


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