São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"A ODISSÉIA DE JACQUES COUSTEAU - A SÉRIE COMPLETA"

Caixa mergulha em encanto submarino

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Boa notícia para quem achava que assistir a um documentário produzido pelo mítico Jacques-Yves Cousteau (1910-1997) hoje seria só um exercício de nostalgia: as aventuras do marujo francês nunca foram tão atuais. E diversas delas acabam de ficar disponíveis numa coleção de seis discos lançada pela Warner.
A caixa reúne a série "A Odisséia de Jacques Cousteau", que estreou na TV americana em 1977. Nela, o oceanógrafo e seus filhos e colegas viajam por uma lista respeitável dos mares do planeta, do Mediterrâneo, onde Cousteau desenvolveu praticamente do zero a tecnologia para nadar com desenvoltura debaixo d'água, até o Pacífico, em volta da ilha de Páscoa.
E, falando na famigerada ilha, é difícil não achar que a equipe de Cousteau estava à frente de seu tempo ao apontar a degradação ambiental como causa número um para o colapso da civilização que a encheu de gigantescas estátuas de pedra. O mesmo vale para a frase da abertura do documentário em duas partes sobre o Nilo, que se refere à tecnologia "criando problemas maiores do que os que procura resolver". Alguém aí se lembrou da proposta de transposição do rio São Francisco?
Além dessa visão, que é engajada sem ser ecochata e aponta com clareza para o que está acontecendo hoje em escala global, Cousteau consegue misturar de forma magistral a vida animal e vegetal dos rios e mares com a vida humana -aquela com a qual as pessoas têm mais facilidade de se identificar. Poucas cenas são mais bonitas, por exemplo, do que a do pescador do Nilo que, por causa das águas turvas, nunca tinha visto os peixes que capturava nadando. Num piscar de olhos, a equipe monta uma piscina, empresta um snorkel para o pescador e ele descobre o mesmo mundo subaquático no qual os Cousteaus vivem.
Como são cientistas os autores dos filmes, até um tema aparentemente sensacionalista como a "Atlântida" ganha cores sóbrias e interessantes: perto de Creta, os mergulhadores passam a explorar a civilização minóica, que dominou o mar Egeu na Idade do Bronze. A mesma falta de pirotecnia aparece no tratamento dado aos "mistérios" da ilha de Páscoa.
Diversão à parte, o espectador brasileiro talvez se ressinta do pacote de filmes por não incluir a antológica jornada de Cousteau pela Amazônia, produzida separadamente. O maior problema, no entanto, é a absoluta falta de informações biográficas sobre Cousteau e sua equipe, bem como sobre o contexto no qual os documentários foram produzidos -para uma caixa com seis DVDs, faltou um pouco de capricho. Mas nada que tire o encanto do mundo submarino narrado com sotaque francês e visto com olhos de poeta-ambientalista.


A Odisséia de Jacques Cousteau - A Série Completa
   
Direção:
Jacques Cousteau (criador)
Distribuidora: Warner; R$ 130, em média


Texto Anterior: DVDs - Tubarão: Spielberg festeja 30 anos do marco do cinema americano
Próximo Texto: "Caixa Titanic": Britânico faz hábil filme-catástrofe
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.