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"TUBARÃO"
Edição dupla reúne documentários e depoimentos sobre o filme
Spielberg festeja 30 anos do marco do cinema americano
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
A garota ruiva continua lá,
toda animada. Em "Tubarão", era ela a primeira vítima do
monstro, na seqüência de abertura. Corria em direção ao mar, trazendo atrás de si um rapaz meio
bêbado. Ela tirava a roupa e entrava na água. O rapaz ficava de fora,
sem forças, e caía dormindo na
praia. Um instante depois...
Na edição comemorativa do 30º
aniversário, ela parece tão animada quanto no filme, embora já
quase uma senhora, explicando
como fez a cena, quem a puxava,
porque reagia daquele jeito.
A edição de 30 anos de "Tubarão" é aplicadíssima. De Steven
Spielberg à loirinha, dos atores
aos produtores e técnicos, todos
têm algo a dizer sobre a complexa
produção que marcaria para sempre o cinema contemporâneo.
A edição é em dois discos, um
deles só de extras. No primeiro, o
filme corre como conhecemos:
como uma história de terror e de
castração. Pois não será absurdo
ver tudo o que se passa desde
aquela noite como o sonho do jovem que, em vez de seguir a garota, dormiu na praia. No lugar da
aventura sexual prometida, temos
o inverso: um monstro mutilador.
O filme não se detém no tema
(bem menos do que o notável "O
Tubarão", que Howard Hawks fez
em 1930, por exemplo), mas ele
está lá: o perigo da castração
ameaçando o xerife Roy Scheider,
o oceanógrafo Richard Dreyfuss e
o troglodita Robert Shaw.
Os extras trazem justificações
estéticas para o trabalho. Por
exemplo, Spielberg explica por
que optou por fazer o tubarão atacar a menina por baixo, sem que o
vejamos: tratava-se de, como Jacques Tourneur em "Sangue de
Pantera", suscitar o terror pela
força de sugestão, em lugar de investir no impacto do bicho aparecendo de boca aberta.
Outras explicações levam a entender por que o filme se baseia
tanto na atmosfera. É que não se
conseguia fazer o tubarão mecânico projetado funcionar. Que
importa? Importa que o resultado
ficou excelente, graças ao uso e
abuso dos barris que permanecem na superfície, enquanto se espera que o tubarão suba à tona.
Outro momento muito interessante do documentário diz respeito ao relato das filmagens submarinas de tubarões reais, feitas
por um casal de especialistas. Como os tubarões reais eram menores que o do filme, Spielberg usou
o expediente de colocar um anão
dentro de uma pequena jaula,
criando uma falsa perspectiva.
O mais impressionante, no entanto, é o momento em que um
tubarão se prende na pequena
jaula (vazia) e reage enfurecido,
incidente que pediu uma mudança no roteiro para acomodá-lo.
O filme em si continua forte como aventura e terror. Trata-se de
uma história em que pouca coisa
acontece, mas em que o sentido
de atmosfera é profundo e mantém o espectador em atenção permanente. Um documentário feito
na época, hoje um tanto desbotado, acrescenta mais dados (publicitários, em parte) e joga o espectador na intimidade de um dos filmes que definiram o perfil do cinema americano atual.
Tubarão - 30º Aniversário
Direção: Steven Spielberg
Distribuidora: Universal; R$ 30
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