São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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Um "fenômeno de sociedade"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Vermelho Brasil" se tornou hoje o que os franceses definem como "um fenômeno de sociedade". Um acontecimento sustentado por milhares de exemplares vendidos.
E como entender o sucesso? De início, pela força do prêmio Goncourt (leia texto ao lado), que ocupa o privilegiado papel de mapa para o público francês, que a cada setembro percebe centenas de novos títulos nas livrarias do país.
O Goncourt é, então, isso, a recomendação rápida e precisa, aquilo que o leitor, há quase cem anos, conta como uma certeza: se há a faixa vermelha sobre a capa do livro, com o nome do prêmio, o território é seguro, e a obra, "incontornável".
Mas Jean-Christophe Rufin ofereceu aos seus leitores franceses um elemento a mais: um gênero popular -o romance histórico, a narrativa de aventura- com o selo de qualidade de uma premiação que deseja estar mais próxima do público do que da crítica.
E se as pessoas querem aventura, Rufin a tem. Ela está presente na descrição de um tempo e de uma terra suficientemente exóticas para um europeu contemporâneo, mas não apenas isso. O risco e o perigo podem ainda estar em outra parte. Curiosamente, na própria trajetória do autor.
Quando Rufin foi premiado, a imprensa francesa foi tomada por um indisfarçável desejo de contar suas aventuras. De que maneira tinha ele viajado pelo mundo em nome de uma boa causa, a inatacável ação humanitária em uma parte da Terra na qual há livros de menos, e tragédias demais.
E há ainda a vanguarda em luta contra a tradição. No ano de sua premiação, Rufin, simbolicamente, derrotou o escritor Alain Robbe-Grillet, que após sete anos de ausência havia retornado ao romance com "La Reprise", que será lançado no Brasil em dezembro pela editora Record.
Robbe-Grillet, um dos fundadores do movimento "Nouveau Roman" (que em meados dos anos 50 pretendeu livrar a literatura do desconforto do realismo), é tido como um autor, por excelência, de vanguarda.
Mas, estranhamente, um boato em Paris dizia estarem os membros da academia Goncourt prontos para fazer o impensável, dando a Robbe-Grillet o prêmio.
No dia do anúncio, as TVs mostraram ao vivo a declaração de vitória para Jean-Christophe Rufin. Quando um repórter cobrou dos jurados uma explicação sobre "La Reprise", houve apenas um sorriso e a afirmação de tudo não ter passado, "obviamente", de uma piada. Mais um "round" nas letras francesas. (MARCELO REZENDE)


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