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Crítica/"Fay Grim"
Em continuação, Hal Hartley faz paródia "cool" de thriller
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Fay Grim" é uma espécie de continuação, dez anos depois, do sucesso independente
"Confissões de Henry Fool",
que em 1998 ganhou o prêmio
de roteiro em Cannes e deu a
Hal Hartley renome internacional. Os personagens são os
mesmos do filme anterior, mas
uma torção da história faz tudo
mudar de registro e de gênero.
Eis, em três parágrafos, um
resumo possível do imbróglio.
No Queens, Nova York, a mãe
solteira Fay Grim (Parker Posey) vê-se às voltas com um filho problemático, que acaba de
ser expulso do colégio depois
de ter mostrado aos colegas (e
principalmente às colegas) um
brinquedinho que exibe imagens pornográficas. Ela teme
que o garoto siga os passos do
pai, Henry Fool (Thomas Jay
Ryan), que está desaparecido e
foragido da polícia.
O irmão de Fay, o escritor Simon Grim (James Urbaniak),
cumpre pena na cadeia por ter
facilitado a fuga de Fool. O FBI
acossa Fay por suspeitar que os
manuscritos da autobiografia
de Fool contêm mensagens cifradas a ser usadas por terroristas muçulmanos, com os quais
ele teria se envolvido. Segundo
os policiais, Fool está morto.
Forçada a colaborar com as
investigações do FBI e da CIA,
Fay vai a Paris e a Istambul, onde se envolve com gente misteriosa de todos os tipos de organização e passa a desconfiar
que Henry Fool esteja vivo.
Nessa paródia dos filmes de
espionagem, as próprias imagens supostamente obscenas
(que nunca vemos) do brinquedinho do filho de Fay revelam-se, elas próprias, mensagens
críticas, enviadas anonimamente pelo correio. Há aqui um
jogo incessante de fundos falsos e pistas que não levam a lugar nenhum.
Ousadia
A crítica norte-americana,
zelosa pela integridade dos gêneros narrativos, de um modo
geral torceu o nariz para o filme
de Hartley. Dá para entender.
"Fay Grim" distende, pelo exagero rocambolesco e pelo distanciamento irônico, a gravidade tensa dos thrillers de espionagem, sem no entanto cair na
sátira desbragada de um
"Johnny English", um "Austin
Powers" ou um "Agente 86".
Além disso, ousa mostrar terroristas islâmicos como gente de
carne, osso, inteligência e boas
intenções.
Pode-se encarar os enquadramentos ligeiramente inclinados de Hartley, bem como os
letreiros "godardianos" inseridos aqui e ali, como cacoetes de
um certo cinema independente
americano, feito mais de pose
"cool" do que propriamente de
invenção.
Mas vale mais a pena relaxar
e se divertir com as tiradas surpreendentes do policial vivido
por Jeff Goldblum ou com as
trapalhadas da espiã acidental
Fay Grim, que entre outras coisas guarda o celular no modo
vibratório junto à virilha e, cada
vez que recebe uma ligação,
quase tem um orgasmo.
FAY GRIM
Direção: Hal Hartley
Produção: EUA, 2007
Com: Parker Posey, James Urbaniak,
Thomas Jay Ryan, Jeff Goldblum
Quando: amanhã, às 17h20, no Reserva
Cultural 1; sábado, às 22h30, no
Unibanco Arteplex 2; e dia 31,
às 17h20, no HSBC Belas Artes 2
Avaliação: bom
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