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32ª MOSTRA DE SP
Análise
Retrospectiva lembra faces de Bergman
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O
nome Ingmar Bergman (1918-2007) evoca um cinema grave, de
dramas metafísicos e morais.
Mas essa imagem, cristalizada a partir dos grandes "psicodramas" dos anos 70 ("Cenas
de um Casamento", "Sonata de
Outono" etc.), esconde uma filmografia de múltiplas faces,
conforme se pode conferir na
retrospectiva dedicada ao cineasta pela 32ª Mostra de Cinema de São Paulo.
Entre os 12 títulos programados estão alguns clássicos absolutos de Bergman, como o alegórico "A Hora do Lobo" (1968)
e o autobiográfico "Fanny e
Alexander" (1982), mas há também obras que revelam facetas
menos conhecidas do diretor,
como o humor, a crônica de
costumes, a metalinguagem.
"Crise" (1946), primeiro filme dirigido por Bergman, exibido hoje, na Cinemateca, às
19h10, poderia ser visto como
um exemplar de neo-realismo
nórdico, não fosse já a presença
de certas obsessões do autor,
em especial a angústia com o
sentido da vida (ou a falta dele)
num mundo sem Deus.
Mas a forma é quase a de um
melodrama social. Num lugarejo de província, a mãe de uma
mocinha chega de repente para
levá-la a Estocolmo, onde ela
conhecerá a efervescência urbana, mas também o desencanto e a corrupção moral.
Também em "Sede de Paixões" (1949) e "Rumo à Alegria" (1950), o tema metafísico
se conforma à estrutura do drama psicológico realista.
Já nesses primórdios, Bergman tem predileção por personagens que são artistas frustrados, como os músicos de "Rumo à Alegria" e a bailarina de
"Sede de Paixões".
Músicos que deixaram seus
instrumentos de lado e foram
viver no campo, até que a guerra viesse virar suas vidas e suas
almas do avesso, estão em "Vergonha" (1968), estrelado por
dois atores-fetiches de Bergman, Liv Ullmann e Max von
Sydow. É, ao lado de "A Hora do
Lobo", uma de suas alegorias
mais terríveis sobre os desencontros entre artista e mundo.
Um dos longas mais surpreendentes do lote é "Prisão"
(1949), com seu filme dentro do
filme, sua narração em primeira pessoa e seu distanciamento
irônico. Não apenas pela metalinguagem, mas também pela
força das seqüências oníricas,
"Prisão" faz pensar em Fellini.
Veja a progração completa
guia.folha.com.br/cinema/32mostra
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