São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

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"TUBARÃO"

Edição dupla reúne documentários e depoimentos sobre o filme

Spielberg festeja 30 anos do marco do cinema americano

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

A garota ruiva continua lá, toda animada. Em "Tubarão", era ela a primeira vítima do monstro, na seqüência de abertura. Corria em direção ao mar, trazendo atrás de si um rapaz meio bêbado. Ela tirava a roupa e entrava na água. O rapaz ficava de fora, sem forças, e caía dormindo na praia. Um instante depois...
Na edição comemorativa do 30º aniversário, ela parece tão animada quanto no filme, embora já quase uma senhora, explicando como fez a cena, quem a puxava, porque reagia daquele jeito.
A edição de 30 anos de "Tubarão" é aplicadíssima. De Steven Spielberg à loirinha, dos atores aos produtores e técnicos, todos têm algo a dizer sobre a complexa produção que marcaria para sempre o cinema contemporâneo.
A edição é em dois discos, um deles só de extras. No primeiro, o filme corre como conhecemos: como uma história de terror e de castração. Pois não será absurdo ver tudo o que se passa desde aquela noite como o sonho do jovem que, em vez de seguir a garota, dormiu na praia. No lugar da aventura sexual prometida, temos o inverso: um monstro mutilador.
O filme não se detém no tema (bem menos do que o notável "O Tubarão", que Howard Hawks fez em 1930, por exemplo), mas ele está lá: o perigo da castração ameaçando o xerife Roy Scheider, o oceanógrafo Richard Dreyfuss e o troglodita Robert Shaw.
Os extras trazem justificações estéticas para o trabalho. Por exemplo, Spielberg explica por que optou por fazer o tubarão atacar a menina por baixo, sem que o vejamos: tratava-se de, como Jacques Tourneur em "Sangue de Pantera", suscitar o terror pela força de sugestão, em lugar de investir no impacto do bicho aparecendo de boca aberta.
Outras explicações levam a entender por que o filme se baseia tanto na atmosfera. É que não se conseguia fazer o tubarão mecânico projetado funcionar. Que importa? Importa que o resultado ficou excelente, graças ao uso e abuso dos barris que permanecem na superfície, enquanto se espera que o tubarão suba à tona.
Outro momento muito interessante do documentário diz respeito ao relato das filmagens submarinas de tubarões reais, feitas por um casal de especialistas. Como os tubarões reais eram menores que o do filme, Spielberg usou o expediente de colocar um anão dentro de uma pequena jaula, criando uma falsa perspectiva.
O mais impressionante, no entanto, é o momento em que um tubarão se prende na pequena jaula (vazia) e reage enfurecido, incidente que pediu uma mudança no roteiro para acomodá-lo.
O filme em si continua forte como aventura e terror. Trata-se de uma história em que pouca coisa acontece, mas em que o sentido de atmosfera é profundo e mantém o espectador em atenção permanente. Um documentário feito na época, hoje um tanto desbotado, acrescenta mais dados (publicitários, em parte) e joga o espectador na intimidade de um dos filmes que definiram o perfil do cinema americano atual.


Tubarão - 30º Aniversário
    
Direção:
Steven Spielberg
Distribuidora: Universal; R$ 30



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