São Paulo, Segunda-feira, 18 de Outubro de 1999
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VIOLÊNCIA GRATUITA

BRUNO GARCEZ
da Redação

A sinopse de "Violência Gratuita" pode induzir a pensar que se trata de um arremedo austríaco de "Sexta-Feira 13": dois jovens psicopatas entram na casa de uma família e a torturam física e psicologicamente. Mas "Violência Gratuita" não tem nem a boçalidade nem a trama adolescente da série trash norte-americana.
O filme de Michael Haneke, exibido na edição de 97 da Mostra de São Paulo, perturba, justamente pelo que sugere e não pelo que expõe. Não é a ação dos garotos sádicos que está em primeiro plano, mas sim a discussão sobre o fascínio pela violência e a forma como ela é banalizada pela mídia.
A fim de ilustrar essas idéias, o filme se vale de recursos metalinguísticos que são a um só tempo engraçados e, por isso mesmo, profundamente incômodos.
Caso de quando um dos assassinos dá uma piscada para a câmera ou ainda quando diz que aquele não é o momento de eles abandonarem a casa, pois, caso o fizessem, o espectador se sentiria decepcionado. Haneke deixa claro que o espectador não é um ente passivo, mas um cúmplice.
Se o que ele busca é um desenlace trágico, sangrento, ele o terá. Mesmo que para isso um dos assassinos tenha de "rebobinar" o filme a que o público assiste.
Curiosamente, a violência tornada fake nos "Jogos Engraçados" de Haneke -título original e muito mais feliz do que a tradução brasileira- é infinitamente mais assustadora do que a dos Jasons da vida. Estes visam uma catarse de efeito rápido. Com o filme de Haneke é diferente, as sequelas são duradouras.

Avaliação:     

Filme: Violência Gratuita Diretor: Michael Haneke Produção: Áustria, 1997, 103 min Gênero: thriller psicológico

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