São Paulo, Segunda-feira, 18 de Outubro de 1999
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"A VIDA DE JESUS"

RODRIGO DIONISIO
da Redação

Freddy é um rapaz de uma cidade pacata e isolada do interior da França. Epilético, desempregado e dependente do seguro social, enfrenta seu calvário pessoal entre crises da doença, exames intermináveis e flagelações que se impõe, pulando da moto em movimento ou chutando paredes.
Sua mãe, a dona da taverna local, enfrenta o mundo pela TV, com a máxima de "se posso ver na televisão, aqui de casa, por que vou até lá?". Do pai não há notícias, não fica bem claro se morreu ou se simplesmente sumiu.
A namorada de Freddy, Marie, trabalha como caixa de um supermercado e vive com ele um relacionamento baseado em sexo. Pouco papo e muita ação, nada de planos, nada de considerações românticas ou filosóficas.
Os amigos do nosso herói também não têm muito a dizer. Passam os dias andando de moto, tomando sol um ao lado do outro ou passeando de carro, mudos a maior parte do tempo.
O elemento estranho na trama toda é o filho de árabes Kader, que resolve assediar Maria e desperta o ódio de Freddy, com consequências trágicas.
Em linhas gerais, esses são os personagens do filme "A Vida de Jesus", que esteve na 21ª Mostra Internacional de São Paulo, 1997. Ganhou o prêmio do júri no evento, mas não diz muito bem a que veio, além de perder parte da força no vídeo, com as incômodas tarjas pretas, que simulam o formato da tela de cinema, no alto e no pé da tela da televisão.
A tentativa de recontar passagens bíblicas já foi muito melhor executada pelas mãos européias de Krzysztof Kieslowski (na série "Decálogo" e nos longas "Não Amarás" e "Não Matarás") e de Jean-Luc Godard (em "Je Vous Salue, Marie"). O filme do francês Bruno Dumont fica bem mais próximo do norte-americano "Kids", de Larry Clark.

Avaliação:   

Filme: A Vida de Jesus Diretor: Bruno Dumont Produção: França, 1997, 96 min Gênero: drama


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