São Paulo, sexta, 18 de setembro de 1998

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CRÍTICA
Filme é cinema-açougue

da Reportagem Local

Um capanga puxa a língua de um "alma sebosa" (sinônimo de bandido no Nordeste) e passa a peixeira sem piedade. Na sequência, joga a língua, ainda trêmula e nervosa, na areia quente.
O cinema-açougue do alagoano Benedito Fersan tem tudo o que deve ter um bom filme de ação norte-americano: conta direitinho uma história, segura pelo suspense, e os malvados morrem no "timing" correto -depois que o saco de pipoca já chegou ao fim.
"Sepulcro Caiado" é um faroeste político-naturalista sobre o coronelismo e a corrupção nos grotões do Nordeste. Embora se passe em um mundo bem "cabra da peste", a fita não tem nada de regional.
É um filme de suspense sobre a máfia, que revela a corrupção nas entranhas do Judiciário, da polícia, do poder político e até da igreja.
Jucupira, a pequena cidade nordestina onde se passa a confusão, poderia ser na Calábria ou nos arredores de Chicago. Só mudariam o sotaque e as expressões -"Oh, shit!" no lugar do "Oxente!", para usar um trocadilho cosmopolita.
De tanta esquisitice, cheiro de pólvora, tinta, ketchup e sacanagem familiar (o prefeito vive enrolado com "primas" e amantes), o filme acaba sendo divertido. E não provoca apenas o riso do escracho. Pega também pelo suspense.
A série de corpos que tombam acende o mistério natural sobre a autoria dos crimes. Morre "nego" de tudo que é jeito: faca, peixeira, porrada, enforcamento e tiro.
Em uma cena, um capanga sofre ao insistir em apertar o saco de "sangue" (tinta) dentro da camisa da vítima. São vários empurrões. Com o pé. Até que o plástico estoura e o bandido fica mais sujo que assaltante de "Cães de Aluguel".
Quem atende ao telefone em Jucupira ouve sempre uma voz tenebrosa. Trata-se de d. Capucho, um enigmático personagem que estaria (não vamos entregar o final) envolvido com os assassinatos.
Benedito Fersan ainda não tem recursos técnicos e financeiros, mas assimilou, até mesmo por osmose (ele é dono de locadora de vídeo), o suspense básico que fica no sangue quando vemos os "Vertigos" da vida e os horrores em geral de Roger Corman. (XICO SÁ)



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