São Paulo, Segunda-feira, 18 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VÍDEO - LANÇAMENTOS
Revirando o baú da Mostra de SP


Chegam às locadoras filmes que brilharam em edições passadas do festival


"A MAÇÃ"

ERIKA SALLUM
da Reportagem Local

Há exatamente um ano, um filme dirigido por uma garota de 18 anos se tornou uma das coqueluches da Mostra de Cinema de São Paulo, ficando entre os mais bem votados pelo público do evento. A cineasta: a iraniana Samira Makhmalbaf, filha do conceituado diretor Mohsen Makhmalbaf, de "Gabbeh". O filme: "A Maçã".
Como é praxe em produções iranianas, esta também traz crianças como protagonistas. E, como acontece nos filmes de Makhmalbaf-pai, ficção e realidade se confundem a todo instante.
Vamos à sinopse: duas garotinhas de uma família pobre de Teerã, capital do Irã, passam 11 anos trancadas em casa pelos pais. Não apenas mais um caso de vítimas da crueldade e maus-tratos, as duas menininhas -que, por conta dos anos de confinamento, quase não sabem se comunicar- são fruto de um país turbulento, dominado por rígidas leis islâmicas.
A mãe, cega, não pode cuidar das filhas. O pai, um senhor sem recursos, com medo do que o "mundo lá fora" pode fazer com suas crias, opta por trancá-las, isolá-las de todo e qualquer estímulo exterior, condenando-as a uma espécie de morte em vida.
Até que os vizinhos denunciam a família, e as garotas viram manchete dos jornais locais. Aí é que entra Samira Makhmalbaf, uma jovem cuja vida e o cinema sempre se cruzaram, estrelando já aos 8 anos produções do pai.
Intrigada com a saga das duas crianças, Samira roubou alguns negativos de Mohsen e resolveu transformar a história em filme. Para o elenco, chamou os personagens reais, criando ali seu próprio "docudrama", numa clara influência do pai-cineasta, que já o fizera tão delicadamente no belo "Um Instante de Inocência".
Se o resultado pode não agradar totalmente -estamos falando aqui de uma estreante-, emociona demais. E ponto. Há, sem dúvida, defeitos, falta de "timing", falhas. Mas nada que tire a beleza das imagens e do roteiro, assinado por Mohsen, aqui mais no papel de professor e pai coruja.
Não há, ainda, como fugir da metáfora, tão presente na cinematografia iraniana, em que essas pobres garotinhas se transformam nas mulheres sem liberdade daquele país. Samira sabe bem o que isso quer dizer. E foi à luta.


Avaliação:    

Filme: A Maçã Diretor: Samira Makhmalbaf Produção: Irã, 1998, 86 min. Gênero: docudrama

Texto Anterior: Evento Folha: Febem domina debate sobre o livro "História das Crianças"
Próximo Texto: "Violência Gratuita"
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.