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Um "fenômeno de sociedade"
DA REPORTAGEM LOCAL
"Vermelho Brasil" se tornou
hoje o que os franceses definem
como "um fenômeno de sociedade". Um acontecimento sustentado por milhares de exemplares
vendidos.
E como entender o sucesso? De
início, pela força do prêmio Goncourt (leia texto ao lado), que ocupa o privilegiado papel de mapa
para o público francês, que a cada
setembro percebe centenas de novos títulos nas livrarias do país.
O Goncourt é, então, isso, a recomendação rápida e precisa,
aquilo que o leitor, há quase cem
anos, conta como uma certeza: se
há a faixa vermelha sobre a capa
do livro, com o nome do prêmio,
o território é seguro, e a obra, "incontornável".
Mas Jean-Christophe Rufin ofereceu aos seus leitores franceses
um elemento a mais: um gênero
popular -o romance histórico, a
narrativa de aventura- com o selo de qualidade de uma premiação que deseja estar mais próxima
do público do que da crítica.
E se as pessoas querem aventura, Rufin a tem. Ela está presente
na descrição de um tempo e de
uma terra suficientemente exóticas para um europeu contemporâneo, mas não apenas isso. O risco e o perigo podem ainda estar
em outra parte. Curiosamente, na
própria trajetória do autor.
Quando Rufin foi premiado, a
imprensa francesa foi tomada por
um indisfarçável desejo de contar
suas aventuras. De que maneira
tinha ele viajado pelo mundo em
nome de uma boa causa, a inatacável ação humanitária em uma
parte da Terra na qual há livros de
menos, e tragédias demais.
E há ainda a vanguarda em luta
contra a tradição. No ano de sua
premiação, Rufin, simbolicamente, derrotou o escritor Alain Robbe-Grillet, que após sete anos de
ausência havia retornado ao romance com "La Reprise", que será lançado no Brasil em dezembro
pela editora Record.
Robbe-Grillet, um dos fundadores do movimento "Nouveau
Roman" (que em meados dos
anos 50 pretendeu livrar a literatura do desconforto do realismo),
é tido como um autor, por excelência, de vanguarda.
Mas, estranhamente, um boato
em Paris dizia estarem os membros da academia Goncourt prontos para fazer o impensável, dando a Robbe-Grillet o prêmio.
No dia do anúncio, as TVs mostraram ao vivo a declaração de vitória para Jean-Christophe Rufin.
Quando um repórter cobrou dos
jurados uma explicação sobre "La
Reprise", houve apenas um sorriso e a afirmação de tudo não ter
passado, "obviamente", de uma
piada. Mais um "round" nas letras francesas.
(MARCELO REZENDE)
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