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CRÍTICA
Filme é cinema-açougue
da Reportagem Local
Um capanga puxa a língua de um
"alma sebosa" (sinônimo de bandido no Nordeste) e passa a peixeira sem piedade. Na sequência, joga
a língua, ainda trêmula e nervosa,
na areia quente.
O cinema-açougue do alagoano
Benedito Fersan tem tudo o que
deve ter um bom filme de ação
norte-americano: conta direitinho
uma história, segura pelo suspense, e os malvados morrem no "timing" correto -depois que o saco
de pipoca já chegou ao fim.
"Sepulcro Caiado" é um faroeste
político-naturalista sobre o coronelismo e a corrupção nos grotões
do Nordeste. Embora se passe em
um mundo bem "cabra da peste",
a fita não tem nada de regional.
É um filme de suspense sobre a
máfia, que revela a corrupção nas
entranhas do Judiciário, da polícia,
do poder político e até da igreja.
Jucupira, a pequena cidade nordestina onde se passa a confusão,
poderia ser na Calábria ou nos arredores de Chicago. Só mudariam
o sotaque e as expressões -"Oh,
shit!" no lugar do "Oxente!", para
usar um trocadilho cosmopolita.
De tanta esquisitice, cheiro de
pólvora, tinta, ketchup e sacanagem familiar (o prefeito vive enrolado com "primas" e amantes), o
filme acaba sendo divertido. E não
provoca apenas o riso do escracho.
Pega também pelo suspense.
A série de corpos que tombam
acende o mistério natural sobre a
autoria dos crimes. Morre "nego"
de tudo que é jeito: faca, peixeira,
porrada, enforcamento e tiro.
Em uma cena, um capanga sofre
ao insistir em apertar o saco de
"sangue" (tinta) dentro da camisa
da vítima. São vários empurrões.
Com o pé. Até que o plástico estoura e o bandido fica mais sujo que
assaltante de "Cães de Aluguel".
Quem atende ao telefone em Jucupira ouve sempre uma voz tenebrosa. Trata-se de d. Capucho, um
enigmático personagem que estaria (não vamos entregar o final)
envolvido com os assassinatos.
Benedito Fersan ainda não tem
recursos técnicos e financeiros,
mas assimilou, até mesmo por osmose (ele é dono de locadora de vídeo), o suspense básico que fica no
sangue quando vemos os "Vertigos" da vida e os horrores em geral
de Roger Corman.
(XICO SÁ)
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