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Banda funciona como uma grande empresa
Músicos do grupo cearense Aviões do Forró possuem carteira de trabalho,
recebem férias e 13º salário; no Maranhão, já reuniram 100 mil em show
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não podemos esperar que a
venda de discos alavanque uma
banda. A estratégia hoje é em
cima de divulgação em massa,
distribuindo CDs." A frase é de
Savyo Maia, produtor da banda
Aviões do Forró, e resume a tática que transformou o grupo
em um dos nomes mais populares da música brasileira.
Outra característica do
Aviões do Forró: é propriedade
de um grupo de empresários. A
A3 Entretenimento, com sede
em Fortaleza, é dona de duas
emissoras de rádio, seis casas
de shows e, além do Aviões,
controla os grupos Forró do
Muído, Solteirões do Forró,
Forró dos Plays e Forró Real.
Os músicos desses grupos assinam um contrato de trabalho
com a empresa: possuem carteira de trabalho, recebem salário mensal, férias, 13º salário...
"Funciona de acordo com a
legislação trabalhista. Se tiver
que demitir um músico, ele recebe aviso prévio, por exemplo,
como se fosse uma empresa
normal", afirma Carlos Aristides, um dos sócios da A3 -os
outros são Isaías Duarte (também conhecido como Isaías CD
porque ele tem a mania de rodar com seu carro distribuindo
discos gratuitamente), André
Camurça e Claudio Melo (leia
texto nesta página).
Todo mês, a A3 fabrica 50 mil
CDs do Aviões do Forró. Esses
discos são entregues gratuitamente aos fãs nos shows ou nas
ruas -a banda tem dois divulgadores que percorrem diariamente as ruas de Fortaleza e de
outras cidades com centenas de
CDs no porta-malas.
O investimento nos CDs (o
grupo tem sete discos, além de
um DVD) é revertido com a receita obtida com a venda de ingressos nos cerca de 20 shows
que a banda faz, em média, por
mês (em junho, época das festas juninas, não é incomum estrelarem 40 apresentações).
Em cada show, o Aviões recebe por volta de 15 mil pessoas
-o grupo já reuniu 100 mil pessoas em São Luiz (MA). Já tocaram em todos os Estados do
país e foram escalados para o
próximo Réveillon da Paulista,
em São Paulo. No ano que vem,
adicionam aos EUA países como Portugal, Espanha e Suíça
na agenda internacional.
"É um outro sistema. O princípio é diferente do da indústria
fonográfica", avalia o veterano
produtor Pena Schmidt.
"O disco funciona para construir uma imagem. Além disso,
no Ceará, há esse conceito de se
investir em bandas como se investe em um empreendimento
comercial. Os músicos são funcionários da empresa, toda a infraestrutura é administrada de
forma profissional. Há esquema de divulgação complexo."
Casal de vocalistas
"O Aviões toca forró e ponto.
Podem chamar de forró eletrônico, forró moderno ou o que
for, sei que devemos tudo isso
ao rei Gonzagão, a Jackson e
seu pandeiro e a todos os que
trabalharam para chegarmos
até aqui", diz o vocalista Xandy,
que antes de virar Xandy Avião
cantava em pequenos bares do
Ceará e Rio Grande do Norte
(ele é de Apodi, no RN).
A companheira de Xandy nos
vocais do Aviões é Solange Almeida, que cantava profissionalmente em outros grupos.
"Era um casal que ninguém
apostava. Não eram bonitinhos, eram até gordinhos, mas
cantam muito bem", diz Savyo
Maia. A dupla foi recrutada pelos sócios da A3, que desejavam
formar a maior banda do Brasil.
O nome do grupo foi criado
com a pretensão de remeter a
algo grande, "que está por cima", de acordo com os empresários. "Além de fazer referência a mulheres bonitas."
A equipe do Aviões do Forró
é formada por 42 pessoas, entre
músicos, dançarinas e técnicos.
Viajam pelo país em dois ônibus customizados.
Originalidade
No universo do forró, você
sabe que uma música está fazendo sucesso quando ela é tocada por diversas bandas. Foi o
que aconteceu com "Você Não
Vale Nada Mas Eu Gosto de Você", tema da personagem de Dira Paes na novela "Caminho
das Índias". Composta por
Dorgival Dantas, a música é tocada por infinitos grupos -mas
muitos pensam que é original
do Aviões do Forró.
A estratégia de distribuir gratuitamente CDs foi crucial para
a popularização do grupo. André Camurça, da A3, diz que outros fatores contribuíram:
"A banda inovou ao contar
com um casal de vocalistas,
porque as bandas costumam
ter vários vocalistas. E a própria batida musical é diferente.
Eles começaram dentro do estilo forró vaneirão, que é típico
do Sul do Brasil [leia texto abaixo], mas hoje fazem forró pé de
serra, romântico. Não copiaram ninguém".
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