São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

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32ª MOSTRA DE SP

Análise

Retrospectiva lembra faces de Bergman

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O nome Ingmar Bergman (1918-2007) evoca um cinema grave, de dramas metafísicos e morais.
Mas essa imagem, cristalizada a partir dos grandes "psicodramas" dos anos 70 ("Cenas de um Casamento", "Sonata de Outono" etc.), esconde uma filmografia de múltiplas faces, conforme se pode conferir na retrospectiva dedicada ao cineasta pela 32ª Mostra de Cinema de São Paulo.
Entre os 12 títulos programados estão alguns clássicos absolutos de Bergman, como o alegórico "A Hora do Lobo" (1968) e o autobiográfico "Fanny e Alexander" (1982), mas há também obras que revelam facetas menos conhecidas do diretor, como o humor, a crônica de costumes, a metalinguagem.
"Crise" (1946), primeiro filme dirigido por Bergman, exibido hoje, na Cinemateca, às 19h10, poderia ser visto como um exemplar de neo-realismo nórdico, não fosse já a presença de certas obsessões do autor, em especial a angústia com o sentido da vida (ou a falta dele) num mundo sem Deus.
Mas a forma é quase a de um melodrama social. Num lugarejo de província, a mãe de uma mocinha chega de repente para levá-la a Estocolmo, onde ela conhecerá a efervescência urbana, mas também o desencanto e a corrupção moral.
Também em "Sede de Paixões" (1949) e "Rumo à Alegria" (1950), o tema metafísico se conforma à estrutura do drama psicológico realista. Já nesses primórdios, Bergman tem predileção por personagens que são artistas frustrados, como os músicos de "Rumo à Alegria" e a bailarina de "Sede de Paixões".
Músicos que deixaram seus instrumentos de lado e foram viver no campo, até que a guerra viesse virar suas vidas e suas almas do avesso, estão em "Vergonha" (1968), estrelado por dois atores-fetiches de Bergman, Liv Ullmann e Max von Sydow. É, ao lado de "A Hora do Lobo", uma de suas alegorias mais terríveis sobre os desencontros entre artista e mundo.
Um dos longas mais surpreendentes do lote é "Prisão" (1949), com seu filme dentro do filme, sua narração em primeira pessoa e seu distanciamento irônico. Não apenas pela metalinguagem, mas também pela força das seqüências oníricas, "Prisão" faz pensar em Fellini.

Veja a progração completa
guia.folha.com.br/cinema/32mostra



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