São Paulo, Sábado, 18 de Setembro de 1999
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FESTIVAL DO RIO

Ator e diretor norte-americano participou da abertura do evento, que vai exibir mais de 400 filmes

Dirigir é mais divertido, diz Whitaker


RONALDO SOARES
da Sucursal do Rio

Bastou sentir o gostinho de ficar atrás das câmeras, dirigindo quatro filmes -sendo uma produção para a TV- nos últimos seis anos, para Forest Whitaker, 38, assumir sua preferência pelo papel de "film-maker".
"Normalmente, dirigir é mais divertido. Atuar é até mais fácil, mas você fica só desenvolvendo o personagem", disse Whitaker, em entrevista à Folha.
Os fãs do ator norte-americano não precisam se preocupar, porque aquela figura robusta, cujo semblante exprime simultaneamente docilidade e desamparo, não vai sumir das telas.
Whitaker, que em sua carreira contabiliza participações em 38 filmes -entre eles "Bird" (1988), que o projetou mundialmente, "Prêt-à-Porter" (1994) e "Platoon" (1986)-, esclarece que o trabalho de diretor tem sido útil para ele se aperfeiçoar como ator.
"Quando estou atuando, depois de ter dirigido um filme, normalmente eu fico mais paciente com o que está acontecendo, porque tenho idéia do todo, sei tudo o que está acontecendo", afirmou.
Whitaker conversou com a Folha num hotel da zona sul do Rio anteontem, quando chegou à cidade para participar da abertura do Festival do Rio 99, mostra cinematográfica que vai exibir mais de 400 filmes até o final do mês.
Ele disse que, além de alternar trabalhos como diretor e ator, gosta de revezar participações em grandes produções com atuações em projetos alternativos, de menor orçamento.
"Eu venho tendo muita sorte, porque ultimamente tenho feito esse movimento de ida e volta (entre os dois tipos de produção). Antes de "Fenômeno" (1996), por exemplo, fiz "Cortina de Fumaça" (1995), e antes tinha feito "Traídos Pelo Desejo" (1992). Me sinto bem atuando tanto em grandes produções quanto em filmes independentes", disse.
Sua mais recente experiência no cinema se encaixa no segundo caso. Whitaker é o protagonista de "Ghost Dog - The Way of the Samurai", de Jim Jarmusch, filme escolhido para a abertura do Festival do Rio, realizada anteontem à noite.
No filme, Whitaker vive um matador de aluguel que age sob o código de ética dos samurais. O trabalho exigiu estudos de história da filosofia e de técnicas de meditação egípcia. Mas Whitaker está convencido de que o resultado foi satisfatório.
"O Jim (Jarmusch) me disse que gostou muito, que eu tenho o jeito dos personagens dele", contou o ator.
Os dois começaram a conversar sobre o projeto um ano antes do início das filmagens. Desde então, Jarmusch -que assumiu ter criado o personagem para Whitaker- passava até quatro horas discutindo detalhes do filme com Whitaker.
"É bom trabalhar com Jim porque ele conversa sobre o projeto com o elenco e a equipe", contou.
Ao ser questionado sobre a óbvia lembrança de Tarantino -pela combinação de elementos pop e de violência- suscitada por "Ghost Dog", o ator se saiu com uma declaração bem diplomática.
"Gosto muito dos filmes do Quentin, mas os filmes do Jim têm uma poesia diferente."
Extremamente simpático, Forest Whitaker não se abalou nem com o mau tempo no dia de sua chegada ao Brasil e fazia planos para "explorar o local". "Parece ser um lugar bastante impressionante. Pelo que vi da janela do carro, gostei muito", afirmou o ator, que jamais havia estado no Brasil.
Depois de dormir a manhã inteira, para se restabelecer das horas de vôo de Toronto ao Rio -com escala em Miami-, Whitaker era só empolgação. "Quero fazer algo, andar pelas ruas, ver pessoas", dizia, pedindo sugestões de programas pela cidade.
Num rápido passeio por um dos cartões-postais do Rio, a praia de Copacabana, Whitaker tomou água-de-coco num quiosque e achou melhor do que a que consome em Los Angeles, onde mora. "É menos doce. E o coco também é diferente, é verde, mais jovem do que o nosso, que é marrom."


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